Wall Street escolheu Biden, mas pode não ser suficiente para derrotar Trump

Wall Street já votou seu presidente dos Estados Unidos: Joe Biden. Pode parecer paradoxal, mas esse é o voto que mais “pesa”, o da carteira para financiar campanhas eleitorais que cada vez tem custos recordes. Que, aparentemente, não gosta do atual inquilino da Casa Branca, o presidente Donald Trump.

O mundo dos mercados de capitais prefere o candidato do Partido Democrata. Apesar dos recordes atingidos pela Bolsa de Valores de Nova York. E mesmo após a flexibilização de impostos e regras para o mercado financeiro decretada pela administração Trump.

Os números falam sozinhos: o mundo das finanças dos EUA já doou US$ 44 milhões a favor de Biden, apenas US$ 9 milhões para Trump. Nem mesmo os cálculos estendidos ao universo dos serviços financeiros, de seguros e de real estate mudam esse cenário. No total, a campanha do democrata arrecadou mais de US$ 66 milhões contra US$ 36 do republicano.

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O setor financeiro não é o único a trair Trump: gigantes das comunicações e da eletrônica, incluindo o mundo da alta tecnologia, também preferem Biden. As doações por parte desses setores foram  US$ 18 milhões contra US$ 2,4 milhões. Mas o desequilíbrio nas doações de Wall Street é importante seja pelo tamanho absoluto que pela tendência histórica de preferir os republicanos (ou, no máximo, estar em equilíbrio entre os dois partidos).

Wall Street não tem medo de Biden

O que é interessante é que nem a possibilidade de um forte aumento de impostos ou de maior regulamentação criada por um possível governo Biden espanta os doadores do mercado. Isso embora banqueiros e grandes investidores tenham demonstrado sua aversão a escolher uma candidata a vice-presidente mais “extremista”, do calibre de Elizabeth Warren, a inimiga fidagal de bancos e fundos. A escolha da senadora Kamala Harris deixou os mercados mais tranquilos.

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Biden é considerado um moderado que é naturalmente alérgico à retórica “contra os ricos”. Wall Street se sente tranquilizada por suas posições deliberadamente genéricas sobre os mercados de capitais e, sobretudo, pela abertura de seus comitês a consultores a executivos próximos ao setor financeiro, assim como aos gigantes da tecnologia. Algo que, por outro lado, deixa os setores mais a esquerda do partido democrata bastante nervosos.

Investidores importantes recentemente aumentaram suas apostas. Eles organizaram campanhas virtuais de arrecadação de recursos para o candidato democrata. Alan Leventhal, da Beacon Capital, e Jonathan Gray, executivo da Blackstone (que se manifestou abertamente contra o fundador Stephen Schwarzman, apoiador de Trump), estão na primeira linha em apoio a Biden.

Talvez o exemplo mais revelador dessa situação seja a doação de mais de US$ 3 milhões de Seth Klarman, do fundo Baupost. Em outras épocas, ele foi o patrocinador mais generoso dos republicanos nos estados de New England. O fluxo de caixa é tamanho que levou Biden a determinar que para que ele participe pessoalmente de um evento a doação mínima deverá ser de US$ um milhão.

Trump ainda não perdeu a eleição

Mas essa vitória de Biden no caixa não significa de forma alguma que Trump esteja sofrendo por falta de capital, muito menos de votos nas urnas. Em julho, o presidente ultrapassou Biden no total de doações mensais, US$ 165 milhões contra US$ 140 milhões. E os dois candidatos estão empatados na dimensão dos recursos que têm para gastar até o dia do pleito: cerca de US$ 300 milhões cada.

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Além disso, os defensores ferrenhos do presidente não desapareceram: o já citado Stephen Shwarzman, fundador da Blackstone, realizou uma doação para Trump US$ 3,7 milhões em 2020. Os magnatas que apreciam o jeito de governar do presidente hoje são mais do que há quatro anos atrás, e são particularmente numerosos na chamada “Orla do Ouro” de Connecticut. Uma região onde há uma elevada concentração de hedge funds, em volta da cidade de Greenwich. Uma região que já foi lar de conservadores aristocráticos e às vezes iluminados, como o banqueiro e patriarca de muitas dinastias políticas republicanas, Prescott Bush.

No entanto, são as reclamações contra Trump, acusado de instabilidade e incompetência parente a crise atual, que encontram maior eco entre os doadores. Mesmo os primeiros apoiadores, como os donos do fundo Renaissance Technologies, os Mercer, que patrocinou o ideólogo do trumpismo Steve Bannon, deram para trás. Suas doações pararam em US$ 365.000, em comparação com mais de US$ 2 milhões pagos em 2016 para a campanha eleitora do então magnata.

Todavia, mesmo com todos esses recursos a favor de Biden, Trump ainda não perdeu a eleição. E é sempre bom lembrar que mesmo na última presidencial americana, em 2016, a então candidata Hillary Clinton tinha obtido mais recursos do que o republicano: US$ 886 mihões contra US$ 189 milhões. Entretanto, todos sabemos como terminou aquela eleição. Pois também nos EUA, evidentemente não é somente o caixa que faz o presidente.

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Carlo Cauti

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