Em fato relevante divulgado nesta segunda-feira (29), a Vale (VALE3) confirmou uma proposta de acordo enviada, juntamente com Samarco e BHP, ao Tribunal Regional Federal da 6ª Região, para encerrar os litígios envolvendo o rompimento da barragem de Mariana (MG).
De acordo com a Vale, as empresas “buscam a liquidação definitiva das obrigações previstas no termo de transação, na demanda judicial do Ministério Público Federal e em outras ações judiciais de entidades governamentais relacionadas ao rompimento da barragem da Samarco“.
A proposta de acordo enviada ainda não é vinculante e as companhias mantêm negociações com as autoridades públicas para a aprovação dos termos definitivos, disse a Vale.
O acordo da Vale (VALE3) consiste em um documento que define as obrigações de pagamento da Samarco, incluindo R$ 37 bilhões já investidos em remediação e compensação, deixando a proposta no valor total de R$ 127 bilhões.
O montante de R$ 72 bilhões seria pagável ao longo de determinado período ao Governo Federal, aos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo e aos municípios. A proposta também conta com R$ 18 bilhões em obrigações de fazer.
“Os valores da proposta são de 100%, o que inclui uma contribuição de 50% da BHP Brasil e da Vale como devedores secundários, caso a Samarco não possa financiar como devedor primário”, acrescentou a mineradora.
Acordo não altera provisionamentos da Vale, avalia Itaú BBA
Em relatório, analistas do Itaú BBA acreditam que os US$ 9 bilhões relativos à parcela da Vale em obrigações futuras, conforme a proposta, se traduzem em cerca de aproximadamente US$ 4 bilhões a valor presente, o que está em linha com as atuais provisões do balanço patrimonial da Vale.
“Assim, caso um acordo seja de fato alcançado, isso representaria uma surpresa positiva para os investidores que esperavam que as provisões da Vale correspondessem aos números da BHP (US$ 6,5 bilhões, no 4T23). Neste cenário, não haveria alterações nos atuais níveis de provisionamento da Vale, o que poderia ser lido como positivo para a empresa”, pontua a equipe de aço e mineração do banco.
Além disso, diz o Itaú BBA, um acerto definitivo representaria o fim de um importante saldo acionário da empresa, que tem sido tema central nas discussões com investidores desde 2015.
“Ressaltamos que ainda existem dúvidas importantes em relação ao valor final a ser desembolsado por cada empresa, como a capacidade da Samarco de financiar diretamente as obrigações. Observamos também que abordar esta questão no Brasil provavelmente reduz as chances de decisões negativas significativas em outras jurisdições, como as disputas em curso no Reino Unido e na Holanda”, completa.
O Itaú BBA tem recomendação outperform para as ações de Vale, com preço-alvo a US$ 14,00.
Vale acima de R$ 100 novamente? Veja a opinião de Tiago Reis
A Vale divulgou seu resultado trimestral mostrando US$ 1,68 bilhão de lucro, cifra que veio abaixo das projeções do consenso do mercado, assim como outras linhas relevantes do balanço, como Ebitda e receita líquida.
Apesar desse cenário e do contexto de queda das ações da Vale, o fundador e chairman da Suno, Tiago Reis, comenta que se mantém otimista com sua tese sobre a mineradora.
Indagado sobre a possibilidade de os papéis voltarem a cerca negociados acima de R$ 100, o fundador da Suno diz que “sim, é possível”, especialmente se considerada a estratégia de recompra de ações e os dividendos ao longo tempo – compondo o que é conhecido como ‘total return’.
Para o especialista, olhar puramente para os números de curto prazo seria uma análise míope, e que dispensaria todo o potencial da Vale.
Tiago comenta que, em um cenário em que a companhia consiga mostrar um bom crescimento e surfar melhor um cenário favorável, os papéis VALE3 poderiam voltar a superar a cotação de R$ 100.
“É muito previsível o resultado trimestral, já que ela solta seu relatório de produção e o preço do minério e do câmbio são públicos. Com esses dados dá para fazer uma planilha e chegar aos resultados da companhia sem muitas surpresas. Eu não olho o resultado do trimestre, estou olhando para os próximos cinco, dez, quinze anos”, comenta.
“Quando eu olho isso, vejo uma empresa ultra competitiva, com reservas de minério mais puras do mundo, que tem um valor muito grande e deve subir ainda mais”, completa.
Reis comenta que “não tem dúvidas” de que haverá uma forte demanda pelo minério de ferro da Vale pelos próximos anos e décadas e cita um fator macroeconômico que deve favorecer a companhia: o fato de que diversos países, como a Índia, devem ter grande demanda por causa do seu crescimento econômico esperado e pelo fato de serem países com uma renda per capita semelhante à da China em anos passados, durante o boom das commodities.
Além disso, ressalta que apesar dos solavancos na bolsa de Dalian nos últimos meses, o minério de ferro segue com uma cotação próxima da média dos últimos 10 anos (cerca de US$ 120 por tonelada).
Dividendos da Vale são satisfatórios?
Conforme dados do Status Invest, os dividendos da Vale representam um dividend yield (DY) de 11,1%, com R$ 6,98 pagos por ação no acumulado dos últimos 12 meses.
Tiago Reis comenta que é possível que a companhia até mesmo incremente os dividendos no futuro.
“A Vale poderia aumentar, se ela quisesse. O que eu acredito que a administração da Vale tem feito: eles têm mantido um dividendo constante e ao longo do tempo. Se as ações estão baratas, fazem programas de recompra”, explica.
Segundo Reis, essa é uma prática muito comum nos Estados Unidos, e a impressão é de que a mineradora tem seguido uma estratégia nessa linha.
Desempenho das ações de Vale
No intradia, as ações de Vale subiam 1,00%, a R$ 63,37. No mês, os papéis sobem 4,45%, enquanto no ano, caem 14,01%.
Cotação VALE3