Via (VIIA3) e Magazine Luiza (MGLU3): ações derrapam em dia sofrido no Ibovespa nesta terça; veja motivos
As ações de Via (VIIA3) e Magazine Luiza (MGLU3) derraparam no Ibovespa nesta terça-feira (4), com o mercado ainda penalizando as empresas do setor após a divulgação da ata da Copom, na qual o Banco Central (BC) decidiu manter a taxa de juros em 13,75%.
No fechamento, os papéis da Via recuaram 0,46%, cotados a R$ 2,17, enquanto os ativos do Magazine Luiza também caíram 2,04%, a R$ 3,37.
Cotação VIIA3
Segundo Heitor De Nicola, especialista de renda variável e sócio da Acqua Vero, as duas varejistas vêm de duas semanas consecutivas de queda, com a redução na expectativa trazida pela Ata do Comitê de Política Monetária (Copom).
O último documento do Banco Central (BC) justificou a manutenção da taxa no patamar atual “até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”. Além disso, mostrou divergências sobre os próximos passos da política monetária do Brasil, destacando que já há consenso para “um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião”.
“A ata jogou um certo ‘banho de água fria’ nessas varejistas, porque deixou bem claro que o processo de desinflação é doloroso. O BC entende como algo que se exige paciência, uma vez que eles não devem fazer reduções contundentes nos juros sem antes analisar os dados de inflação, principalmente para ver como a economia vai responder a esse eventual ciclo de baixa nos juros”, disse Nicola.
Na segunda-feira (3), a atual presidente do conselho de administração do Magazine Luiza, Luiza Trajano, ligou diretamente para integrantes do “Conselhão” de Lula em busca de apoio para um abaixo-assinado para pressionar o BC, segundo apuração do colunista Lauro Jardim, do O Globo.
Trajano tem feito cobranças contínuas a Campos Neto sobre uma sinalização de corte na taxa de juros, mantida na última reunião do Copom em junho a 13,75% ao ano. “Eu estou lutando para abaixar os juros. Espero [que venha na próxima reunião] pelo menos um sinal. Se não vier, vai ser muito triste. O pequeno e o médio estão sofrendo muito”, comentou com jornalistas após participar de um seminário do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em maio.
“Isso ajuda a gente a perceber como o Magazine Luiza está sofrendo desde que a gente está neste ciclo de juros altos”, completou Nicola.
Possível follow-on da Via
Segundo informações do Estadão/Broadcast divulgadas no último dia 23 de junho, com a mudança recente de comando na Via e a saída de executivos no alto escalão, a nova gestão agora volta o foco para o corte de despesas, o esforço para gerar caixa e resultados.
É dentro dessa equação que entrou no radar da companhia a possibilidade de ir ao mercado com uma oferta subsequente da Via, como uma forma de ajudar a reequilibrar as contas do negócio até o fim do ano.
Em maio, segundo a reportagem, a Via concluiu a rolagem de R$ 1,1 bilhão em debêntures por dois anos, ou seja, junho de 2025. “Tirou a pressão de curto prazo”, disse uma fonte próxima às negociações. As novas debêntures pagam juro de 4,1% somado à remuneração do CDI. No fim do ano passado, a companhia já recebeu uma “ajuda” (termo usado por partes envolvidas na negociação) do Bradesco para equilibrar o orçamento.
Com uma renovação de parceria com o banco por mais 15 anos para os cartões co-branded na Casas Bahia, a companhia recebeu, em novembro de 2022, R$ 1,75 bilhão de “signing bônus” e antecipação de parte das comissões. Todos os movimentos acontecem em meio à revelação de uma fraude contábil na Americanas (AMER3), que deixou um buraco de cerca de R$ 15 bilhões nos cinco maiores bancos do País e todas as varejistas fragilizadas.
A Via, como um dos maiores nomes do setor de bens duráveis brasileiras, seria, portanto, grande demais para entrar em uma lista de problemas para essas instituições. Ao contrário de alguns dos concorrentes, a Via não tem problemas operacionais, mas sim de endividamento – por isso a necessidade de reequilibrar as contas, argumenta uma fonte.
Nessa estratégia da Via, a prioridade é reduzir gastos, incluindo investimentos, e focar na melhorar a eficiência e em negócios que dão dinheiro. Desde fevereiro, a empresa passa por uma reformulação completa de sua diretoria, substituindo executivos com foco em crescimento por nomes que o novo chefe do Conselho de Administração, Renato Carvalho, vê como profissionais com foco em contenção de despesas.
Ao todo, seis altos executivos deixaram seus cargos na Via: o CEO, Roberto Fulcherberguer; o CFO, Orivaldo Padilha; Helisson Lemos, responsável pela área de marketplace; Andre Calabro, chefe do banQi; Helio Muniz, chefe de comunicação e ESG; e Ilca Sierra, chefe de marketing.
Ainda dentro da perspectiva de cortes, a companhia tem feito outras demissões – as mais recentes envolveram diretores do banQi, que nessa reformulação devem perder relevância na estratégia da varejista. A área, que já havia perdido seu CEO, Calabro, agora deve deixar de fornecer empréstimo pessoal.
Com informações de Estadão Conteúdo