Quando Alexandre Assolini e Juliano Cornacchia chegaram aos bastidores do mercado de capitais, era tudo analógico. Se o tapete vermelho era estendido às áreas de criação e distribuição de produtos, para o back office — mesmo por trás de todos os investimentos da Faria Lima — faltava glamour. Os dois tornaram-se, pois, empreendedores e decidiram atacar o nicho com a Vórtx, uma fintech que une tecnologia a pessoas qualificadas para trazer valor a uma atividade tradicionalmente relegada.
A empresa colocou a tese na rua e passou a oferecer serviços de administração, cálculo e processamento de ativos. “O negócio explodiu. Quando começamos, não entrava um concorrente há 15 anos. Entramos e, no primeiro ano, nos tornamos líder do mercado de dívida”, contou Juliano Cornacchia, CEO da Vórtx, ao SUNO Notícias.
O segmento foi o primeiro no qual a companhia pisou, em 2016, e é onde ela está mais avançada. Com a aquisição da Simplific Pavarini, há cerca de dois meses, a startup conta com um market share de 65% a 70% do mercado brasileiro, entre CRI (Certificados de Recebíveis Imobiliários), CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio), debêntures, letras financeiras e mais.
No mercado de fundos, a empresa ainda não desfruta de tanta relevância dado o tamanho do setor. Hoje, a Vórtx tem aproximadamente R$ 30 bilhões sob administração e é líder em determinados produtos, incluindo fundos imobiliários (FIIs) e fundos de investimentos em direitos creditórios (Fidcs).
Recentemente, a companhia fez o lançamento de serviços bancários pela plataforma, como contas para os fundos. Outros produtos também devem ser adicionados no futuro, incluindo câmbio.
Em 2021, a fintech pretende mirar o segmento de fundos líquidos, “um mercado dos grandes. Na hora que entrarmos, é para bater de frente com Itaú (ITUB4), Bradesco (BBDC4) e Santander (SANB11)“, prometeu Cornacchia.
A Vórtx ainda começou a trazer soluções dos clientes para dentro da plataforma. “Queremos um dia virar uma grande AWS para esses players“. A proposta é criar uma integração nativa na base de dados, para que na hora de passar as informações baste apenas um clique.
Uma Vórtx mais robusta
De 2016, quando a empresa de fato começou a correr, a 2020, a startup cresceu 40 vezes. Em termos de pessoas, a companhia saiu de duas para quase 200. Atualmente, os ativos somam por volta de R$ 150 bilhões no total.
A expansão passou agora a ser financiada com dinheiro novo em folha. Em março, a companhia fechou contrato com a FTV Capital para garantir uma rodada Série B de R$ 190 milhões do fundo americano. O aporte é significativamente superior ao da primeira, quando ex-sócios da XP Marcelo Maisonnave, Eduardo Glitz e Pedro Englert assinaram um cheque de R$ 7 milhões.
Os novos recursos serão destinados para três frentes:
- fusões e aquisições;
- estrutura de capital;
- tecnologia.
A Vórtx começou a perceber que uma parte dos resultados advinha de crescimento inorgânico. A fintech busca elevar as apostas em aquisições de empresas de tecnologia e, no intuito de “trazer o passado para dentro”, concorrentes. Para o segundo semestre, há duas compras engatilhadas, em estágio de discussão de cifras, mas os nomes não foram abertos.
“Nosso mercado está super aquecido. O Apex Group comprou a unidade de administração do Modal e, na véspera do feriado, na quarta-feira, adquiriu a BRL — que, de certa forma, é concorrente em algumas das frentes nas quais atuamos. O sigilo para aquisições é super estratégico”, destacou Juliano Cornacchia.
No segundo front, a empresa trabalha para construir uma estrutura de capital mais robusta, com o objetivo de viabilizar a administração de mais alguns bilhões sob administração. Nas palavras do CEO, com o aporte da FTV, a Vórtx é hoje o maior player independente em termos de patrimônio líquido.
Por fim, a companhia ambiciona incorporar a área tech, com desenvolvimento puro e proprietário. Atualmente, quase um terço da equipe é composta por profissionais de tecnologia — cerca de 60 pessoas dentro de casa e mais 20 terceirizadas.
‘Win-win situation‘
Enquanto o foco da Vórtx focada em crescer via aquisições, os olhos também residem sobre a batalha no mercado de private equity.
Nos últimos meses, gigantes do mercado de capitais, como XP e BTG Pactual (BPAC11), têm lutado com unhas e dentes por firmas estratégicas. A última grande pulada de cerca foi protagonizada pelo escritório Acqua Vero, o qual deixou a corretora de Guilherme Benchimol para se juntar ao banco de investimentos. A saída não aconteceu em bons termos e a disputa segue no âmbito judicial.
Embora a Vórtx não esteja diretamente no meio, permanece atenta às movimentações. “Quanto mais assets, corretoras, etc. nascerem, melhor para nós, porque vêm contratar algum serviço”, explicou Juliano Cornacchia. “Sempre quando algum sai e se pluga em alguém, vem [para a Vórtx] e contrata algum serviço”.
Rumo ao IPO na Nasdaq?
Desde o início, o executivo disse ter buscando construir uma companhia nos moldes de uma listada, com conselho de administração, uma big four de auditoria, comitê de risco e compliance. E o momento de abrir o capital parece cada vez mais perto.
No momento em que a startup sentou com a FTV para acordar os detalhes da rodada de captação, a ideia foi combinar uma saída em cinco anos, em 2026. Uma parte do exit pode ser via oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês).
O assunto voltou para a mesa quando a Vórtx conversou com bancos para assumir uma dívida e conseguir mais capital para custear os planos de expansão. Aqui, o pré-pagamento também seria via IPO.
De acordo com o CEO da empresa, “o plano que era para 2025/2026, eventualmente, pode ficar para 2023/2024. Está começando a ficar mais curto. Estamos planejando. Não é para amanhã, mas está no radar”.
Embora a fintech não tenha batido o martelo, a posição de Cornacchia é de que a companhia deve seguir os passos de outras brasileiras e buscar uma operação fora do País. Segundo o executivo, a Nasdaq possui a seu favor pontos importantes.
O primeiro a possibilidade da deter as chamadas “Super ONs”, que tornam mais fácil manter o controle da empresa nos momentos de diluição. Esse foi um dos motivos pelos quais a XP foi para os Estados Unidos.
Além da proposta tech — com grande apelo no exterior —, a questão do valution também deve pesar na decisão ir para a Terra do Tio Sam, onde os múltiplos são “incomparáveis”, segundo Juliano Cornacchia.
A própria escolha do FTV, contou o co-fundador da Vórtx, faz parte da estratégia. “Resolvemos dar preferência a um não residente [no Brasil], alguém que pudesse ancorar a caminhada lá fora. O próprio investimento da FTV já tem essa mensagem”.
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