Vale investir em ações de varejo com a Selic no patamar de 13,75%? Analistas respondem
Após o Banco Central manter a taxa básica de juros, a Selic, em 13,75% e encerrar (até o momento) as subidas, o mercado ficou mais atento às empresas de varejo, diretamente ligadas à dinâmica inflacionária do mercado. A dúvida que fica é: vale a pena investir em ações de varejo com a refreada da Selic?
Rodolfo Margato, economista da XP Investimentos, prevê que a taxa Selic se mantenha neste patamar até junho de 2023 e, depois disso, o Banco Central deve encontrar espaço para iniciar um ciclo de corte de juros, levando a taxa básica para 10% até o final de 2023.
A favor dessa previsão, o mercado de trabalho também continua melhorando pelo menos até o início de 2023, diz o economista.
Em agosto de 2022, a taxa de desocupação prosseguiu em queda, atingindo 8,7% e situando-se 4,2 pontos percentuais abaixo do nível observado no mesmo período de 2021, segundo dados da Ipea (Instituto de Pesquisa Econõmica Aplicada).
Com a manutenção e possível queda da taxa Selic no próximo ano, Margato avalia que os segmentos de varejo que se posicionam melhor são os ligados à renda, como os atacadistas, enquanto as varejistas sensíveis ao crédito tendem a sofrer mais em um cenário de aperto de política monetária, ou seja de elevação de juros.
O economista não citou o nome de nenhuma empresa em sua análise. Mas relacionou setores: “Veículos, móveis, eletrodomésticos, produtos eletrônicos, materiais de Construção: todos esses bens são mais sensíveis às condições de crédito”, disse.
As principais varejistas ligadas à modalidade de crédito listadas na Bolsa são: Magazine Luiza (MGLU3), Via (VIIA3) e Americanas (AMER3).
Os itens de varejo mais sensíveis a renda, como alimentos, bebidas, artigos farmacêuticos e de higiene pessoal e combustíveis, têm sido sustentados por estímulos fiscais no curto prazo, a exemplo do Auxílio Brasil, e fatores econômicos como a queda de preço dos combustíveis, explica o economista.
“A retomada do mercado de trabalho acaba gerando um aumento da renda disponível. Não é um crescimento acelerado, mas é um aumento da renda disponível, o que acaba provendo certa sustentação para algumas atividades varejistas”, conclui.
Os principais atacadistas com ações listadas na Bolsa são o Assaí (ASAI3), Carrefour (CRFB3) e Grupo Pão de Acúcar (PCAR3).
Varejistas da categoria premium: desempenho mais forte
Margato destacou que empresas varejistas da categoria premium, que atendem um público de mais alta renda e que devem ter desempenho mais forte neste cenário, e os atacadistas, dependem mais da média e baixa renda no Brasil.
Empresas varejistas com perfil “mais premium” na B3 incluem a Arezzo (ARZZ3), Natura (NTCO3), o Grupo Soma (SOMA3) e Vivara (VIVA3).
Por outro lado, na visão de Gustavo Bertotti, economista-chefe da Messem, a queda de juros deve favorecer o consumo do varejo de forma geral.
“O consumo tende a aumentar com a Black Friday, que vai ajudar, claro, o varejo“, disse Bertotti. Atenção para o número: a Black Friday deve movimentar R$ 6,05 bilhões no comércio eletrônico neste ano, segundo a ABComm, com crescimento de 3,5% em relação a 2021.
Varejo de olho na Selic: afinal, quando a taxa deve cair?
Bertotti prevê que a Taxa Selic se mantenha ainda nesse patamar alto, mas é factível que o corte comece a partir de maio, como o mercado está prevendo.
Na decisão da última quarta (26) o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central, depois de anunciar a manutenção da Selic pela segunda vez no patamar de 13,75%,no sétimo encontro em 2022, indicou a estabilidade da taxa por “período suficientemente prolongado” após ter decretado o fim do ciclo de alta no encontro de setembro. O comitê alertou, porém, que pode retomar o aperto monetário caso a desinflação não ocorra como o planejado..
