O volume de vendas no varejo do Brasil caiu 3,1% em agosto ante julho, segundo a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgada hoje (06) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se da primeira queda depois de quatro variações positivas consecutiva do indicador.
Com a queda, as vendas no varejo passam a operar 4,3% abaixo do nível recorde da série histórica, registrada em novembro de 2020, informou o IBGE. Na comparação a agosto de 2020, as vendas do varejo recuaram 4,1%.
No ano, o comércio varejista acumula alta de 5,1%, enquanto em 12 meses as vendas somam 5,0% de aumento.
Os especialistas do mercado esperavam um resultado melhor do que o apresentado. De acordo com a estimativa dos analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast, o intervalo projetado ia de -1,4% a +2,4%, com mediana de 0,6% positivo.
O recuo no mês se deu com seis das oito atividades analisadas pela PMC registrando taxas negativas em agosto. O destaque ficou com artigos de uso pessoal e doméstico (-16,0%), que teve a principal influência negativa sobre as vendas no varejo.
Essa atividade é composta, por exemplo, pelas grandes lojas de departamento. Por sinal, são elas que registram grandes perdas no Ibovespa hoje. Via (VIIA3) caindo 5,22%, Lojas Americanas (LAME4) recuando 4,89% e Lojas Renner (LREN3) perdendo 4,21% às 11:10 desta quarta.
“Foi um setor que sofreu bastante no início da pandemia, mas se reinventou com a reformulação das suas estratégias de vendas pela internet. Isso culminou em crescimentos expressivos, principalmente em julho (19,1%) com o lançamento das plataformas de marketplace”, explica o gerente da PMC, Cristiano Santos.
E continua: “Com muitos descontos, o consumidor antecipou o consumo em julho, fazendo com que o mês de agosto registrasse uma queda grande de 16,0%. Esse recuo, contudo, não é suficiente para retirar os ganhos dos quatro meses anteriores”
Vendas no varejo por setores
Com a queda de agosto, as vendas no varejo estão agora 2,2% acima do nível de fevereiro de 2020, no pré-pandemia. No varejo ampliado, que inclui as atividades de veículos e material de construção, as vendas operam 0,1% abaixo do pré-pandemia.
No mês de agosto, entre as oito atividades mapeadas na pesquisa do varejo, seis tiveram taxas negativas. A pior queda ficou com artigos de uso pessoal e doméstico (-16,0%). Mas, também recuaram no período os seguintes setores:
- artigos de uso pessoal e doméstico (-16,0%)
- equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-4,7%),
- combustíveis e lubrificantes (-2,4%),
- móveis e eletrodomésticos (-1,3%),
- livros, jornais, revistas e papelaria (-1,0%) e
- hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,9%).
“Hiper e supermercados, assim como combustíveis e lubrificantes, vêm sendo impactados pela escalada da inflação nos últimos meses, o que diminui o ímpeto de consumo das famílias e empresas. Houve efetivamente um gasto menor das famílias na passagem de julho para agosto”, diz Cristiano Santos.
As duas atividades que tiveram variação positiva no volume de vendas no varejo em agosto foram:
- tecidos, vestuário e calçados (1,1%) e
- artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (0,2%).
No comércio varejista ampliado, que inclui veículos e materiais de construção, o volume de vendas caiu 2,5% em agosto na comparação com julho.
A atividade de veículos, motos, partes e peças teve variação positiva de 0,7%, enquanto material de construção variou negativamente (-1,3%).
Primeira taxa negativa após quatro positivas
“Essa é a primeira taxa interanual negativa das vendas no varejo desde fevereiro. As cinco taxas positivas anteriores refletiam a base muito baixa de comparação daquele momento de 2020”, observa Cristiano Santos.
Apesar do recuo em agosto, o volume de vendas no varejo está 2,2% acima do período pré-pandemia. Esse nível, porém, não é homogêneo entre os setores. “Há atividades que ainda não recuperaram as perdas, como material para escritório, informática e comunicação; combustíveis e lubrificantes e tecidos; e vestuário e calçados”, diz o gerente da PMC.
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, diz que ainda não encontrou uma justificativa para um recuo tão grande em agosto.
“O fato é que a queda foi espraiada por diversos setores, sejam associados à renda ou ao crédito, o que dificulta a atribuição do péssimo resultado a um único fator”, diz Sanchez. “Muito se fala em antecipação de consumo e contração na renda, mas nada disso teve um colapso ao longo do mês de agosto que justifique o movimento”, complementa o economista.
Para ele, o resultado das vendas no varejo de agosto é transitório, e o resultado ruim não deve prejudicar o crescimento estimado para o PIB do Brasil em 2021.
Com informações de Estadão Conteúdo.