A Vale (VALE3) divulga o seu balanço trimestral após o fim do pregão desta quinta-feira (28), e a queda no lucro pode passar de 40%, segundo projeções dos analistas. A companhia enfrenta uma retração de 9% nas suas ações no acumulado de 2022 e tem tido revisões recentes por parte dos analistas dado o cenário do minério de ferro na China.
As projeções para a Vale levam em consideração as mudanças recentes das cotações das commodities, o crescimento da China, a saúde financeira da companhia, e os dividendos.
Segundo dados do Status Invest, a Vale tem dividend yield (DY) de 16.9% nos últimos 12 meses e teve R$ 60 como cotação mínima nas últimas 52 semanas, enquanto a máxima foi de R$ 101.
Nesse cenário, a estimativa do consenso dos analistas compilados pela Bloomgerg projeta um lucro de US$ 4,3 bilhões para a Vale no 2T22.
Veja as projeções do consenso Bloomberg para a Vale no 2T22:
- Lucro líquido de US$ 4,319 bilhões
- Receita líquida de US$ 12,688 bilhões
- Ebitda de US$ 7,202 bilhões
- Margem Ebtida de US$ 56,8%
- Margem líquida de 34%
No segundo trimestre de 2021, a mineradora teve um lucro líquido foi de US$ 7,586 bilhões, um EBITDA ajustado proforma recorde de US$ 11,239 bilhões e uma receita de vendas líquida de US$ 16,675 bilhões.
Ou seja, se concretizadas, as projeções do consenso representariam uma queda de 43% no lucro, 35% no Ebitda e 23% na receita líquida.
Nas suas projeções, o BTG Pactual (BPAC11) tem recomendação de compra para os papéis VALE3, ainda que com estimativas abaixo do consenso.
A projeção é de US$ 11,3 bilhões de receita e US$ 3,66 bilhões de lucro líquido. Ainda assim, a tese da casa é de otimismo com os papéis.
“À medida que a China tenta colocar a economia de volta nos trilhos por meio de estímulos monetários e fiscais maciços, acreditamos que a demanda por commodities pode ser beneficiada na margem”, dizem os analistas do BTG, em visão otimista.
Na visão do Itaú BBA, o lucro da Vale deve ser de US$ 1,43 bilhão, o Ebitda deve ser de US$ 5,95 bilhões e a receita de US$ 11,15 bilhões.
A casa mantém o rótulo de ‘outperform’ e segue com preço alvo de US$ 20 para as ADRs e vendo “realização de preço de minério de ferro mais fraca compensada por volumes mais altos”.
“A Vale deve apresentar queda sequencial nos resultados no 2T22, pressionada por resultados mais fracos no minério de ferro divisão. EBITDA consolidado pode chegar a US$ 5,95 bilhões, queda de 7% no comparativo trimestral e 47% no anual. Observamos que o preço do minério de ferro deve cair US$ 27 por tonelada ante o trimestre anterior para para US$ 115/t, com preços spot mais baixos e impacto do mecanismo de precificação no trimestre”, analisa o BBA.
Os analistas da XP Investimentos (XPBR31) também recomendam compra para as ações da Vale, com um potencial de valorização de cerca de 30% ante a cotação atual, de cerca de R$ 71.
O parecer da corretora veio logo após a prévia operacional da companhia dar leves frustrações à casa – que não foram suficientes para mudar a tese dos analistas.
“Vemos esses resultados como ligeiramente negativos, já que a produção ficou abaixo dos números de consenso e os guidances para minério de ferro e cobre foram revisadas para baixo. Como esperado, a estação seca melhorou a produção geral e vemos a venda do Sistema Centro-Oeste como positiva e em linha com a estratégia da empresa de simplificação do portfólio e foco nas principais oportunidades de negócios. Continuamos positivos no preço de minério de ferro e na geração de caixa da Vale e por isso mantemos nosso rating de compra na ação”, afirma o Andre Vidal, Head Óleo, Gás e Materiais Básicos da casa.
BofA segue com cautela e espera queda nos dividendos da Vale
O Bank of America (BofA), por sua vez, projeta que o dividend yield vai cair de 21% no final de 2021 para 11% no final deste ano. Os analistas do banco estimam retração e citam o cenário de preço das commodities.
Em parecer do início do julho, o BofA cortou o preço-alvo das ações da Vale R$ 99 e dos ADRs para US$ 19, citando uma projeção de ‘deterioração geral’ das companhias mineradoras e siderúrgicas. A recomendação dos analistas é neutra para os papéis.
“Os produtores de aço estão sob pressão na China, nos EUA e também na Europa devido aos revezes do ciclo econômico. Atrelado a isso, o minério de ferro deve ultrapassar o patamar de excedente, reforçando nossa visão de baixa da casa e o deck de preços anterior, que prevê preços médios de cerca de US$ 95 por tonelada em 2023″.
Segundo a casa, no caso do níquel, as operadoras da China vêm aumentando a capacidade de conversão na Indonésia, indicando que o mercado provavelmente deve estar melhor abastecido em termos de oferta já no próximo ano.
No momento, a estimativa é de que, em 2022, a tonelada do níquel custe US$ 24.440, ao passo que as projeções apontam para US$ 18.750 em 2023.
‘Cenário é no mínimo desafiador’, diz Toro Investimentos
A Toro Investimentos cita que o cenário no curto prazo para os setores de Mineração e Siderurgia é “no mínimo desafiador”.
O analista de equities da Toro, Josias de Matos, comenta que a economia da China, que nas últimas duas décadas foi o grande motor do crescimento mundial, apresenta importantes sinais de desaceleração.
Assim, o especialista frisa que embora a meta de crescimento definida para o país tenha sido a menor em 25 anos, ‘de 5,5% de aumento do PIB na comparação anual, a Toro “acredita que o governo chinês terá extrema dificuldade em atingir este patamar”.
“Neste sentido, temos observado uma queda relevante nos preços do minério de ferro, que já devolveu toda a alta do ano e passa a cair em relação a 2021. A performance de Vale, tem acompanhado esse sentimento pessimista com relação à commodity, e já cai mais de 11% no ano. Não é atoa que a própria Vale reduziu suas projeções em relação à sua produção este ano, que deve ficar entre 310 milhões e 320 milhões de toneladas (a anterior estava entre 320 a 335 milhões)”, afirma.
“Com uma normalização do cenário macroeconômico mundial, tanto com relação à expectativa de crescimento chinês, como em relação à uma possível recessão nos EUA e Europa, sua cotação deverá retornar ao racional da tese e às variáveis microeconômicas que beneficiam a Vale“, conclui.