Duas das maiores empresas brasileiras, Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4) sempre estão no radar dos investidores. Ambas são impactadas por fatores externos – no caso da Vale, pelo preço do minério de ferro, enquanto a Petrobras está sujeita ao preço internacional do petróleo. As políticas governamentais e a transição energética podem mudar a perspectiva de crescimento dessas gigantes. Com tanta complexidade, vem a pergunta fulminante: qual a melhor para investir?
Na semana passada, os papéis da Petrobras subiram no Ibovespa, à medida que os riscos políticos envolvendo a estatal diminuíram. Para José Torres, sócio da Apex Capital, o mercado superestimou o risco político. “No primeiro momento, o mercado aumentou muito o risco político e a ingerência na empresa. Quer dizer que o risco é zero? Não. Mas depende de várias condições macroeconômicas. E o cenário vem ajudando, com preço do petróleo comportado e dólar baixo, tirando pressão de alta de combustíveis”, avalia Torres em entrevista ao programa Super Clássicos da Bolsa 2023, da XP.
Cotação PETR4
O analista ainda pontua que sobre a Petrobras o mercado tem três preocupações: política de preço, a questão do capex e os dividendos.
“Na política de preços da Petrobras, parece que será alterada muito pouco, operando com preços mais próximos do limite inferior da paridade. Não é uma mudança drástica. A questão do capex, mesmo falando de uma série de novos projetos ou até de recompra de investimentos, é difícil imaginar a Petrobras fazendo um capex superior aos últimos anos. Leva tempo para estruturar um novo projeto, e tem uma série de órgãos de controle fiscalizando. Por fim, os dividendos, no qual mora a maior possibilidade de mudança, a estatal prometeu uma política até final de junho e tem dito que será uma política alinhada às empresas lá de fora”, explica Torres.
Vale: gargalos
Do outro lado, a Vale vem enfrentando problemas em sua produção e um consumo chinês que vem sendo abaixo das expectativas.
Segundo Roberto Reis, Sócio Fundador da Meraki Capital, os gargalos não vão ser resolvidos tão rapidamente. “Não consigo imaginar que os gargalos vão ser equacionados rapidamente. Desde 2018, após o desastre de Brumadinho, a Vale vem decepcionado com a produção de minério de ferro. Para se ter uma ideia, naquele ano, a Vale estava produzindo 360 milhões de toneladas de minério de ferro, agora são 310 milhões. Somado a isso, tivemos uma estrutura de aumento de custo. Em 2018, o custo por tonelada de minério de ferro era de US$ 13, hoje está em US$ 23 por tonelada. Contribui para isso uma série de fatores, como inflação geológica, ao retirar muito rejeito em vez de minério de ferro, além dos gargalos nas licenças.”
Reis diz que esses fatores vêm decepcionando os investidores, principalmente quando comparam esse desempenho ao de concorrentes.
Qual o cenário macroeconômico para Petrobras e Vale?
Na visão macroeconômica, Torres avalia que a Agência Internacional de Energia (AIE) adotou uma projeção de redução de oferta de petróleo muito grande ao longo de 2023. “A Rússia não caiu tanto na produção, temos que ver quanto tempo eles vão manter a produção com tanto embargo. Na Venezuela a produção está subindo, num patamar menor. Mas você tem uma série de lugares com produção alta. Os EUA são um pouco questionáveis – quando você observa o consumo o número de produção é bom. A atenção é no share com outros combustíveis, não do petrodiesel, mas com a venda de carros elétricos de forma global, já relevante. O etanol vem ganhando espaço. Então tem esse efeito de market share. Tenho dificuldade de ver essa queda que a agência tem visto no segundo semestre.”
Para Torres, o melhor cenário na Petrobras é o valor do petróleo oscilar no patamar em está. Se cair muito acaba consumindo Ebitda (Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) e subir pode gerar uma crise política.
Já na Vale, com uma dinâmica de preço menos complexa, o olhar está na China. “A gente viu a economia chinesa crescendo e expandindo mais para parte de serviços, mas não na de commodities e industrial”, pontua Reis.
De acordo com o gestor, na questão estrutural é possível que o pico de consumo de aço e produção de minério tenha passado na China, com a menor tração no mercado imobiliário local. “O lado bom é que a oferta está controlada, outras empresas tirando o pé na produção de minérios. Os estoques estão abaixo por parte das siderúrgicas.”
Petrobras: recompra de ativos
Torres não avalia como interessante a compra da Braskem (BRKM5). “Recomprar a Braskem, que tem um passivo associado grande, é bem complicado. Acho também muito pouco provável que a Petrobras venda a participação da Braskem, mas comprar o ativo inteiro é muito pouco provável.”
“No caso da Vibra (VBBR3), a empresa tem vários ativos logísticos que podem facilitar a importação, é possível [a recompra]. Recomprar a Vibra consome algum caixa, mas não é anormal, vendo a geração de caixa da Petrobras”, conclui.
Riscos e o ESG no horizonte da Vale e Petrobras
Reis avalia que a discussão da Petrobras está associada à governança. “A discussão sobre Petrobras é avaliar se continuamos short no portfólio. Nossa dificuldade é muito no G [governança]. Tenho muitas dificuldades em entender o que o governo quer da empresa. Além disso, a percepção de risco tende aumentar e ainda não deu tempo para o novo governo mexer no micro das empresas, diz o gestor que prefere Vale pelo custo mais barato.
Por outro lado, Torres aposta que as travas jurídicas com as leis de estatais mitigam os riscos políticos, ao menos por enquanto. “As duas compõem nosso portfólio [Vale e Petrobras] por serem baratas. No caso da Petrobras, a travas de governanças e o fato da importância de geração de caixa da Petrobras via impostos ou dividendos para questão fiscal do país, ajudam a mitigar riscos.”
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