Para alguns, a Weg (WEGE3) é a queridinha da Bolsa. E não é por menos: nos últimos 12 meses, as ações da empresa sediada em Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, retornaram aos investidores quase 200%, enquanto no mesmo período o Ibovespa cai cerca de 6%. Porém, tudo que sobe, pode cair. Esse é o caso da Weg? Ainda vale a pena comprar as ações da empresa?
Por ora, a Weg vem justificando a confiança. No terceiro trimestre deste ano, a companhia registrou um lucro líquido de R$ 644,24 milhões, uma alta de 54% sobre o mesmo período do ano passado. Foi o melhor trimestre na história da companhia — mesmo em meio à pandemia do novo coronavírus (Covid-19), que paralisou a economia global.
Pelo contrário, a valorização do dólar frente o real (de 40% nos últimos 12 meses) beneficiou a empresa, em função da forte presença no mercado externo, principal contribuição para a receita da empresa no período. Alguns dos principais destinos da Weg são Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra e França — ao todo, as exportações alcançam 55 países.
Em linhas gerais, a Weg é uma companhia global de equipamentos eletroeletrônicos, considerada referência em inovação e desenvolvimento de soluções em seu mercado. A atuação se dá em quatro frentes de negócios:
- Equipamentos eletroeletrônicos industriais (motores elétricos, automação e painéis de controle);
- Equipamento de geração, distribuição e transmissão de energia (alternadores, turbinas, sustações, transformadores);
- Tintas e vernizes especializados para a indústria;
- Motores elétricos de uso doméstico.
“A melhora na demanda por equipamentos de ciclo curto ocorreu em todas as áreas de negócios, ainda que em ritmos diferentes entre elas”, diz o balanço. A companhia já informou que a carteira de ciclo longo para 2021 é saudável e que carteira de 2020, que iniciou o ano “robusta”, será entregue.
A questão que fica para o mercado é se tais resultados são recorrentes. Oras, por mais que a empresa tenha um CAGR de cinco anos de 11,23% em receitas e 11,15% em lucros, atualmente negocia a 83 vezes os lucros, com o indicador EV/Ebitda na casa de 69, múltiplo considerado esticado para alguns. O Goldman Sachs concorda, mas prefere observar a rentabilidade do negócio.
Vale ressaltar que essa matéria não configura uma recomendação de investimento.
Diferença entre rentabilidade e custo de capital
Em relatório divulgado, o Goldman Sachs destacou, após os resultados do terceiro trimestre, que a relação entre o valor de firma (que leva em consideração o valor de mercado, ativos e passivo da companhia) e o capital investido da Weg está em 15,4 vezes na estimativa para 2021.
Entretanto, segundo a instituição, o spread entre o Retorno Sobre o Capital Investido (ROIC) e o WACC da empresa também está “muito elevado” para o período. Entre julho e setembro, a Weg apresentou o maior ROIC de sua história, de 23,3%, alta de 4,1 pontos percentuais em relação ao mesmo período de 2019.
Por mais que entendam o ótimo momento da companhia, renovando bons resultados, os analistas Bruno Amorim, Osmar Camilo e Joao Frizo, que assinam o relatório do Goldman Sachs, permaneceram reticentes com o preço de tela da Weg.
A instituição estadunidense permanece com a recomendação neutra para os papéis, com um preço-alvo de R$ 55,90 — equivalente a um downside de 33%, com base na cotação atual.
Existem empresas boas, ótimas e a Weg (para o BofA)
Após o último balanço da empresa, o Bank of America (BofA) abriu exatamente assim o seu relatório: “Existem atualmente no mercado empresas boas e ótimas. E existe a Weg”.
O banco elevou o preço-alvo das ações da empresa R$ 75 para R$ 90, argumentando que, não somente as expectativas para o terceiro trimestre foram superadas, mas a Weg ainda tem fôlego para repetir o desempenho.
Segundo os analistas Murilo Freiberger e Gustavo Tasso, a fabricante de equipamentos industriais está aproveitando a combinação de exposição ao mercado de energia solar, a retomada de bens de capital no País e uma execução acima da média da estratégia operacional, tudo isso sobre uma demanda reprimida.
O fato de os papéis estarem negociando em múltiplos altíssimos para as estimativas de 2021 não é motivo para que o BofA adote uma postura receosa com a companhia, salientaram os analistas. Eles lembraram que o crescimento médio anual da receita da Weg na última década foi de quase 15%, mesmo com a economia em recessão em 2015 e 2016.
