Vale (VALE3) e Eletrobras (ELET3) são excluídas de fundos por questão ambiental

Fundos de investimentos estrangeiros fazem pressão na defesa de uma pauta ambiental e de preservação da região Amazônica. De acordo com o “Estadão”, com o mercado cada vez mais pressionado pelo tema, os investidores falam em um cenário difícil para manter investimentos no Brasil graças a política brasileira em relação ao tema, excluindo empresas como Eletrobras (ELET3) e Vale (VALE3).

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O Fundo Soberano da Noruega, o maior do mundo, excluiu no ano passado Eletrobrás e Vale de seu portfólio e mencionou a necessidade de metas claras de redução de emissão de gás carbônico. Com a retirada de recursos do País e de empresas como a Vale, o fundo deixou claro que questões ambientais vieram para ficar na composição de métricas para aportes dos grandes fundos.

Para especialistas, essa fonte de financiamento pode fazer falta para as empresas brasileiras, como a Vale e a Eletrobras, Para o presidente do fundo norueguês Storebrand, Jan Erik Saugestad – executivo que em junho do ano passado liderou um grupo que enviou uma carta ao governo brasileiro cobrando medidas de proteção à Amazônia -, é preocupante a escalada do desmatamento e de incêndios em florestas no Brasil, mas também o aumento de denúncias de ataques a indígenas e a defensores de direitos humanos e do meio ambiente. “Essa combinação cria incertezas entre investidores sobre as condições de investir no Brasil”, afirmou ele ao Estadão.

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“Nosso objetivo é continuar a apoiar o crescimento econômico brasileiro como investidores, mas a tendência de aumento do desmatamento no Brasil torna cada vez mais difícil para empresas e investidores atenderem às suas ambições ambientais, sociais e de governança”, comenta. Segundo ele, a expectativa é que o governo brasileiro siga o caminho para proteger as florestas e os direitos humanos, garantindo a manutenção de investimentos em atividades empresariais consideradas sustentáveis.

“Sem um compromisso significativo do governo brasileiro e das empresas para enfrentar as mudanças climáticas e o desmatamento, investir no País ficará cada vez mais difícil”, comenta o gestor do fundo de ações para países emergentes da Aviva Investor (seguradora inglesa e uma das maiores da Europa), Jonathan Toub.

O gestor acrescenta que não viu nenhuma melhoria significativa em relação ao desmatamento da Amazônia após a pressão dos fundos no ano passado. À época, empresas e bancos de capital nacional também defenderam mudanças na política ambiental do País. “O retorno antecipado do monitoramento e fiscalização do Ibama é positivo, mas estamos preocupados com o financiamento para essas agências e o desmatamento continua sem parar.”

Medidas efetivas para evitar exclusão de Vale

Conhecida como uma gestora focada em investimento sustentável, a holandesa Robeco diz que hoje o assunto desflorestamento se tornou um tópico obrigatório no momento em que se discute investimentos no Brasil, em empresas como Eletrobras e Vale, por exemplo.

“Devido a nossa experiência em investimento sustentável, levamos em consideração os desenvolvimentos da sustentabilidade em nosso processo de investimento ao avaliar se devemos comprar títulos soberanos ou ações locais listadas. Este tem sido um tema quente nas discussões sobre investimentos no Brasil, devido ao recente aumento nas taxas de desmatamento e também às dificuldades que o País enfrentou durante a pandemia”, afirma a responsável por ativos no Brasil e demais países emergentes, Daniela da Costa-Bulthuis.

Dentre as medidas concretas que o País poderia dar nesse sentido, opina Daniela, estaria o comprometimento à tolerância zero ao desmatamento e alinhamento ao Acordo de Paris, tratado mundial que tem o objetivo de reduzir o aquecimento global. “Seria um bom ponto de partida. Sentimos falta de um plano de desenvolvimento sustentável de longo prazo para o País”, diz.

O fundo nórdico Nordea também foi um dos fundos que assinaram a carta enviada ano passado ao governo brasileiro. Segundo o fundo, que possui 354 bilhões de euros sob gestão, a percepção é que a direção geral do governo não mudou. “Assim, não vemos até o momento nenhuma melhoria material em relação ao meio ambiente e à região amazônica”, de acordo com o fundo, em nota enviada ao Estadão. O Nordea, afirma que há muitas oportunidades de investimentos no Brasil, mas admite que não está comprando mais títulos da dívida soberana brasileira – mas também não vendeu os papéis que possui.

