O fim do acordo de acionistas na Vale (VALE3) não deve gerar uma saída iminente dos principais acionistas da empresa por um grande motivo: a mineradora está descontada perante suas principais concorrentes e, por isso, é considerada por especialistas como um ótimo negócio atualmente.
De acordo com analistas ouvidos pelo SUNO Notícias, o preço atual das ações da Vale transforma a empresa em uma grande oportunidade para investidores na Bolsa de Valores de São Paulo (B3). Próximo das 15h30 (de Brasília), as ações da Vale eram cotadas a R$ 63,11, em queda de 0,13%.
“Acho que a chance [de venda da participação] é baixa até porque o preço está muito barato. Apesar de o preço da ação estar perto das máximas históricas, a empresa nunca esteve tão barata”, disse Rodrigo Glatt, sócio da GTI.
Segundo Clecio Danilo, especialista da SUNO Research, o valuation atual é atrativo para quem já investe na empresa ou para quem pensa em se tornar sócio da mineradora.
“A Vale, hoje, é uma das melhores oportunidades da Bolsa”, disse. Por isso, os investidores institucionais que comandavam a companhia dificilmente devem sair em um momento em que o futuro deve ser de valorização da companhia.
Pulverização do capital da Vale
Na segunda-feira (9), o acordo de acionistas da Vale, que mantinha a mineradora sob controle de um grupo de grandes investidores institucionais, expirou -o que poderia abrir caminho para que a companhia tivesse um controle difuso.
Mas, para isso, esses investidores, como Previ (Banco do Brasil), Funcef (Caixa), Petros (Petrobras) e Vivest (da antiga Cesp), além de Bradespar, Mitsui&Co e o braço de participações acionárias do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) , o BNDESPar, precisam se desfazer de posições – o que não deve ocorrer dado a análise de oportunidade e os bons resultados da companhia.
No terceiro trimestre deste ano, a Vale registrou um lucro líquido de US$ 2,91 bilhões, ante US$ 1,64 bilhão do mesmo período de 2019.
A receita líquida da Vale foi de US$ 10,76 bilhões no período entre julho a setembro de 2020, ao passo que o resultado do terceiro trimestre de 2019 foi de US$ 10,22 bilhões.
O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado da empresa foi de US$ 6,09 bilhões, ante US$ 4,60 bilhões do mesmo período de 2019. Além disso, de acordo com o relatório “O EBITDA ajustado, inclui US$ 129 milhões de despesas relacionadas a Brumadinho e de doações relacionadas ao COVID-19 e iniciativas de suporte ao combate a pandemia”.
Vale está descontada perante concorrentes
Apesar de o valor da ação estar em um patamar relativamente alto, a Vale está descontada perante as concorrentes. De acordo com Clecio Danilo, especialista da SUNO Research, enquanto a Vale é negociada a um EV/Ebitda de 3,94, enquanto que suas principais concorrentes, a Rio Tinto e BHP, são negociadas um múltiplo de 5,54 e 7,46, respectivamente.
“Historicamente, o desconto da Vale pegando Rio tinto era de 5% a 10%. Hoje, esse desconto está em cerca de 30%”, disse Danilo.
“Por isso, sair de Vale não é uma decisão fácil de ser tomada em um curto espaço de tempo”, complementa Rodrigo Glatt, da GTI.
De acordo com os especialistas, há dois motivos de a Vale estar descontada em relação a seus pares: os desastres de Brumadinho e Mariana e a onda Environmental, Social and Corporate Governance (ESG), que apesar de não ser favorável a nenhuma mineradora, afeta mais a Vale dado o histórico de tragédias.
“Como a Vale teve os dois acidentes, boa parte do capital que ela tinha no passado deixou de ser investido e, por isso, ela negocia em múltiplos com um desconto muito grande”, afirmou Glatt.
Barragens e ESG
Para Clécio Danilo, a chave para a companhia voltar aos patamares históricos é resolver os problemas relacionados as barragens de minérios descartados.
“O driver que contribui para melhoria dessa percepção de risco é o processo de descaracterização das barragens a montante da companhia, mas isso vai levar um tempo, alguns anos”, disse.
O banco de investimentos Goldman Sachs vai pelo mesmo caminho. Segundo publicação da instituição, as questões relacionadas a Brumadinho, como indenizações e o dano a imagem, continuam sendo o principal motivo de a empresa estar descontada.
“Em nossa opinião, este continua a ser um dos principais fontes de preocupação de investidores, juntamente com a rampa completa de ferro até 400 milhões de toneladas anuais no nível de produção”, disse, em nota, o banco.
Com os problemas de Brumadinho ainda em aberto, a empresa ainda fica distante de se cacifar para os critérios de ESG – muito valorizadas no mercado atualmente.
A empresa ainda negocia com o Estado de Minas Gerais e demais autores da Ação Civil Pública (ACP) de Brumadinho um acordo global de indenização em relação aos danos causados na tragédia.
“Há nova onda do ESG, em que as empresas são descontadas por seguir ou não essa política”, disse Glatt sobre a Vale.
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