Ladeira abaixo: Via (VIIA3) cai 6% no Ibovespa e tem rombo de 32% em agosto; Magazine Luiza (MGLU3) sobe na sessão, mas tomba no mês
As ações Via (ex-Via Varejo) (VIIA3) recuaram 6,45% nesta segunda-feira (28) no Ibovespa, entre as maiores perdas do dia na bolsa, negociando a R$ 1,45, diante principalmente do avanço dos contratos de juros futuros, que deixam o setor de varejo de eletrônicos ainda mais sensível. O Magazine Luiza (MGLU3) também cedia no intradia, nas acabou fechando em alta contida.
Ao longo do mês de agosto as ações da Via já perderam 31,60% de valor, enquanto que desde o início do ano o tombo acumula 36,80%. Somente na semana passada, os papéis da companhia haviam perdido 7,7% de valor após a notícia de uma possível emissão de novas ações (follow on).
Cotação VIIA3
“Os movimentos sobre os papéis da Via e varejistas se relacionam principalmente às pautas econômicas em discussão. Os debates em torno do limite de juros sobre os cartões de crédito – e a discussão paralela sobre o eventual fim ou limitação do parcelado sem juros – criam temores de que a capacidade de compra das famílias seja afetada. Isto, em teoria, afeta de maneira mais marcante as varejistas de bens duráveis”, destacou Ricardo Schweitzer, analista independente.
No caso das varejistas de semiduráveis e não-duráveis, acredita-se que também há impactos relacionados às estimativas do IVA (Imposto sobre Valor Agregado) em discussão, tendo em vista que a tributação sobre diversos bens de consumo pode ter alterações significativas, com impactos na demanda.
“Por último, mas não menos importante, o IPCA-15 divulgado na sexta-feira arrefeceu apostas de aceleração no ritmo de corte da Selic, o que pode ter contribuído para que investidores revissem perspectivas de crescimento econômico à frente no contexto de afrouxamento monetário”, completou Schweitzer.
Outra empresa do setor, a Magazine Luiza (MGLU3) recuou 0,34% durante a tarde, nas fechou no positivo, +0,34%, a R$ 2,93. A queda do Magazine Luiza no mês é de 15,45%, segundo dados do Status Invest.
O Grupo Pão de Açúcar, apesar de não ser do varejo de eletrônicos, também se destaca negativamente no pregão de hoje, caindo 4,41%, enquanto mercado avalia cisão do Éxito.
Para Rafael Passos, analista da Ajas Capital, com o volume de negócios mais baixo no dia de hoje os papéis estão mais sensíveis às notícias e aos DIs, que não aliviam e influenciam na performance desses papéis.
Juros Futuros
O resultado acima do esperado do IPCA-15 de agosto ainda repercute e os juros futuros se ajustam em alta, em um movimento mais expressivo nos vértices curtos e intermediários da curva a termo.
Em um dia de liquidez reduzida no mercado de juros, os agentes embutem prêmio na curva e reduzem a probabilidade de uma aceleração no ritmo de cortes na Selic, enquanto aguardam declarações do presidente do BC durante evento em São Paulo.
Por volta de 13h, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 passava de 12,405% para 12,41%; a do DI para janeiro de 2025 ia de 10,505% para 10,57%; a do contrato para janeiro de 2026 ia de 10,06% para 10,135%; e a do DI para janeiro de 2027 ia de 10,23% para 10,29%.
Via): melhora operacional poderá ser sentida apenas em 2025, diz analista. E o Magazine Luiza?
A redução nas taxas de juros, prevista para os próximos meses, pode ser favorável tanto para Via (VIIA3) quanto para Magazine Luiza (MGLU3). Entretanto, fatores microeconômicos fornecem uma visão mais neutra para as companhias, com um viés mais positivo no longo prazo para a dona das Casas Bahia. A Via pode sentir os efeitos de uma melhora operacional apenas em 2025, segundo o analista Gabriel Costa, da Toro Investimentos.
