Por que Wall Street chegou na máxima ignorando o caos político nos EUA
O ataque ao Capitólio foi um terremoto para as instituições políticas em Washington, mas não para Wall Street.
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Os principais indicadores dos mercados de capitais no Estados Unidos fecharam essa semana em forte altas. Demostrando que Wall Street está muito pouco preocupada com que acontece na capital federal.
O Nasdaq fechou a semana aos 13.201 pontos, o Dow Jones aos 31.097, e o S&P 500 aos 3.824 pontos. Todas máximas históricas.
Não que os investidores tenham ficado completamente indiferentes aos acontecimentos em Washington. Por exemplo, o Vix, o chamado “índice do medo“, registrou uma forte alta nas horas de máxima tensão na última quarta-feira (6).
Entretanto, já o dia seguinte o termômetro da volatilidade caiu, e as ações continuaram subindo no mercado financeiro dos EUA.
Embora a situação permaneça incerta até a transferência definitiva do poder, as ambições do presidente Donald Trump de reverter o resultado eleitoral continuam no universo da irrealidade.
A invasão do Congresso enfraqueceu Trump, membros do governo renunciaram e até grandes nomes do partido Republicano, a começar pelo vice-presidente Mike Pence, repudiaram a violência.
Os graves acontecimentos do Capitólio representam uma ferida para a democracia americana cujos efeitos serão medidos em um futuro próximo.
Mas os investidores não os consideraram como um risco concreto a estabilidade do país.
O que os mercados precificaram com mais força foram as outras notícias políticas ocorridas no mesmo dia, como por exemplo a vitória do Partido Democrata no pleito da Geórgia, que elegeu dois senadores.
Um resultado que garante o controle de Joe Biden sobre o Congresso. E isso, no curto prazo, significa que o ambicioso plano de estímulo fiscal do presidente eleito tem mais probabilidade de ser aprovado.
Nessa perspectiva, os investidores continuam fazendo suas escolhas e alimentando a alta nos mercados.
Além da esperada injeção de liquidez, com o lançamento da campanha de vacinação nos EUA e em outros países desenvolvidos a aposta é na volta à normalidade, com a economia que vai voltar a crescer, assim como os lucros das empresas listadas.
Wall Street não estaria exagerando?
A dúvida é: será que Wall Street está longe demais de “main street”?
Isso pois as máximas nas Bolsas de Valores ocorreram não somente após um dia de tumultos políticos, mas também após a divulgação dos dados sobre o nível de emprego nos EUA.
Segundo os dados do governo americano, foram perdidas 140 mil vagas em dezembro, contra uma expectativa de crescimento de 50 mil vagas. A taxa de desemprego se manteve em 6,7%, mais do que o dobro em relação ao início da pandemia.
Em 2020 o número de vagas perdidas na maior economia do planeta chega a 9,37 milhões. O maior número desde 1939.
Por isso, em muitos já se perguntam se Wall Street está ainda ligada a economia real, ou até ao mundo real, ou se a dimensão inédita e gigantesca dos estímulos fiscais e monetários injetados na economia dos EUA já não tenha desconectado mais uma vez o mercado financeiro do resto da humanidade.