Os números referentes ao desempenho de vendas e produção no primeiro trimestre de 2024 (1T24) da Vale (VALE3), para a Genial Investimentos, “não são tão ruins, mas não são bons o suficiente”. Os analistas esperam lucro líquido de US$ 1,6 bilhão para o resultado do 1T24 da empresa, o que representa uma queda de 34,7% em relação ao trimestre anterior e 20,7% em relação ao mesmo intervalo do ano passado, conforme relatório da corretora publicado nesta quarta-feira (17).
O documento sobre o relatório da Vale no 1T24 mostra que a produção de pelotas surpreendeu positivamente, mas o preço realizado do fino de minério de ferro ficou aquém das expectativas, decepcionando investidores. A Vale enfrenta incertezas em relação ao cenário macroeconômico, especialmente com a demanda chinesa por minério de ferro e preços globais do produto.
A China, que é a principal consumidora do produto, enfrenta desafios estruturais, como o excesso de oferta de imóveis e o declínio populacional, o que levanta preocupações sobre a demanda futura por minério de ferro, pontuam os analistas.
No setor de minério de ferro fino, o preço médio atingiu a marca de US$ 100,7 por tonelada. Embora essa cifra represente uma queda de 14,9% em relação ao trimestre anterior e 7,3% em comparação com o mesmo período do ano passado, a surpresa foi que esse valor ficou abaixo das expectativas do consenso Bloomberg da semana passada.
A notícia impactou o mercado, com as ADRs da Vale caindo 2,75%, e suas ações na B3 recuando 1,20%, relembra o relatório. Mas os papéis da Vale acabaram se recuperando ao longo do pregão: subiram 1,5% em Nova York e 1,09% no Ibovespa.
A leitura de outros analistas é de que a empresa apresentou números acima das estimativas – mas não só: “A boa prévia operacional de Vale acima das estimativas dos analistas – que revisaram favoravelmente projeções para a mineradora no primeiro trimestre e no ano -, além do avanço do minério de ferro na China, assegurou alta para as ações do setor metálico, limitando assim as perdas do Ibovespa na sessão”, diz Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research.
Apesar da sazonalidade mais fraca no primeiro trimestre, devido às chuvas intensas após temperaturas mais altas, a Vale registrou uma produção de 70,8 milhões de toneladas de minério de ferro, uma queda de 24,5% em relação ao trimestre anterior, mas um aumento de 6,1% em comparação com o mesmo período do ano passado. Isso se deve em grande parte ao desempenho do projeto de mineração da Serra Sul, no estado do Pará, que superou as expectativas, entregando 17,7 milhões de toneladas, conforme análise da corretora.
Por outro lado, a divisão de ferrosos da Vale apresentou resultados ligeiramente melhores do que o esperado, com produção e vendas de finos superando as expectativas em 5% e 3,9%, respectivamente. A Genial diz que isso sugere que, apesar da queda sequencial, o trimestre da Vale teve uma composição favorável de produção, mesmo com a sazonalidade desfavorável característica do primeiro trimestre.
Outros produtos, como as pelotas, tiveram resultados mistos: a produção ficou um pouco abaixo do esperado, mas as vendas foram conforme o planejado.
Ebitda ajustado deve chegar a US$ 3,3 bilhões
Embora a empresa tenha apresentado números sólidos em termos de produção e vendas da Vale, as projeções da Genial indicam que o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) provavelmente terá uma leve contração em relação ao mesmo período do ano passado. Espera-se que o Ebitda da Vale atinja aproximadamente US$ 3,7 bilhões, representando uma queda de cerca de 0,9% em relação ao primeiro trimestre de 2023.
Essa contração pode ser atribuída a vários fatores, segundo os estrategistas, incluindo a dinâmica desafiadora de preços no segmento de finos de minério de ferro, que continuou a enfrentar um prêmio negativo. Além disso, o aumento dos custos operacionais, especialmente nas operações de cobre, contribui para essa tendência. A depreciação também teve um aumento devido à expansão da base de ativos ao longo do último ano.
A Genial diz ainda: “A queda maior do lucro líquido em relação ao EBITDA ocorre em razão do aumento do ritmo de provisionamento, que deverá ser alocado na linha de acionistas não controladores, destinada a Samarco, JV que possui a Vale e a BHP como sócias igualitárias (50% cada) e que operava a barragem de fundão que foi rompida em 2015, em Mariana (MG).”
Os analistas acrescentam: “Projetamos um valor de US$ 270 milhões de provisão para o 1T24 relacionado a este caso em particular, e destacamos que no 1T23 a Vale não movimentou uma quantia significativa nessa linha do P&L, fazendo com que o lucro líquido caia com mais força na comparação anual.”
As projeções iniciais dos analistas eram ainda mais pessimistas antes da divulgação dos números da prévia operacional da Vale. O desempenho positivo do preço realizado para pelotas ajudou a melhorar essas projeções, segundo relatório, resultando em uma revisão para cima do Ebitda ajustado, que agora é estimado em cerca de US$ 3,3 bilhões.
Na ponta do lápis, esse valor representa um aumento de aproximadamente 8,6% em relação às projeções anteriores, embora ainda implique em uma queda significativa em comparação com o trimestre anterior e o mesmo período do ano passado.
O relatório também aponta que os dividendos da Vale podem ser afetados pelas incertezas do mercado e pelas questões legais em andamento.
Apesar dos desafios enfrentados, os analistas mantêm uma recomendação de compra para as ações da Vale, com um preço-alvo de R$ 72,30 para Vale, na B3 ou US$ 14,50, nas ADRs.