Do ponto de vista macroeconômico, tanto para a Via quanto para o Magazine Luiza, o cenário para o restante do ano é favorável, com as reduções de juros podendo beneficiar ambas as empresas, seja pela redução do custo da dívida ou pela melhora do consumo das famílias, disse o analista da Toro Investimentos.
Porém, quando considerados fatores microeconômicos dos negócios, as perspectivas já não são tão positivas.
“Do lado do Magazine Luiza, observamos uma piora significativa dos resultados operacionais e aumento no prejuízo líquido ano a ano. Difícil precisar quando virá uma melhora expressiva. A Via, por sua vez, também reportou resultados fracos, mas o mercado está atento à possibilidade de aumento de capital robusto proposta pela companhia, juntamente com um plano de transformação do negócio. Ainda assim, os efeitos de uma melhora operacional da Via podem ser sentidos somente a partir de 2025″, destacou Costa.
Diante deste cenário, um estudo da Quantum Axis mostrou o comportamento das ações das principais varejistas do país no acumulado do ano, compreendendo o intervalo entre os dias 2/1/2023 e 14/08/2023.
Para o levantamento, a empresa de inteligência de mercado selecionou as varejistas com maior repercussão na imprensa nos últimos tempos, especialmente durante a última temporada de balanços. Nesse período, a taxa de retorno da Magazine Luiza foi de +3,65%, enquanto a da Via ficou em -28,33%.
No levantamento, ainda há outras janelas de tempo, como 12, 24 e 36 meses, que calculam a diferença entre o preço de fechamento atual no Ibovespa e a quantidade de meses para trás. Confira:
- Magazine Luiza (MGLU3): -6,58% (entre 12/08/22 e 14/08/2023); -86,42% (entre 12/08/2021 e 14/08/2023) e -86,11% (entre 11/08/2020 e 14/08/2023);
- Via (VIIA3): -38,35% (entre 12/08/22 e 14/08/2023); -86,79% (entre 12/08/2021 e 14/08/2023) e -91,03% (entre 11/08/2020 e 14/08/2023).
“Não há relação direta entre o método de cálculo desses retornos e o Ibovespa, visto que é dado apenas entre as diferenças de preços das próprias ações”, reforça o analista da Toro Investimentos.
Magazine Luiza e Via: banco prefere (e indica) outra empresa do varejo
Os analistas do BTG Pactual estão de olho em outra empresa do varejo – e destacam em relatório mais duas companhias do setor.
O setor de varejo está fortemente ligado ao cenário macroeconômico, e há perspectivas favoráveis à frente, segundo o BTG Pactual. O relatório sobre as varejistas elaborado pelo banco destaca a performance da Via e do Magazine Luiza no 2T23, detalha o quadro de dificuldades para as companhias – e aponta outra empresa que pode brilhar ainda em 2023.
De acordo com a equipe do BTG, além dos desafios macroeconômicos, varejistas como a Magazine Luiza e a Via estão lidando com alavancagem financeira, pressões na margem de lucro e desaceleração na demanda, ocorrida desde o quatro trimestre de 2022. “Isso piorou a alavancagem operacional e a dinâmica de capital de giro, uma tendência comum no primeiro semestre de 2023.”
O Magazine Luiza reportou na última segunda um prejuízo líquido ajustado de R$ 198,8 milhões no segundo trimestre de 2023, valor 77,3% maior do que o prejuízo anotado um ano atrás. A companhia citou maiores despesas financeiras com os juros altos e disse que cada ponto percentual da taxa Selic representa uma economia anual de R$ 150 milhões.
Fatores como taxas de juros mais altas e risco país impactaram o custo de capital próprio e levaram as ações da Via e do Magalu a terem um desempenho inferior em 2022 e início de 2023.
Já a Via, dona da Casas Bahia e do Ponto, divulgou no último dia 10, o seus resultados do segundo trimestre de 2023. A varejista apurou um prejuízo líquido de R$ 492 milhões. O resultado da Via no 2T23 reverte o lucro de R$ 6 milhões apresentado no mesmo período de 2022. A empresa garante, porém, que um novo ciclo está por vir e aproveitou o momento para divulgar o plano de ação da nova gestão da companhia.