“Nós acreditamos que esta avaliação é justificável pela exposição às tendências disruptivas [do mercado de bens de capital], pela primorosa execução [da estratégia], escassez de valor e o bom momento dos resultados”, diz o relatório.
BTG Pactual insiste que ações estão caras — mas não tira o pé do acelerador
Indo de forma contrária ao mainstream do mercado, o BTG Pactual (BPAC11) mostra-se receoso com as ações da Weg — mas isso não fez com que o banco de investimento deixasse de elevar em mais de 70% o seu preço-alvo para os papéis da companhia.
Após o terceiro trimestre, o BTG atribuiu um target de R$ 90 para as ações da companhia, frente a uma projeção anterior de R$ 52. A instituição, entretanto, mantém a recomendação neutra. “As qualidades de Weg e sua sólida tese de investimento são abundantes, no entanto, nossa análise mais aprofundada nos leva a manter uma abordagem conservadora em relação ao valuation”, diz o relatório.
Ainda antes da divulgação do balanço, os analistas Lucas Marquiori, Fernanda Recchia e Ricardo Cavalieri já haviam dito que as ações estavam “inegavelmente caras”, e voltaram a questionar a metodologia utilizada para a precificação da empresa.
Todavia, o BTG disse que todas as estimativas foram ultrapassadas pelos números no trimestre, fazendo com que “reconhecessem o momentum operacional, que vem provando-se mais forte do que o esperado”. A instituição continua a projetar uma reação positiva dos papéis no curto prazo.
Weg: fábrica de bilionários
A Forbes divulgou, em setembro deste ano, os mais novos brasileiros que ultrapassaram a marca de R$ 1 bilhão em patrimônio neste ano. No total, 33 nomes entraram na lista e uma curiosidade entre eles: 10 são acionistas da Weg.
Os estreantes do ranking herdaram participações acionárias deixadas pelos fundadores Werner Ricardo Voigt, Eggon João da Silva e Geraldo Werninghaus (Weg é um acrônimo dos nomes dos criadores da fabricante). Como os papéis decolaram nos últimos meses, o bolso dos familiares foi beneficiado.
Ao todo, 13 bilionários brasileiros estão ligados à companhia, que agora representa a instituição privada com mais nomes na lista da Forbes. A soma da fortuna dos 13 é de aproximadamente R$ 87,64 bilhões.
A Weg, além de mostrar resiliência em um contexto conturbado economicamente, vem anunciando uma forte diversificação da sua operação, garantindo boas carteiras de ciclo curto e longo, com foco em tecnologia, incluindo conceitos de inteligência artificial.
Segundo Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos, em entrevista ao SUNO Notícias, mesmo em meio à pandemia, “vemos o ciclo da Weg se recuperando na Europa, e devemos observar uma normalização em 2021”.
Para o curto prazo, o analista entende que o patamar desvalorizado do real frente ao dólar também continuará impulsionando os ativos da empresa, assim como os dados de PMIs industriais, sobretudo europeus, que demonstram sinais de melhora. Assim, para ele, Weg ainda vale a pena, uma vez que a corretora mantém em suas carteiras os papéis da empresa no patamar atual.
Já para Felipe Tadewald, especialista em renda variável da SUNO Research, “os resultados da Weg estão sendo muito impactados positivamente pelo dólar. Eventualmente, se o dólar se desvalorizar de forma mais intensa, a Weg pode sim ter grande impacto nas suas receitas e resultados”.
Segundo ele, para que os múltiplos da Weg retornem aos patamares medianos dos últimos cinco anos, a empresa teria que multiplicar seus lucros por 3,5 vezes, fazendo com que o Preço/Lucro atinja a marca de aproximadamente 24,5.
A grande dúvida que paira sobre o mercado é se ainda vale a pena comprar as ações da empresa (e se ela vai continuar formando bilionários Brasil a fora). Porém, nem as grandes instituições financeiras entram em consenso sobre o tema.
Segundo Benjamin Graham, mentor do megainvestidor Warren Buffett, em seu livro “O Investidor Inteligente”, pode ser considerado investimento “aquele que, após análise profunda, promete a segurança do principal e um retorno adequado”.
O investidor, uma vez coberto pela margem de segurança de sua análise, deve tomar decisões racionais, que o protejam do risco de perda permanente de capital, mas que propiciem um retorno adequado. Ele deve ser diligente com o próprio dinheiro — e a SUNO Research pode ajudar com isso. No entanto, vale lembrar que, como tudo que sobe pode cair, não significa que não possa subir ainda mais, e com a Weg não é diferente.
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