Se a crise causada pelo coronavírus (covid-19) deve afetar todas as empresas do País, o retorno após a pandemia deve privilegiar companhias com algumas características em comum, de acordo com avaliação da Vista Capital.
Para o sócio da Vista Capital, João Lopes, quem tiver a combinação de caixa e baio endividamento deve largar primeiro na recuperação após a crise causada pela covid-19.
“Acabamos concentrando mais o portfólio em empresas que gostávamos. Caixa alto, pouco endividamento, e, que naturalmente, quando a tempestade acabar, são empresas que vão abocanhar grande market share”, disse o sócio da Vista Capital.
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Além disso, a gestora também vê que a recuperação americana deve ocorrer antes da brasileira.
“Estamos muito leves em Brasil. Oportunidade no mercado americano é bem mais atraente do que aqui. Nos EUA, você consegue ver com mais claridade a saída da crise”, afirmou.
Confira a entrevista exclusiva do SUNO Notícias com João Lopes, sócio da Vista Capital:
-Me fale um pouco da história da Vista e quanto vocês tem sob gestão
A Vista foi fundada por mim e pelo João Landau, sócio responsável pela área macro, com duas estratégias bem definidas: Equities no qual eu sou o gestor e Macro onde ele é o gestor principal. Eu e o Landau nos formamos juntos em 2005 na PUC-RJ, mas cada um seguiu um caminho diferente.
Eu comecei minha carreira em 2004 na Angra Partners, um fundo de private equity que na época tinha um fundo de R$2,5bilhões focado em infraestrutura já em fase de desinvestimento.
Em 2010 fui pra Leblon Equities trabalhar com o Pedro Chermont. Foi lá que iniciei minha transição para public Equities trabalhando por dois anos como analista de commodities e infraestrutura. Em 2012 decidi realizar um desejo antigo e fui Wharton fazer meu MBA.
No retorno ao Brasil, eu e o Landau ja tinhamos vontade de fazer um produto diferente para padrões brasileiros. No Brasil, fundos Macro que tem expertise em equipeis são escassos e achávamos que o mercado iria caminhar nessa direção.
Quando fundamos a Vista em 2014 nossa ideia era ter um casa com a cabeça de hedge fund americano, um fundo multimercado fazendo bastante equity e um long only tradicional.
Largamos com uma equipe de dez sócios e como nosso seed money não tinha participação na empresa conseguimos trazer gente muito boa dando participação societária para todos no time de investimento. Então foi uma das coisas que ajudou a gente a trazer talentos.
Nosso AUM médio no primeiro ano era de R$20milhões e hoje, cinco anos depois, a Vista Capital administra R$950mln, R$ 400 milhões nas estratégias de Ações e R$ 550 milhões na estra
-Como você vê essa crise atual? Você já passou por algo semelhante?
Em magnitude não. A queda foi muito rápida e intensa. Em 2008, passamos por uma grande, mas na época era culpa do nível de alavancagem que os bancos estavam tomando.
Essa não tem um culpado e são atores diferentes. Lá atrás, não enxergávamos saída, mas essa a gente vê um fim nessa. Infelizmente, sempre nos protegemos super bem, mas esse ano não defendemos tão bem, tínhamos hedge no fundo, mas tínhamos uma posição razoável em Petrobras que derreteu.
-A crise alterou algo na estratégia long only? Quais empresas saíram/entraram no portfólio?
Alterou alguma coisa, mas não muito. Quando você tem uma crise como essa, que você não sabe quando ela vai passar, é muito difícil você carregar empresa com muita alavancagem dentro do seu portfólio.
Quando chega o momento atual, o mercado te dá oportunidades e você consegue comprar empresas boas por um preço razoável. Acabamos concentrando mais no portfólio em empresas que gostávamos.
Caixa alto, pouco endividamento e que podem se beneficiar quando a tempestade acabar pois irão ganhar market share. As principais posições do fundo são Vale, Natura, BR Properties, Equatorial e Petrobras.
-E o fundo multi? Mudou algo?
O multi sempre carregou posição grande de Petro e viemos carregando hedges para defender a posição que a gente tinha. Ele sobe 15% no ano, mas acho que muito pelo portfólio offshore que tínhamos, como posição de ouro e venda de moeda emergentes para hedge da carteira.
Hoje o multi tem uma cabeça top down de carregar empresas mais dolarizadas, exportadoras e empresas que eventualmente vão se beneficiar de um dólar mais forte.
Estamos muito leves em Brasil. Acreditamos que a oportunidade no mercado americano é bem mais atraente do que aqui. Nos EUA, você consegue ver com mais clareza a saída da crise. Aqui, infelizmente, tínhamos feito um esforço gigante para aprovar a Previdência e o dia para a noite, tem que gastar R$ 700 bilhões para equilibrar um problema de curto prazo.
Eu gosto de ver queda de Bolsa como composição de fatores. O juro real abre 140bps e a Bolsa é um ativo de duration relativamente longa então o impacto só pela abertura do juro real é da ordem de 20%.
Além disso o choque econômico machuca muito o lucro das empresas no curto prazo levando a fortes revisões de earnings.
O efeito de uma contração do múltiplo “justo” de earnings junto com uma queda do lucro projetado provocou essa queda enorme da bolsa que vimos ai. Tem muita oportunidade em empresas que eu sempre quis ter. Agora num preço razoável.
-O que vocês olham antes de escolher um papel no momento?
A gente olha muito o risco de solvência dos ativos e temos menos dúvida que as empresas que consigam atravessar esse momento, sairão muito mais fortes. A crise do varejo, de 2014 a 2016, é gigante. E eles saíram bem fortes.
As empresas que mais se outperformaram foram as empresas como Localiza, Equatorial, Lojas Renner, etc.
Achamos que, com o nível de preço, não achamos o motivo de ter empresas de segunda ou terceira linha, já que a primeira linha está barata.
-Você acha que o investidor tomou riscos demais?
Quanto mais pessoas na Bolsa melhor, mas o problema é que nosso mercado não tem barreira. Talvez com R$ 20 você compra um livro e acha que é o investidor. Compra qualquer coisa, em um mercado que só sobe, e se acha um gênio. Ele começa a tomar risco e, um belo dia, ele quebra.
Acho que a queda abrupta do CDI tenha trazido o investidor local para a Bolsa e o fruto disso foram os preços dos ativos indo para patamares super altos e o que acontece é isso. Com o mercado pequeno, com muito dinheiro vindo, há uma distorção de preço violento.
Quando a liquidez some, como em março, as quedas foram muito fortes. Empresas boas, como Magalu, saiu de R$ 55 para R$ 27 e agora já está quase no alto de novo. Na hora do pânico, a liquidez some e o cara que entra desavisado, não tem segurança naquele preço.
Se está distorcido, o cara acaba saindo no pior momento possível. Se tem alguma coisa boa para tirar disso, cria um pouco de aprendizado.
Entrevista com a Vista Capital