Ao longo de 2019, o Banco Central (BC) vendeu US$ 36,9 bilhões das reservas internacionais. Com isso, a dívida bruta do País foi diminuída em dois pontos percentuais do Produto Interno Bruto (PIB), cerca de R$ 140 bilhões.
Com as intervenções cambiais realizadas pelo Banco Central no ano passado, período que protagonizou a maior saída de dólares da história, as reservas internacionais do país recuaram para US$ 356,9 bilhões.
Por mais que a instituição monetária central do País tenha realizado tais vendas por motivos cambiais, a estratégia do BC está de acordo com o objetivo do Ministro da Economia, Paulo Guedes, apontada na transição de governo. O intuito é aproveitar as desvalorizações do real para diminuir as reservas do País, cortando a dívida pública e seus custos.
Ainda desconsiderando US$ 9,5 bilhões retirados das reservas, a dívida buta do Brasil estava em 77,7% do PIB em novembro. Embora o trabalho do Banco Central em manter o desempenho fiscal seja positivo, o nível de endividamento nacional ainda é maior do que ao final de 2018, quando estava em 76,5%. O patamar de 80% do PIB foi estabelecido como limite para a dívida.
Segundo o jornal “Valor Econômico”, o Ministério da Economia reconhece que o Banco Central realmente o fez, mas destaca a liberdade do presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto. Segundo uma fonte, o nível das reservas internacionais estava acima do necessário para dar segurança externa.
Confira: BC quer estimular mais competitividade entre bancos, diz Campos Neto
Sendo assim, aproveitando momentos de disparada do câmbio para reduzir as reservas seria uma estratégia adequada, voltada ao gerenciamento de portfólio de ativos.
Ao comercializar o dólar com cotação acima de R$ 4, explica, foi como se o governo estivesse lucrando com as reservas, produzindo uma melhor equação entre proteção externa e desenho fiscal. Além do mais, isso foi feito e o risco-país continuou caindo.
Estratégia do Banco Central
Com dos dólares já vendidos, a flexibilidade futura para esse gerenciamento torna-se menor, pois seu nível vai se aproximando do que seria ideal. “Não dá para se saber qual é o tamanho da folga que ainda se tem, mas certamente ela está menor. A partir de agora começa a ficar mais difícil para o BC fazer esse gerenciamento.”
Saiba mais: Produção industrial recua 1,2% em novembro frente a outubro, diz IBGE
O professor do departamento de Economia da Universidade de Brasília, José Luis Oreiro, em entrevista ao “Valor Econômico”, disse que a política de acumulação de reservas, iniciada por volta de 2006, foi o grande acerto da política econômica do governo petista. No entanto, de fato, o volume atingido foi superior ao necessário para proteger o País e que há espaço para vendas de dólares desde que o estoque se mantenha acima do nível psicológico de US$ 300 bilhões.
“A venda de reservas afeta o déficit nominal porque reduz o serviço de juros e contribui para uma melhor trajetória da dívida no futuro”, afirmou Oreiro, salientando que, para a dívida líquida do setor público (que contabiliza os ativos do governo), o impacto direto da venda de dólares pelo Banco Central é neutro.