A XP Investimentos passou a limpo suas recomendações e preços-alvo das varejistas brasileiras “para refletir uma perspectiva macroeconômica mais desafiadora à frente, assim como uma maior volatilidade política”, segundo relatório divulgado nesta quinta-feira (28).
A revisão da corretora para as varejistas acontece depois de o Comitê de Política Monetária (Copom) elevar a taxa Selic em 1,5 p.p. na última quarta-feira (27), para 7,75% ao ano. “Essas mudanças impactam negativamente o consumo uma vez que levam a uma redução de renda disponível e de disponibilidade e apetite de crédito”, diz relatório da XP.
Nesse sentido, os analistas da corretora adotaram uma abordagem mais defensiva na cobertura de ações das varejistas, com foco em segmentos mais resilientes. Segundo eles, o ano de 2022 deve ser desafiador para o setor de consumo, enquanto as eleições brasileiras devem trazer volatilidade para o mercado.
Passaram pelo pente fino C&A (CEAB3), Enjoei (ENJU3), Americanas (AMER3) e Lojas Americanas (LAME4), que saíram da recomendação de compra para neutra.
Já Lojas Renner (LREN3) e RaiaDrogasil (RADL3) saltaram de neutra para compra.
Segundo os analistas da XP, o consumo discricionário depende muito da renda disponível e confiança do consumidor. Portanto, é altamente impactado por um cenário macroeconômico mais difícil. Sendo assim, varejistas de alta renda, como Arezzo (ARZZ3), Grupo Soma (SOMA3), Vivara (VIVA3) e líderes de mercado, como Lojas Renner e RaiaDrogasil, devem estar em posições melhores comparados aos seus pares.
Varejistas de alimentos e farmácias saem na frente
Na visão da XP, as varejistas do segmento alimentar, com destaque para o atacarejo como o Assaí (ASAI3), estão à frente no cenário atual. Com a volta do consumo fora de casa e um cenário macroeconômico mais desafiador, os consumidores buscam por formatos de compra com melhor custo/benefício.
“Além disso, esperamos continuar a ver um momento de resultados desafiadores para os supermercados no curto prazo, devido a uma base de comparação difícil com 2020, além de uma inflação alimentar bastante alta e um desempenho da categoria não alimentar mais fraco”, diz o relatório.
Para o segmento de farmácias, a perspectiva é positiva devido ao retorno do fluxo nas lojas, com os consumidores voltando a fazer atendimentos médicos que acabaram adiados por causa da pandemia. No mais, o quarto trimestre é sazonalmente mais forte devido à temporada de verão e de férias.
“Estamos atualizando RD para compra, e rebaixando d1000 (DMVF3) para neutro, pois acreditamos que o cenário macro mais desafiador deve ser um obstáculo para a reestruturação em curso na d1000, especialmente com a aceleração dos seus planos de expansão.”
Comércio eletrônico é o mais atingido
As empresas do setor de varejo eletrônico são, de longe, as mais impactadas com as mudanças, segundo a XP. Os analistas ressaltam quatro motivos para isso. São eles:
- maior concentração de valor na perpetuidade, o que amplifica o impacto da alta de juros nos preços;
- aumento de competição, com empresas se tornando mais agressivas e sacrificando margens;
- interrupção da cadeia de suprimentos, que, combinado ao real mais desvalorizado, tem levado a um aumento de preços; e
- demanda mais fragilizada, em meio à deterioração do cenário macro.
“Apesar dos nossos preços alvos do segmento refletirem um alto potencial de valorização, também vemos um alto risco em relação aos resultados, uma vez que a demanda pode ser mais fraca e a competição mais acirrada”, diz relatório.
E concluem dizendo que, diante dos motivos elencados, a visão para as varejistas é mais cautelosa, por enquanto.
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