Vale (VALE3): o que o investidor pode esperar da mineradora em 2024?
A Vale (VALE3) registrou um lucro de R$ 13,8 bilhões no terceiro trimestre de 2023, marcando uma queda anual significativa de 41%. Este resultado representa a terceira redução consecutiva nos lucros da empresa, que possui forte exposição ao mercado chinês.
Para o ano de 2024, alguns analistas citam pontos promissores da empresa, especialmente devido à sua correlação e peso no Ibovespa e à distribuição de proventos da Vale. No entanto, alertam para os desafios complexos que podem impactar a recuperação das ações.
Nos últimos trimestres, a Vale enfrentou uma série de contratempos operacionais, influenciando negativamente a percepção sobre a mineradora. Luís Moran, Head da EQI Research, destaca a dificuldade em traçar um cenário fundamentalista para a recuperação das ações da Vale ao longo de 2024, mesmo após a queda de 18% no acumulado de 2023.
“A desaceleração econômica global, resultante das políticas monetárias restritivas nas economias desenvolvidas, está prevista para continuar, reduzindo o nível de atividade em bens intermediários consumidores de aço”, observa Moran.
A Vale reportou um lucro líquido de US$ 2,836 bilhões no terceiro trimestre de 2023, valor 36,3% inferior ao anotado no mesmo período de 2022 e 217% acima do lucro obtido no segundo trimestre deste ano.
O analista ressalta a situação na China, principal mercado da Vale, onde o setor de construção civil enfrenta desafios estruturais pelo excesso de endividamento e estoques. O setor representa até 30% da economia chinesa e desempenhou um papel crucial no crescimento do país.
Para Lucas Serra, analista da Toro Investimentos, a situação na China é o fator-chave que pode destravar valor para a Vale. O governo chinês tem implementado estímulos financeiros para reacelerar a economia, buscando atingir sua meta de crescimento de cerca de 5% para o ano.
“Os últimos dados divulgados na China foram mistos. Ao observar a balança comercial, notamos um avanço das exportações, mas queda nas importações, indicando um consumo de estoques”, comenta Serra.
Nesta sexta (15), a Produção industrial da China registou alta anualizada de 6,6% em novembro. Esse número é maior que a previsão do mercado, de 5,4%.
Quanto ao minério de ferro e aço, as siderúrgicas na China continuam operando próximas à capacidade máxima, exportando aço abaixo do custo para o mundo todo, incluindo o Brasil. Moran destaca que, apesar de os grandes produtores de minério não terem aumentado os volumes de produção, há um potencial de queda nos preços do ferro no futuro.
“A nosso ver, a Vale tornou-se uma história sem catalisadores claros e com riscos crescentes de queda nos preços de seu principal produto. Embora os dividendos possam ser significativos, isso, por si só, não parece justificar os riscos”, afirma Moran.
Vale: analistas preveem margens melhores no 4T23
No último relatório de resultados da Vale, mais de 80% da receita foi proveniente das soluções de minério de ferro. Com o preço do minério em ascensão, ultrapassando US$ 130 por tonelada a curto prazo, analistas projetam uma melhoria nas margens e um desempenho superior no quarto trimestre de 2023.
A mineradora reportou que sua produção de minério de ferro sofreu uma redução de 4% no terceiro trimestre de 2023, o 3T23, na comparação anual, totalizando 86,238 milhões de toneladas.
A queda na produção da Vale ocorreu, segundo a companhia, com a menor produção de minério bruto (ou run-of mine no jargão técnico) do complexo de Paraopeba e à menor produção de Serra Norte.
Os estímulos econômicos recentes de Pequim têm contribuído a curto prazo, mas a incerteza persiste quanto à estabilidade nos atuais patamares de preços. Para Moran, o recente aumento nos preços do minério de ferro se deve à formação de estoques nas siderúrgicas chinesas antes do inverno.
“Não vislumbramos um cenário de aumento sustentado na produção de aço bruto na China, ultrapassando a marca de 1 bilhão de toneladas. Entretanto, observamos a crescente necessidade de a China exportar aço e produtos elaborados para manter a atividade interna, o que terá impactos negativos na cadeia, mas não altera o cenário fundamental”, comenta Moran.
Quanto a outras fontes de receita, como cobre e níquel, os analistas apontam para um ganho de impulso a médio prazo. “Estamos bastante confiantes nessas linhas de receita, considerando a transição da matriz energética, especialmente na eletrificação de veículos”, afirma Serra.
