Vale (VALE3) sofre com entrave de sucessão e minério em baixa. O que esperar das ações?

A discussão sobre o processo de sucessão no comando da Vale (VALE3) não foi a única justificativa para o ‘sobe e desce’ das ações da empresa nos últimos dias. Os papéis de uma das companhias mais valiosas da bolsa brasileira também sofrem com o recuo do minério na China, um de seus principais produtos. Diante desse cenário, o que esperar para os papéis da mineradora nos próximos meses?

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No mês de março, as ações da Vale já caem 5,52%, enquanto no acumulado do ano, a queda chega a 18,01%. Segundo Lucas Serra, analista da Toro Investimentos, há uma forte correlação entre o preço do minério de ferro – que chegou a cair mais de 7% na última segunda-feira (11) – e a cotação de VALE3.

O papel ordinário da mineradora recuou 1,27%, puxado pela queda de 2,62% dos preços do minério de ferro em Dalian, na China, a US$ 111,01 por tonelada – a menor cotação no fechamento desde 21 de agosto.

Temores de interferência política também pesaram sobre os papéis da Vale nesta quinta (14), enquanto investidores continuam repercutindo a carta de um ex-conselheiro da Vale que falou de uma “evidente e nefasta influência política” no processo sucessório. “Isso acabou fazendo preço e ainda gera desconfiança”, afirma o analista CNPI da CM Capital Alex Carvalho.

Cotação VALE3

Gráfico gerado em: 14/03/2024
5 Dias

“Com o preço mais baixo do minério de ferro, aliado a uma possível queda do volume vendido, as receitas da Vale são impactadas, o que se desdobra em menor lucro operacional e, possivelmente, lucro líquido mais baixo. Somado a isso, também é esperado que haja menor geração de caixa operacional”, afirmou, ressaltando que no 4T23 da Vale, cerca de 85% da receita da companhia foi proveniente do segmento de soluções de minério de ferro.

Além da questão do minério de ferro, o mercado também repercute a deliberação dos conselheiros da Vale de renovar o mandato do atual CEO, Eduardo Bartolomeo, até o fim deste ano, o que mexeu com as ações nos últimos dias. Ele teve 11 votos a favor de sua permanência e dois contra. O mandato se encerraria em 26 de maio próximo. 

De acordo com a decisão, Bartolomeo apoiará a transição para a nova liderança no início de 2025 e atuará como advisor (espécie de orientador ou conselheiro) da Vale até 31 de dezembro de 2025. 

“Agora, há mais tempo para o processo decisório, além da confirmação de que teremos uma nova pessoa ocupando a presidência”, disse Serra, acrescentando que a formação de uma lista tríplice por uma empresa de padrão internacional e a escolha do nome do futuro CEO da Vale poderia ter um prazo restrito.

Para Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, a perpetuidade de um diretor tende a ser um ponto positivo, mas não descarta alguns riscos envolvidos na negociação. “No caso da Vale, surgem preocupações quanto ao adiamento de um possível problema de governança e de, que nesse processo, o Estado siga pressionando para emplacar um nome mais alinhado ao governo”, destacou.

Ex-conselheiro da Vale diz que processo de sucessão de CEO foi manipulado; relembre

Na última terça-feira (12), segundo publicação da agência Reuters, José Luciano Duarte Penido, que renunciou ao cargo de membro do conselho de administração da Vale na véspera, afirmou em carta ao presidente do colegiado que o processo de sucessão do presidente-executivo da empresa “teve evidente influência política”.

Ainda de acordo com a agência, na votação para a renovação do contrato de Eduardo Bartolomeo como CEO até o final do ano, ocorrida no último dia 8 de março, apenas Penido e mais um conselheiro votaram contra. Penido estava no conselho de administração da Vale desde 2019, e chegou a ser presidente do colegiado antes do mandato atual de Daniel Stieler (indicado pela Previ).

O agora ex-conselheiro da Vale também possui longa data de atuação em commodities, tendo sido CEO da Samarco (joint venture da Vale com a BHP) por 13 anos e presidente do conselho da Fibria, antes da fusão com a Suzano (SUZB3), por mais de uma década.

Sobre a renúncia da Penido, a Vale comunicou que “o conselho de administração seguirá o curso regular de seus trabalhos, em conformidade com o estatuto social e as políticas corporativas da Vale, em linha com as legislações aplicáveis”.

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Rompimento da barragem da Samarco: provisionamento pode impactar dividendos?

De acordo com o último resultado da Vale, referente ao 4T23, a mineradora teve um lucro líquido das operações continuadas de US$ 2,442 bilhões no período, o que representa uma queda de 34,75% em relação ao mesmo período do ano anterior (4T22), quando o resultado foi de US$ 3,743 bilhões.

