Previsto para ser divulgado nesta quinta-feira (27), depois do fechamento do mercado, o resultado do segundo trimestre da Vale (VALE3) deve refletir um período difícil em todo o setor, pressionado por custos persistentes e menores preços. As incertezas quanto à melhora na economia chinesa também deixam analistas receosos.
Em relatório, o Goldman Sachs espera que os resultados operacionais do segundo semestre melhorem, impulsionados pelo crescimento sazonal contínuo da produção, além da recente aprovação da licença da barragem Torto.
No entanto, com os recentes rebaixamentos de preço do minério de ferro e metais básicos, o Goldman revisou os ganhos anuais da Vale para baixo em 17%, para US$ 14,8 bilhões. Além disso, o real mais forte em relação ao dólar pode impactar negativamente a lucratividade da mineradora.
A Vale (VALE3) reportou no primeiro trimestre um lucro líquido atribuível aos acionistas de US$ 1,837 bilhão no primeiro trimestre deste ano (1T23), queda de 58,8% sobre igual período de 2022, quando obteve US$ 4,458 bilhões.
No segundo trimestre de 2022, a Vale apurou lucro líquido de US$ 6,2 bilhões no segundo trimestre de 2022.
Na média, relatórios de casas de análise estimam queda no lucro líquido da Vale, para até US$ 1,87 bi – o que equivaleria um recuo de quase 70% na comparação anual.
Queda no preço do minério de ferro
O Goldman afirma que, apesar da deterioração da atividade na China, os preços do minério de ferro têm se mantido resilientes durante o segundo trimestre de 2023, sustentados pelas elevadas taxas de utilização dos altos-fornos.
No entanto, para o restante de 2023, espera que os preços do material caiam para US$ 90 por tonelada, “devido a um ambiente de oferta sazonalmente mais forte, mas também devido a uma demanda global de aço cada vez mais opressora, preso entre a contínua contração imobiliária do ciclo inicial da China e ventos contrários à manufatura global”, pontuou.
Já para os analistas do BTG Pactual, a Vale continua sendo um dos nomes preferidos para exposição à reaceleração da economia chinesa, enquanto o governo do país asiático se esforça para alcançar sua meta de crescimento.
Segundo eles, a entrada de um acionista de referência como a Cosan (CSAN3) no conselho da mineradora pode ser benéfica para investidores de longo prazo. “Acreditamos que a empresa pode retornar cerca de 8% a 10% de rendimentos aos acionistas na forma de dividendos e recompras”, disse o banco.
Para a Genial Investimentos, apesar de tudo indicar uma retomada sequencial no resultado do 2T23, ainda não será um grande trimestre em termos de resultado, uma vez que a expectativa de melhora na casa de duplo dígito t/t ocorre muito mais em razão do 1T23 demasiadamente fraco em vez de necessariamente indicar um bom momento que a vive hoje.
“Com o 1T23 lastimável que a companhia enfrentou pela adversidade portuária reduzindo drasticamente o volume de vendas, acreditamos que o 2T23 obrigatoriamente denotará um crescimento substancial no EBITDA. Ainda assim, os custos serão um problema persistente para a Vale. Então, para efeitos de margem, esperamos pouco progresso no 2T23”, disseram.
Vale: 2T23 deve ter resultados “pouco animadores”
Por sua vez, o Santander espera um segundo trimestre de resultados pouco animadores para o setor de commodities – envolvendo empresas de metais, mineração, papel e celulose. Para o banco, a Vale deve ser um dos poucos destaques positivos, após maior volume de produção e vendas.
“Acreditamos que a Vale terá melhor desempenho entre as mineradoras cobertas, com seu Ebitda no 2T23 atingindo cerca de US$ 4,0 bilhões (alta de 13% no trimestre e queda de 27% na comparação anual)”, diz o Santander.
Por outro lado, a equipe do Santander acredita que o resultado das mineradoras seja afetado pela pressão de custos persistentes e preços realizados mais fracos no 2T23. “Notamos que os preços médios do minério de ferro e cobre caíram 9% e 5%, respectivamente, no trimestre.”
Com isso, segundo analistas, a CSN (CSNA3) e a CSN Mineração (CMIN3) devem ter os piores desempenhos.
Vale: produção de minério no 2T23 soma 78,74 mi de toneladas, alta de 6,3% na comparação anual
No segundo trimestre, a produção de minério de ferro da Vale totalizou 78,743 milhões de toneladas, alta de 6,3% na comparação com o mesmo período do ano passado e 17,9% maior do que no trimestre imediatamente anterior.
Já as vendas do minério de ferro foram de 63,329 milhões de toneladas no 2T23, uma alta de 0,9% frente ao mesmo período de 2022 e aumento de 38,1% em relação ao trimestre anterior.
De acordo com o relatório da Vale, o aumento da produção e vendas no 2T23 foi resultado da recuperação da produtividade do Terminal Ponta da Madeira (MA) ao longo do segundo trimestre, após as restrições de carregamento causadas pelas fortes chuvas que impactaram embarques e vendas no primeiro trimestre.
Ainda de acordo com o documento, o preço realizado de finos de minério de ferro foi de US$ 98,5 por tonelada — valor US$ 14,8 por tonelada menor a/a, principalmente devido aos menores preços de referência (US$ 26,9/t menor a/a), que foram parcialmente compensados por um menor impacto dos ajustes do sistema de precificação (US$ 9.1/t maior a/a).
Além disso, a Vale destaca que o preço realizado (US$ 160,4/t) de pelotas de minério de ferro foi de US$ 40,9 por tonelada menor a/a, devido aos menores preços do índice 65%Fe e prêmios de pelotas.
Produção de minério por região
Ainda segundo o documento, a produção de minério de ferro da Vale no 2T23 foi impulsionada por uma produção recorde para um segundo trimestre no S11D, seguido pelo sólido desempenho dos complexos Itabira e Vargem Grande, melhorando a qualidade média do portfólio de produtos da Vale. “A barragem Torto recebeu sua Licença de Operação e o comissionamento está em andamento”, disse a mineradora.
A Vale detalhou também a produção por sistema. Confira abaixo:
Sistema Sudeste: alta de 2,2 milhões de toneladas no comparativo anual, impulsionada principalmente pelo desempenho de Itabira como resultado da melhor qualidade do run-of-mine, que melhorou a produtividade das usinas, e maiores compras de terceiros.
Sistema Sul: alta de 1,3 milhões de toneladas no comparativo anual, devido ao melhor desempenho em Vargem Grande em função de melhorias no sistema de processamento a úmido e de disposição de rejeitos, além das iniciativas de confiabilidade do ativo.
Mais números da Vale no 2T23
A produção de cobre da Vale no 2T23 totalizou 78,8 milhões de toneladas, alta de 41% no comparativo anual e de 17,6% em relação ao trimestre imediatamente anterior (1T23).
Já a produção de níquel da Vale, que chegou a 36,9 milhões de toneladas, subiu na base anual (7,9%), mas caiu na base trimestral (-10,0%). Apesar disso, as vendas subiram 8,0% em relação ao mesmo período do ano passado, devido, principalmente, ao melhor desempenho operacional em Sudbury e na Indonésia.