Em relação aos custos, um destaque no último relatório foi a redução do custo caixa C1, que retornou ao patamar de US$ 21,9 por tonelada, comparado aos US$ 23,5 por tonelada registrados em setembro.
Casas recomendam compra da Vale
Embora haja divergências quanto à sustentabilidade do preço do minério de ferro acima de US$ 130, várias casas de investimento estão recomendando a compra das ações VALE3.
O BB Investimentos recomenda a compra e vê potencial para a ação chegar a R$ 94, o que seria um upside de 31% em relação ao preço atual de R$ 73. O Santander também indica compra e projeta que o papel chegue a R$ 88 no próximo ano.
Já a Guide Investimentos avalia que a empresa está em um momento de transição, no qual os resultados da operação de minério têm sido mais fracos, mas recomenda compra, com preço-alvo de R$ 80, uma valorização em potencial de 12%.
O BTG Pactual é outro que tem recomendação de compra para as ações da Vale, com preço-alvo a US$ 19,00 (R$ 93). Para os ADRs, o preço-alvo é de US$ 14,90.
Atualmente, a Vale tem mais de 13% do peso na carteira do Ibovespa. Segundo Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, a companhia é uma das mais recomendadas entre as corretoras, com o Ibovespa concentrado em Vale e Petrobras (PETR4).
“Nós, analistas, ficamos muito refém disso. É muito ruim: observarmos um cenário do Ibovespa valorizando, sendo puxado por uma dessas duas empresas. Sem elas, a carteira fica fraca”, argumenta Cruz, que ainda assim se mantém cauteloso sobre desempenho da Vale.
O que diz o BTG sobre os dividendos da Vale para 2024?
No relatório, o BTG Pactual lembra que a empresa também reforçou seu programa de eficiência de custos, trabalhando para compensar a inflação, com uma nova orientação de manter sua base de custos fixos para a unidade de minério de ferro em US$ 6,1 bilhões (ante US$ 6,3 bilhões em 2022).
“A Vale também reforçou sua abordagem disciplinada de alocação de capital, tendo pago um rendimento de dividendos de 46% desde 2020, que esperamos que permaneça no futuro”, avaliaram.
Investimentos para os próximos anos
Em relação aos investimentos da Vale, a mineradora projeta um capex total de aproximadamente US$ 6 bilhões neste ano e de US$ 6,5 bilhões em 2024 em diante.
Nos próximos anos, a mineradora espera investir entre US$ 3,5 bilhões e US$ 4 bilhões ao ano em soluções para siderurgia e entre US$ 2,5 bilhões a US$ 3 bilhões em metais para transição energética.
A Vale disse que também espera desembolsar US$ 6,3 bilhões com gastos fixos em 2023 e US$ 6,1 bilhões em 2024.
Para compromissos de Brumadinho e Mariana, a Vale provisionou despesas totais de US$ 2,9 bilhões em 2023, US$ 3 bilhões em 2024 e 2025, US$ 1,9 bilhão em 2026, US$ 1,3 bilhão em 2027 e uma média de US$ 400 milhões nos anos de 2028 a 2035.
Projeções
A Vale projeta que a sua produção de minério de ferro deve encerrar 2023 em 315 milhões de toneladas métricas (Mt). Para 2024, a produção estimada do material é de 310 a 320 Mt, enquanto para 2026, o volume deve ficar entre 340 a 360 Mt.
Segundo a mineradora, para pelotas e briquetes, o volume esperado para este ano é de 37 Mt. Já no próximo ano, o número sobe para até 42 Mt e para até 55 Mt em 2026.
Ainda de acordo com a empresa, a produção de níquel da Vale deve atingir 165 mil toneladas (kt) em 2023, 160 a 175 kt em 2024 e 210 a 230 kt em 2026.
O volume produzido de cobre da Vale, por sua vez, está previsto em 325 kt neste ano, enquanto deve alcançar até 355 kt em 2024 e até 410 kt em 2026.
A companhia informou, ainda, que vê o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) variando de US$ 15,2 bilhões até US$ 31,0 bilhões em 2026, dependendo dos preços do minério de ferro.
Já o rendimento do fluxo de caixa da Vale ao acionistas em 2026 pode variar de 5,2% até 23,2%, conforme a mineradora.
Desempenho anual das ações da Vale
Cotação VALE3