Seguindo na temporada de balanços e com divulgação de indicadores, o Ibovespa seguiu em queda nesta semana, fechando o pregão de sexta (29) aos 103.500 pontos – e somente 12 papéis dentre mais de 90 em saldo positivo.
Acompanhando o Ibovespa, companhias do varejo e aéreas sofreram no acumulado dos cinco dias úteis, com influência da inflação acima do esperado e o risco fiscal aumentando.
Vale lembrar que recentemente algumas casas de análise e corretoras revisaram suas projeções par ao Ibovespa e para o ano de 2022 no cenário macroeconômico. Em praticamente todas as revisões, os analistas aumentaram o pessimismo e projetaram cenários mais problemáticos do que os vistos em análises anteriores.
“A deterioração no cenário inflacionário sustenta um cenário com juros mais altos. O comunicado indicou que o ritmo do ajuste continuará o mesmo na próxima reunião”, dizem os analistas do Banco Safra.
Na sua revisão Extraordinária, o Itaú BBA também piorou as projeções, em ajuste ainda mais drástico.
“Notícias sobre o aumento dos gastos fiscais aumentaram as dúvidas sobre o futuro do arcabouço fiscal no Brasil, que desde 2016 tem sido baseado em um teto de gastos ajustável. Embora a discussão sobre dominância fiscal pareça exagerada no momento, é verdade que, sem uma âncora fiscal crível, a tarefa do Banco Central em manter a inflação na meta se torna mais difícil”, afirma Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú.
Além disso, a Petrobras (PETR4) teve protagonismo nos últimos dias, apesar de ficar no saldo negativo. Em falas recentes, o Presidente da República citou uma possível privatização em meio à alta dos combustíveis e ao balanço trimestral – com lucro acima do esperado e dividendos bilionários.
Confira as maiores quedas do Ibovespa na última semana:
- GetNet (GETT11): -22,9%
- Méliuz (CASH3): -15,35%
- Azul (AZUL4): -14,8%
- Magazine Luiza (MGLU3): -12,9%
- Americanas S.A. (AMER3): -11,9%
GetNet tem correção ao adentrar o Ibovespa
A GetNet (GETT3), empresa de maquininhas do Santander (SANB11), estreou na bolsa no dia 18 após concluir todas as etapas necessárias para a cisão do negócio. Os papéis ordinários da companhia chegaram a subir 100% no intradia, saindo de R$ 2,22 para R$ 4,44, por volta das 11h45.
Contudo, nesta semana a correção na negociação das units jogou a cotação para R$ 4,36, deixando o saldo no negativo em relação a semana anterior.
No dia 21 a companhia teve suas primeira correções, com pressão mercado em torno do risco fiscal, após o governo ensaiar aplicação de medidas para encontrar espaço no orçamento fora do teto de gastos.
No pregão em questão a GetNet teve queda de 19.76%, negociada a R$ 6,82. A empresa teve máxima às 10h30, negociada a R$ 9,50. Ao longo do dia, na medida em que as notícias do governo e do teto de gastos foram divulgadas, a GETT11 liderou as quedas na bolsa, alcançando mínima de R$ 6,60.
Méliuz segue com volatilidade
Pela segunda semana consecutiva os papéis da companhia foram os mais desvalorizados do Ibovespa.
Apesar disso, as ações ordinárias não tiveram nenhuma influência direta de alguma notícia nem nenhum documento arquivado que derrubou a cotação.
Seguindo a tendência do índice, a desvalorização do Méliuz nesta semana seguiu o padrão de volatilidade que as ações da empresa registram há semanas, com acumulado de 45% de queda nos últimos seis meses.
Azul tem cenário incerto
Com o seu balanço ainda a ser divulgado, as especulações e correções nas ações da Azul derrubaram a cotação para R$ 24,87 na semana.
De um modo geral, apesar das festas de fim de ano e do aumento dos índices de vacinação contra Covid-19 na população, o que dá uma perspectiva positiva para o setor, alguns fatores podem ser limitantes.
Alguns analistas citam que o aumento dos preços do querosene de aviação, que tem um peso relevante para as empresas do segmento – com o câmbio alto e uma deterioração do cenário macroeconômico – podem gerar dificuldades.
O analista Vitor Suzaki, do Banco Daycoval, frisa que o baixo poder aquisitivo do consumidor, causado pelas altas taxas de desemprego, e o endividamento das famílias não dão espaço para que aumentos de preços das passagens sejam absorvidos, inibindo portanto a retomada.
Magazine Luiza sofre com deterioração do cenário macro
Da mesma forma que o Méliuz, as ações do Magazine Luiza tem quedas associadas ao ambiente macroeconômico e acompanham o Ibovespa.
A varejista teve a compra da Kabum aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) e lançou recentemente uma marca própria de moda, a Vista Magalu, com valores ESG.
Contudo, apesar desses movimentos, o mercado penalizou os papéis da companhia em um cenário de juros e inflação em alta com maior risco fiscal.
Vale lembrar que as varejistas como um todo sofrem no ano de 2021. No acumulado do ano, as ações da Magalu já caíram 57% em relação ao primeiro pregão.
Americanas cai 11%
Seguindo a tendência do setor, a varejista também é penalizada pelo mercado, com Selic em escalada. Com o preço em queda, recentemente a a XP Investimentos reiterou sua recomendação de compra para os papéis, com preço-alvo de R$ 82,0 para os próximos 12 meses.
A corretora afirma que enxerga o anúncio “como positivo, dado que a operação melhoraria os padrões de governança da empresa”.
Contudo, a preocupação com relação à fusão se mantém.
“Entretanto, esperamos um curto prazo volátil devido à falta de visibilidade quanto a fusão das bases acionárias, cenário macroeconômico desafiador e aumento da competição no setor”, diz relatório da corretora.
Com a Selic em ciclo de alta, em 7,75% atuais, o setor das varejistas sofre no Ibovespa, conforme reportado pelo Suno Notícias. A mesma XP que recomendou compra para os papéis citou, em relatório sobre o setor, que há uma “perspectiva macroeconômica mais desafiadora à frente, assim como uma maior volatilidade política”.