Wall Street marca recorde em primeiros 100 dias da presidência Biden
Para Wall Street, os primeiros 100 dias da presidência de Joe Biden foram um sucesso sem precedentes.
Nos últimos 70 anos, Wall Street nunca registrou um desempenho próximo aos +24% alcançados pelo índice S&P 500 apenas 100 dias após a data da posse presidencial.
Somente o resultado obtido durante a presidência de John Fitzgerald Kennedy em 1961 (+18%) pode chega próximo da comparação, seguido por George Bush, com + 12,5%.
No caso de Donald Trump, a alta de 11,4% registrada por Wall Street é menos da metade de quanto registrado por Biden.
E se a contagem começar a partir de novembro, desde que Biden ganhou as eleições, a subida do S&P 500 é ainda maior: +29%.
Entretanto, evidentemente o mérito desse resultado não é apenas do presidente democrata, que – mesmo querendo – não poderia ter influenciado tanto o maior mercado financeiro do planeta.
Alta de Wall Street não é apenas mérito de Biden
É claro que Biden contribuiu para esse bull market aprovando rapidamente o megapacote de infraestruturas e de estímulos fiscais a favor de famílias e empresas.
Algo que poderia levar o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA a crescer 8% neste 2021 na melhor das hipóteses. Um resultado que não ocorria desde 1983.
A série de medidas de apoio à inclusão social no valor de US$ 1,800 trilhões, que deve ser financiada com aumento de impostos para os cidadãos mais ricos, deu impulso ao sistema econômico americano.
Além disso, está em fase de tramitação no Congresso também um plano de US$ 2,250 trilhões para as infraestruturas e outro (já aprovado) de US$ 1,9 trilhão de ajuda geral, que inclui um cheque de US$ 1.400 dólares para 85% da população. Helicopter money ao estado puro.
No geral, trata-se de um estímulo econômico gigante de US$ 6 trilhões, cerca de 30% do PIB dos EUA, que se soma ao trabalho paralelo do Federal Reserve imprimindo dólares (comprando títulos do governo e hipotecas de títulos vinculados) no ritmo de US$ 120 bilhões por mês. O que levou a uma expansão de seu balanço para US$ 8 trilhões. Algo jamais visto antes.
No entanto, é preciso dizer que uma grande ajuda para alcançar esse resultado em Wall Street veio das gigantes do setor de tecnologia, que continuam a colher lucros e receitas recordes, atestados por avaliações na Bolsa de Valores nunca antes vistas.
As cinco maiores empresas, as FAAMG – Facebook (FBOK34), Apple (AAPL34), Amazon (AMZO34), Microsoft (MSFT34) e Google (GOGL34 – valem juntas mais de US$ 8 trilhões (cerca de R$ 45 bilhões). Em 12 meses, eles incorporaram capital de mais de US$ 3 trilhões.
Se somarmos aos “cinco grandes” também o sexto no ranking, ou seja, a Tesla (TSLA34), com seu valor de mercado de US$ 700 bilhões, o total chega em US$ 9 trilhões. Um valor próximo ao PIB do Japão e da Alemanha. Juntos.
Outra razão por esse resultado foi o “efeito alívio”. O mercado temia um aumento acentuado na carga tributária por parte do governo Biden sobre os gigantes industriais.
Entretanto, no geral, isso não ocorreu. E Wall Street colocou logo o turbo nos papéis das gigantes, que agora sozinhos representam 25% do cálculo do desempenho do S&P 500 e 38% do Nasdaq.
Na prática, se esses cinco/seis títulos sobem, Wall Street sobe. E foi isso que ocorreu.
Até pelo fato que essas ações estão presentes em inúmeros ETFs e, portanto, são também beneficiárias de uma grande quantidade de “capital passivo” que vem de investidores do mundo inteiro que diversificam suas carteiras comprando títulos dos EUA.
Mas essa situação é uma faca de dois gumes, pois se as FAAMG sofressem uma reversão, o desempenho dos índices sofreria de forma ampliada.
Todavia, por enquanto, os papéis dessas empresas estão marchando a todo vapor, fortalecidos também pelos resultados do último trimestre, que superaram as expectativas dos analistas.
Lado obscuro desta história
O lado obscuro dessa história, que por enquanto não parece tirar o sono dos investidores, é a forte alta da dívida nos EUA, que chegará em 120% do PIB esse ano, e a consciência de que mais cedo ou mais tarde o Fed poderia começar a reduzir essa política monetária expansionista, drenando a liquidez excepcional até agora injetada no mercado.
Nesse caso, nem Biden poderia fazer nada para sustentar os elevados preços das ações em Wall Street. Mas os mercados, a julgar pela volatilidade (que vem viajando constantemente abaixo de 20 pontos semanais, enquanto no ano passado ultrapassou 80), não estão nem um pouco preocupado com essa hipótese.