Em entrevista ao Suno Notícias, a economista Zeina Latif, Consultora da Gibraltar e ex-economista-chefe da XP Investimentos, deixou claro sua aliança com o pré-candidato à Presidência da República, João Doria (PSDB). Destacou a necessidade de um novo mandato que seja reformista e tenha enfoque na condução econômica – o que ela avalia que o governo federal não conseguiu fazer.
“Há técnicos alinhados à abertura de mercado, mas isso ‘bate’ com as limitações políticas de dentro do próprio governo. O próprio desinteresse do Executivo em alguns temas, como a abertura do comércio, reforma administrativa e outros tema, é um exemplo. Estamos estagnados e a agenda econômica precisa ser mais ambiciosa”, afirma Zeina Latif.
A economista destacou que o teto de gastos ‘funcionou muito bem’, mas que o governo teve oportunidade de alinhar os gatilhos para furar o teto. “Não funcionou. Vimos que a PEC dos Precatórios burlou a regra do teto. Isso já foi sinal de um governo não comprometido com a saúde fiscal do país”.
Se for ministra, Zeina quer ‘reafirmar a regra do teto’, revendo ‘políticas públicas ineficientes e perversas aos cofres públicos’.
Com inflação ainda de dois dígitos e alta dos combustíveis, a especialista lembra que o Real descolou muito do páreo internacional – o que considera o principal driver para a pressão sobre os preços.
O panorama, diz, afasta os investidores estrangeiros. A avaliação é de que o governo produziu muitos ruídos e tem uma falta de compromisso, que interfere na variação cambial.
“A parte principal se resolve com política econômica, afinal isso faz o câmbio recuar e, daí, tiramos a pressão sobre os preços. Essa discussão sobre fundos impacta parâmetro nos royalties dos estados. Agora, claro, essa discussão é possível. Só não acho que possamos interferir na política de preços da Petrobras (PETR4).”
Está no Congresso uma discussão para que se autorize o governo federal a reduzir ou zerar os impostos federais para gasolina, diesel e energia elétrica de forma temporária, em momentos de crise. Seria criado um fundo para aliviar a alta dos preços.
O debate volta à tona em meio à alta da inflação puxada especialmente pela gasolina, que ultrapassa os R$ 7 em diversos postos.
Zeina Latif: não é hora de privatizar a Petrobras
Apesar das críticas ao governo, a economista destaca que foi importante a volta das privatizações ao centro do debate público, e que o governo tratou os processos como sendo ‘tarefas administrativas’.
“Temos que pensar se as empresas em questão estão produzindo e entregando ou que deveriam ou não. Além disso, temos que avaliar o quanto isso impactaria na redução da dívida pública. Diminuir o risco fiscal, da mesma forma, é muito interessante. Um terceiro critério é o quão maduro está o debate sobre aquela privatização”, afirma Zeina Latif.
“Minha avaliação sobre a Petrobras é que não há um debate suficientemente maduro. Tem muita coisa para fazer com outras empresas que não dariam tantas manchetes de jornal”, acrescenta.
O principal motivo, segundo a ela: é necessário um estudo que justifique um custo-benefício de vender a estatal.
Afirma que uma das prioridades deve ser a reforma tributária, já que ela deve ser uma das mais importantes para a atratividade do Brasil.
Zeina afirma acreditar em uma “qualidade de ação estatal”, já que o país possui uma carga tributária “tremenda” e uma economia repleta de distorções com um gasto público mal alocado.
“Precisamos melhorar a qualidade da gestão; garantir que quem recebe o benefício é, realmente, quem precisa. É possível fazer isso, essa questão da qualidade da ação estatal é a mais importante. Mas não há dúvidas de que há muito peso do Estado”, analisa.
Visão de Lula sobre reformas é equivocada
Após ex-integrantes do Ministério da Economia e nomes cotados para a equipe econômica do ex-presidente Lula virem a público falar sobre a revisão de reformas passadas – como Guido Mantega, em artigo na Folha de S. Paulo -, Zeina, acredita haver um “retrocesso” nesse aspecto.
“Eu entendo que isso seria um tremendo retrocesso. Precisamos do contrário, justamente de um governo reformista. Nós tivemos um governo do FHC extremamente reformista, o qual devemos o ambiente minimamente estável, e o governo Lula que deu alguma continuidade às políticas. Ficamos 10 anos sem reformas após o mensalão”, analisa Zeina Latif.
A avaliação é de que a condução econômica desse aspecto por parte do governo do ex-presidente Michel Temer (MDB) foi ‘na direção correta’.
Apesar disso, observa que há dificuldades inerentes por causa da aprovação política e fala que ‘não existe reforma ideal’. “Precisamos reconhecer que existem ajustes a ser feitos. Precisamos andar para frente, não desfazer o que funcionou”, afirma.
Ministro liberal terá que negociar mais
Após ser indagada sobre o encurtamento da trincheira por parte da equipe econômica do Planalto – que atualmente cede ao Congresso em diversas situações e já sofreu com debanadas de técnicos -, Zeina afirmou que “restrições políticas” são comuns e precisam ser entendidas.
“É muito importante que o presidente tenha um apelo reformista, o que não era o caso do presidente Bolsonaro, na minha visão. Tem momentos de uma proposta ser em uma direção e a decisão política ser outra; faz parte da vida“, afirma.
“Se eu não acreditasse no compromisso de João Doria para essa agenda, não aceitaria o convite para integrar a sua equipe”, completa Zeina Latif.