A taxa está no mesmo patamar que vigorou entre dezembro de 2016 e janeiro de 2017, depois do mais longo ciclo de alta de juros da história do Copom, iniciado em março de 2021. Nesse processo de aperto monetário, foram 12 altas consecutivas, com um aumento acumulado de 11,75 pontos porcentuais, o maior choque de juros desde 1999.
Desde então, os dados de inflação continuaram a mostrar moderação, assim como as expectativas de 2022 e 2023, embora não o suficiente para dar a “batalha” contra a alta de preços como ganha. A atividade, por sua vez, deu sinais de enfraquecimento, mas também marginais, enquanto o cenário internacional e o fiscal seguiram nebulosos.
Riscos do cenário político
Na reunião o comitê do BC disse que avaliará se manutenção por período prolongado será capaz de assegurar convergência com os índices de inflação: “O Comitê se manterá vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período suficientemente prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação.”
Relatório da XP comenta: “Daqui pra frente, a projeção é de que esse nível de juros deve ser mantido até meados de 2023, e cairá para 10% ao final de 2023. Porém, esse corte de juros será dependente do risco fiscal adiante.”
Os analistas da XP acrescentam: “No último mês, riscos domésticos relacionados ao cenário político voltaram ao radar dos investidores. Após vários meses com a volatilidade em patamares historicamente baixos, ela voltou a crescer depois dos resultados do 1º turno das eleições e tende a aumentar até o segundo turnos de eleições. É uma eleição muito mais apertada do que historicamente e o pleito segue ainda em aberto, aumentando as incertezas quanto ao que esperar depois desse final de semana.”
Nesse cenário as ações de varejo vão acompanhar essa volatilidade. Nesta semana, o Itaú BBA se reuniu com 25 instituições financeiras dos Estados Unidos para discutir as perspectivas, oportunidades e riscos para ações do Ibovespa.
“A maioria dos investidores concordou que varejo é um dos segmentos que mais se beneficiarão de taxas mais baixas e de incentivos governamentais para aumentar consumo”, destacaram os analistas do Itaú BBA. Os investidores de fora do país só discordam da avaliação de analistas brasileiros sobre as ações do varejo. Com taxas de juros ainda altas, o crédito aos consumidores é prejudicado. Existe ainda o risco maior de inadimplência, com consumidores em dificuldades de quitar dívidas. As empresas sofrem também para obter recursos, vital para o segmento sempre em busca de capital de giro. Eis as apostas desses investidores:
- No atacarejo, a preferência é pelo Assaí (ASAI3), mas alguns clientes têm interesse no Grupo Mateus (GMAT3);
- No varejo, a Renner (LREN3) e a Arezzo (ARZZ3) foram as escolhas mais consensuais, mas alguns mencionaram a Raia Drogasil (RADL3) e o Grupo Soma (SOMA3).
- No e-commerce, o Mercado Livre (MELI34) continua a ser a principal escolha, com otimismo sobre as perspectivas da empresa;
- as perspectivas são muito negativas para o desempenho de Magazine Luiza (MGLU3), Via (VIIA3) e Americanas (AMER3). A indicação é de cautela para essas ações, dizem esses investidores, em função do sobe e desce desses papéis na Bolsa.
A Genial Investimentos analisou o cenário macroeconômico para o setor de varejo e e-commerce para os próximos anos e a questão que surge é: está na hora de comprar Magazine Luiza (MGLU3)?
Os analistas alteraram a recomendação para as ações do Magazine Luiza, e rebaixaram os papéis para “manter”, similar ao neutro. O preço-alvo estimado para 2023 é de R$ 5,20, com potencial de valorização de 24% diante do preço de fechamento da terça-feira (27).
Os motivos que explicam a alteração na classificação são:
- As lojas físicas ainda possuem uma produtividade abaixo do esperado, o que deve desfavorecer as margens da companhia;
- Há desconto do papel, por parte da curva de juros, que não deve ser corrigido totalmente nos múltiplos históricos.
Neste segundo motivo, a Genial afirma que a correção não deve ocorrer em sua integridade pela assimetria de preço que o Magazine Luiza carrega sobre os outros dois principais players — Via (VIIA3) e Americanas (AMER3) — pelo seu e-commerce.
Esta matéria sobre ações de varejo não é uma recomendação de investimento.