O balanço da Vale foi impactado negativamente pelo incremento na provisão atrelada ao rompimento da barragem da Samarco, cujo valor é de US$ 1,229 bilhão. Além disso, a mineradora também destaca um potencial acordo global com as autoridades brasileiras.

“Embora ainda sujeita a incertezas, nossa avaliação considera todas as informações disponíveis sobre o status do potencial acordo, os processos relacionados ao rompimento da barragem da Samarco e até em que medida a Samarco terá capacidade de contribuir com quaisquer desembolsos futuros”, pontuou a Vale no relatório de resultados.

Lucas Serra, da Toro Investimentos, lembra que o provisionamento da Vale não traz efeito caixa imediato, e que de acordo com o estatuto social da companhia, ela distribui pelo menos 25% do seu lucro líquido na forma de dividendos aos seus acionistas – assim, um menor lucro líquido, em tese, poderia impactar os dividendos distribuídos. 

“Contudo, de acordo com a política de remuneração ao acionista, a Vale distribui uma remuneração mínima de 30% do Ebitda ajustado menos os investimentos sustentáveis. Por essa ótica, o provisionamento realizado não afeta a distribuição dos proventos. E foi justamente isso que observamos. Com a divulgação dos resultados do 4T23, a Vale anunciou a distribuição de R$ 2,74/ação, aproximadamente, o que é um valor bastante significativo. Portanto, se continuar a gerar os atuais resultados, também deve permanecer uma boa pagadora de proventos”, avaliou.

Possíveis riscos em relação à Vale já foram precificados? O que esperar das ações?

Serra, da Toro Investimentos, observa que atualmente, há um desconto para ações da Vale, relacionado justamente à precificação dos riscos. Um dos principais deles está relacionado a um menor crescimento da economia chinesa, tese que veio perdendo força à medida que o ano de 2023 avançava, e que pode levar a um menor desempenho financeiro. 

“Em relação aos rompimentos, acredito que a Vale já tenha feito os provisionamentos cabíveis para a situação atual, tendo em vista o montante que ela pode ter que pagar. Seguimos construtivos com as ações para o longo prazo. Porém, para os próximos meses, os papéis podem desenvolver um movimento mais lateral, sem maiores drivers de movimentação”, ressaltou.

Por outro lado, Sidney Lima, da Ouro Preto Investimentos, acredita não ser tão simples assim dizer que os riscos da Vale já foram precificados, dada a dinâmica do mercado, principalmente quando o assunto é a economia chinesa. 

“Caso comecem a surgir indicadores otimistas e uma flexibilização da taxa de juros de curto prazo por lá, o mercado tende a olhar para a empresa com um apetite mais comprador. Ou seja, o caso da Vale depende muito da dinâmica econômica e toda a sua volatilidade”, pontuou.

Genial sobre Vale: embora cotação seja atrativa, há desafios a considerar

Bruno Rosolino, analista da Genial Investimentos, apresentou suas análises sobre a ação da Vale em um vídeo recente intitulado “Vale: Está barato para comprar? Entenda os riscos para as ações”.

Rosolino analisou os resultados do quarto trimestre do ano passado (4T23), destacando a relevância de entender os riscos antes de investir na mineradora. Ele observa que, embora a cotação da Vale seja atrativa no momento, há desafios que os investidores devem considerar.

O estrategista ressalta a incerteza de curto prazo, especialmente em relação à China, historicamente uma peça-chave para a mineradora brasileira. No entanto, ele enfatiza que há perspectivas operacionais mais positivas para este ano.

“O momento é bom, mas os investidores da Vale precisam estar cientes dos desafios e ruídos que podem influenciar os resultados”, diz Rosolino.

BTG rebaixa recomendação e fala em ‘armadilha de valor’

O BTG Pactual rebaixou a recomendação para Vale (VALE3) de compra para neutra, com preço-alvo de US$16. Segundo o banco, devido à capacidade limitada de prever os resultados, a sua confiança na tese de investimento da mineradora diminuiu consideravelmente. 

“Embora ainda consideremos as ações subvalorizadas e um tanto vendidas em excesso, elas agora parecem mais uma armadilha de valor do que uma oportunidade”, diz o BTG. 

Em relatório, o BTG afirma que o rebaixamento da Vale é tardio, pois as ações vêm flutuando em mínimas por vários anos, sofrendo pressão de venda de fundos estrangeiros. No entanto, o banco ainda considera que, dado o nível de despesas contínuas (com Brumadinho Samarco), as ações estão baratas. 

“Em termos de múltiplos, vemos a Vale negociando perto de 4,3x EBITDA esperado para 24, o que representa um desconto de 15% a 20% em relação aos pares australianos, justificado considerando o maior risco político e o nível de arrastos de fluxo de caixa”, comentam os analistas. 

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Giovanni Porfírio Jacomino

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