Procurados, os ministérios do Meio Ambiente, de Relações Exteriores e da Economia não se pronunciaram até o encerramento desta edição. Em nota, o Ibama disse que, “até o momento, também não vimos nenhum desses fundos escolherem áreas no programa Adote Um Parque para adotar”.

“Se fundos saírem do Brasil, será criado um vácuo para empresas”

A mobilização global em torno da Amazônia colocou o assunto na pauta e trouxe à tona o fato de que o desmatamento ilegal é “o efeito colateral de gestão pública equivocada e perversa, que perpetua a pobreza e a ilegalidade”, afirma o professor Jacques Marcovitch, professor emérito da Universidade de São Paulo (USP) e conselheiro consultivo da Fundação Amazonas Sustentável. Do ponto de vista econômico, ele lembra que o Brasil precisa de recursos estrangeiros e a saída de fundos globais do País pode criar um vácuo de financiamento para as empresas.

• Qual é a percepção global em relação ao Brasil?
O Brasil é percebido como um Estado-nação que assumiu compromissos, no âmbito regional da OTCA, no Pacto de Leticia para a Amazônia e no âmbito global do Acordo de Paris, que refletem o decidido engajamento brasileiro na questão ambiental. Do outro lado, lideranças políticas movidas pela ‘cultura do confronto’ têm agido na contramão destes compromissos. Declarações, portarias, decretos e instruções normativas do Ministério do Meio Ambiente, além de provocar o desmantelamento da governança do Fundo Amazônia, nutrem motivos para que o atual governo federal seja pressionado a honrar compromissos nacionalmente determinados e ratificados pelo Congresso Nacional. É inegável que a pressão internacional levou o atual governo brasileiro a rever suas ações ou inações na Amazônia.

• No ano passado, grandes fundos internacionais pressionaram o País por medidas para redução do desflorestamento. Houve alguma mudança desde então?
Uma das mudanças foi a recriação do Conselho da Amazônia, sob o comando do vice-presidente da República, general Hamilton Mourão. A mobilização pela redução do desflorestamento foi acompanhada por uma disseminação do conhecimento sobre a complexidade da Amazônia. Uma complexidade que demanda uma robusta governança, que integra os níveis federal, estadual e municipal, governo, academia, sociedade civil e Forças Armadas. Trata-se de uma governança que concebe, viabiliza e avalia políticas públicas coordenadas por conhecedores da região, estratégias de longo prazo e um monitoramento centrado em métricas e indicadores.

• Com esse movimento, o que se tornou mais claro sobre o tema?
Tornou-se evidente que o desmatamento ilegal é o efeito colateral da gestão pública equivocada e perversa, que perpetua a pobreza, a ilegalidade e o crime ambiental. Por isso, passou a ser defendida a transformação da Amazônia em um campo de legalidade, o que estimularia brasileiros e estrangeiros a investir em cadeias produtivas da bio-economia.

• Quais efeitos econômicos o Brasil poderá ter se os recursos de grandes fundos globais começarem a sair do País?
O Brasil, como todas as economias emergentes, precisa da poupança internacional para melhorar suas métricas de desenvolvimento. Se estes fundos saírem do País, será criado um vácuo para empresas que se capitalizam para cumprir suas metas de expansão. Não foi por outro motivo que uma mobilização de grandes bancos e empresas divulgou um documento em prol de melhor governança na Amazônia. Além do seu legítimo engajamento na melhoria dos padrões de sustentabilidade, estava o receio, também legítimo, de que estes grandes fundos riscassem o Brasil do seu mapa de investimentos.

• Que tipo de ação o setor privado brasileiro poderia encabeçar para ajudar a reduzir o desflorestamento no País?
Os agentes econômicos, em todos os países, emergem como apoiadores relevantes na sociedade civil dos esforços de Estados nacionais para mitigar as causas e efeitos das mudanças climáticas. Sendo a Amazônia uma referência global, é cada vez mais legítimo que o setor produtivo e o sistema financeiro se posicionem no combate ao desmatamento e a favor da preservação deste patrimônio ambiental da humanidade. Este olhar do empresariado sobre a Amazônia pode sinalizar o melhor caminho para a geração de empregos na região.

As informações sobre o tema referente a Vale e Eletrobras são do jornal O Estado de S. Paulo.

(Com Estadão Conteúdo)

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Vinicius Pereira

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