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Vale (VALE3): Estudo indica que perfuração em local sensível causou o acidente em Brumadinho

Novo estudo indica causa do acidente de Brumadinho, com rompimento da barragem da Vale (VALE3)

Rompimento da barragem de Brumadinho, Vale. Foto: Wikimedia Commons

Em novo relatório sobre o acidente do rompimento da barragem da Vale (VALE3), em Brumadinho (MG), foi apontado como possível gatilho uma perfuração em local sensível na barragem B1, na mina Córrego do Feijão.

O documento confirma que a ruptura da barragem da Vale foi causada pelo fenômeno de liquefação, processo “intrinsecamente relacionado ao comportamento frágil não drenado do solo”, informa o Valor Econômico. A conclusão é da Universitat Politécnica de Catalunya (UPC), por meio do Centro Internacional de Métodos Numéricos en Ingenieria (Cimne).

O Cimne/UPC foi contratado após um acordo entre o Ministério Público Federal e a Vale, como parte das investigações sobre as causas do acidente que levou ao óbito 270 pessoas, em janeiro de 2019.

De acordo com o Valor, a análise feita pelo Cimne/UPC trabalhou com modelagem e simulação computacional para determinar objetivamente as causas prováveis ou determinantes e ou concorrentes do rompimento da barragem. Além disso, peritos da Polícia Federal acompanharam os estudos, assim como consultores técnicos independentes.

O resultado foi um relatório, de mais de 500 páginas, entregues ao Ministério Público na última segunda-feira, dia 04.

Perfuração em local sensível

Segundo o relatório, “a maioria dos rejeitos da barragem eram fofos, contráteis, saturados e mal drenados e, portanto, altamente suscetíveis à liquefação”. A liquefação é um processo em que uma massa de solo passa a se comportar como um líquido, conforme o observado em Brumadinho.

Entretanto, nenhuma das análises e simulações feitas pelo Cimne/UPC apontavam para um colapso iminente. “Na verdade, a estabilidade também é obtida mesmo que a análise seja continuada por um período de mais 100 anos. Este resultado sugere que algum fator ou evento adicional foi necessário para que a barragem rompesse”.

O gatilho mais possível foi encontrado a partir de uma simulação da sobrepressão de água associada à perfuração do furo B1-SM-13, que estava ocorrendo no momento da ruptura. Foram feitas ainda simulações de perfurações em outros pontos, mas em nenhum deles houve ruptura geral da barragem, reforçando a tese do furo B1-SM-13.

A mesmo conclusão foi obtida pela Polícia Federal em seu inquérito. De acordo com a PF, cinco dias antes do rompimento da barragem, funcionários começaram a perfurar uma área na parte inferior da barragem. O fluido usado pelos mineradores dobrou a pressão de água no local, que já era sensível, provocando a liquefação.

Segundo o inquérito, a barragem tinha um fator de segurança muito baixo, de 9%, quando o mínimo aceitável é 30%.

Resposta da Vale

De acordo com o Valor Econômico, em nota, a Vale afirma que o relatório elaborado pela UPC reforça a tese de que nunca se evidenciou um cenário de risco iminente de ruptura da barragem.

Entretanto, o discurso da mineradora era de que o rompimento da barragem havia sido causado por intensas chuvas na região, que reduziram a resistência do material sólido, além de alterações na estrutura da barragem que ocorrem naturalmente ao longo do tempo. O que não se provou verdadeiro.

Ainda segundo a mineradora, o estudo atesta que houve “uma conjugação particularmente desfavorável de circunstâncias no momento e no local em que se fazia a perfuração do 13º poço vertical por uma empresa especializada, operação essa que se destinava à instalação de equipamentos mais sofisticados para leitura do nível de água no interior da barragem”.

Se não fosse feita essa perfuração, a barragem da Vale, nas condições específicas em que se encontrava (paralisada há mais de 2 anos), segundo as simulações matemáticas do UPC, realizadas para um período de cem anos, permaneceria estável.

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