Wall Street não para de subir. Os três principais índices da Bolsa de Valores dos Estados Unidos continuam registrando cotações máximas desde o começo do ano.
O S&P 500 ultrapassou 4.300 pontos. O tecnológico Nasdaq está cada vez mais perto do teto psicológico de 15.000 pontos. E o Dow Jones Industrial está próximo de 34.800 pontos. Em suma, Wall Street parece continuar navegando com o vento em popa.
Via de regra, é difícil fazer previsões na Bolsa de Valores, principalmente quando os índices estão em um território desconhecido, como o atual.
Para ter uma ideia, desde janeiro, o S&P 500 subiu 35%, o Nasdaq 17% e o Dow Jones Industrial 29%.
Um cenário onde até a análise técnica desiste de esperar que o mercado desenhe novos suportes e resistências.
Wall Street de novo no topo do mundo
Graças aos resultados das últimas sessões, Wall Street recuperou a liderança no mercado global de ações, superando o desempenho das bolsas europeias (o Eurostoxx 50 subiu apenas 14,5%) que desde meados de junho perderam força.
Nesta fase, os investidores parecem mais orientados para ativos dos EUA do que da Europa.
Uma tendência que ocorre, paradoxalmente, logo após o Federal Reserve (Fed) anunciar uma mudança de rumo na política monetária, antecipando duas viradas restritivas até 2023.
Uma posição contrária a do Banco Central Europeu (BCE), que continua sendo bastante expansionista.
E foi exatamente a informação de um possível tapering, divulgada pelo Fed no dia 16 de junho, que paradoxalmente poderia ter levado Wall Street a ganhar ainda mais força.
Isso pois um aumento das taxas de juros torna ou títulos do tesouro dos EUA mais competitivos em relação a Bolsa de Valores.
Mas os investidores consideraram o sinal do Fed como uma atitude para fazer frente a essa situação de pandemia, tentando conter um possível aumento da inflação.
A recente alta dos preços (5,4% em junho) é, segundo o Banco Central dos Estados Unidos, uma situação transitória e de natureza não estrutural.
Mas mesmo assim o Fed está de olho na inflação nascente.
Ações em Wall Street estariam caras?
A dúvida que muitos investidores e analistas têm é se as ações em Wall Street devem ser consideradas caras e, como tais, potencialmente “perigosas”.
Wall Street parece ter uma vantagem sobre o mercado de títulos públicos dos EUA.
Os rendimentos dos títulos do Tesouro com vencimento em dois anos estão em 0,25% nominal, e continuam fortemente negativos em termos reais.
Os títulos de dez anos também não são muito competitivos.
Isso pois seus rendimentos, após uma alta de 1,8% no final de março, têm viajado continuamente abaixo dos 1,5% nominais.
Comparando as taxas dos T-bonds com o earning yeld dos títulos do S&P 500, as ações ganham de 7 a 1.
O earning yeld é obtido dividindo os lucros pelo preço da ação, sendo, portanto, o inverso da relação preço/lucro (P/L).
Supondo um P/L de 20 para as ações do S&P 500, temos um rendimento de 5%.
Aplicando um payout médio de cerca de 60% para essa taxa (ou seja, a parcela dos lucros distribuída aos acionistas), obtemos um dividend yield de cerca de 3%.
Essa porcentagem é aproximadamente o dobro do que é oferecido hoje pelos títulos do Tesouro dos EUA período de 10 anos.
Além disso, enquanto as grandes empresas americanas que compõem o S&P 500 seguem a tendência de crescimento da economia, a dívida pública parece enfrentar anos difíceis, por causa da dependência da compra de títulos pelos bancos centrais.
Por isso, não parece existir nenhum sinal de alerta no andamento de Wall Street.
“O preço/lucro ou o earning yeald são importantes, mas são apenas parâmetros. E para verificar se uma ação está “cara” ou não é necessário olhar para o custo-oportunidade”, diz Alberto Amparo, analista CNPI especializado em mercados internacionais da SUNO Research.
Segundo ele, é necessário olhar para uma ação ao longo do tempo, e não apenas ao preço lucro. “Por exemplo, é preciso considerar o spread entre o rendimento de uma ação e o dos títulos públicos em 10, 20 ou 30 anos para entender melhor essa situação”.
“O preço lucro é apenas um indicador, mas por exemplo ele não mostra se uma empresa está endividada, não mostra os recorrentes, não é algo normalizado. E é necessário considerar que lucro não é caixa. Em suma, para ver se uma ação está cara ou barata é preciso fazer uma análise global”, salienta Amparo.
Investidores desconfiados
Existe uma parcela de investidores que não confia na atual situação.
O índice Skew, uma medida da volatilidade implícita esperada resumida pelo desempenho das opções put out of the money, está em seu ponto mais alto.
Quando a volatilidade é baixa, essa espécie de seguro contra quedas violentas de ações, custa menos.
Portanto, em Wall Street, a situação ainda parece sob controle. Pero no mucho.
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