O BTG Pactual rebaixou a recomendação para Vale (VALE3) de compra para neutra, com preço-alvo de US$16. Segundo o banco, devido à capacidade limitada de prever os resultados, a sua confiança na tese de investimento da mineradora diminuiu consideravelmente.
“Embora ainda consideremos as ações subvalorizadas e um tanto vendidas em excesso, elas agora parecem mais uma armadilha de valor do que uma oportunidade”, diz o BTG.
Em relatório, o BTG afirma que o rebaixamento da Vale é tardio, pois as ações vêm flutuando em mínimas por vários anos, sofrendo pressão de venda de fundos estrangeiros. No entanto, o banco ainda considera que, dado o nível de despesas contínuas (com Brumadinho e Samarco), as ações estão baratas.
“Em termos de múltiplos, vemos a Vale negociando perto de 4,3x EBITDA esperado para 24, o que representa um desconto de 15% a 20% em relação aos pares australianos, justificado considerando o maior risco político e o nível de arrastos de fluxo de caixa”, comentam os analistas.
Nos últimos dias, as notícias circulando em torno da Samarco/Renova se deterioraram, com a empresa reconhecendo novas provisões de até US$4,2 bilhões e uma resolução final ainda podendo levar meses. Além disso, a empresa experimentou uma série de interrupções operacionais no estado do Pará, indicando animosidade de autoridades locais em relação à empresa.
Fora isso, há uma clara divisão entre os membros do conselho sobre a direção futura da empresa, o que os analistas avaliam ser preocupante para uma empresa com tantos desafios pela frente.
“Em nossa opinião, os riscos bottom-up aumentaram recentemente, pressionando a geração de FCF (Fluxo de Caixa Livre) da empresa e o potencial de dividendos – levando-nos a acreditar que esses riscos ainda não foram totalmente precificados pelo mercado”, cita o BTG.
Vale: minério de ferro não tem sido uma decepção-chave, diz BTG
Segundo o BTG, o minério de ferro não tem sido uma decepção-chave há anos, se esperando pouco crescimento na oferta para os próximos anos, fato que deve continuar a sustentar os preços da commodity nos patamares atuais.
“Um dos principais aspectos do caso de investimento da Vale é uma vantagem competitiva resultante de seu minério de maior qualidade em comparação com os concorrentes”, afirmam os analistas.
A tese é que a mistura premium de produtos da Vale comandaria diferenciais de preço mais altos no futuro, com a descarbonização da indústria siderúrgica da China, informa o BTG. O problema é que a indústria chinesa está sofrendo com uma capacidade excessiva massiva, e a lucratividade está sob pressão, com as usinas funcionando praticamente com margens de conversão negativas.
“Nesse cenário, a busca é por corte de custos e sobrevivência, e ninguém está realmente pagando por prêmios de qualidade atualmente (prêmios de Carajás mais próximos de US$ 10/t “apenas”). Assim, ao longo de 2024, atribuímos uma probabilidade muito baixa de que os prêmios de qualidade do minério de ferro se expandam”, conclui o banco.
Citi vê estimativa de produção ‘mais realista’ que as projeções para 2024
O Citibank reiterou recomendação de compra para as ações da Vale (VALE3), com preço-alvo de US$ 18,50, apesar dos ruídos envolvendo a nova escolha do presidente da companhia. Segundo o banco, o guidance de produção da Vale é realista, mas a empresa pode superá-lo.
Em 2024, as projeções para o minério de ferro estão em uma faixa de 310 a 320 milhões de toneladas métricas.
Segundo a mineradora, para pelotas e briquetes, o volume esperado para este ano é de 37 Mt. Já no próximo ano, o número sobe para até 42 Mt e para até 55 Mt em 2026.
Ainda de acordo com a empresa, a produção de níquel da Vale deve atingir 165 mil toneladas (kt) em 2023, 160 a 175 kt em 2024 e 210 a 230 kt em 2026.
Outro fator positivo, diz o Citibank, é que os preços do níquel estão próximos do nível mais baixo, indicando um momento de retomada no valor. A mineradora perdeu entre US$ 1 bilhão e US$ 2 bilhões no Ebitda (Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) devido à queda dos preços dessa commodity em 2023.
Além disso, os analistas expressam preocupação com a sucessão do atual presidente da empresa, as concessões ferroviárias pendentes e as negociações envolvendo a Samarco.
Os estrategistas esperam que as questões relacionadas à sucessão e às concessões sejam resolvidas favoravelmente nos próximos dois a três meses, com a sucessão favorecendo o mercado e as concessões seguindo um acordo semelhante ao MRS.
“A Samarco demorará mais, mas esperamos que seja resolvido no segundo semestre”, afirmam”, dizem os analistas do Citibank.
O desempenho dos papéis da Vale no ano tem sido fraco devido à queda do minério de ferro, resultando em uma baixa de 15%. No entanto, o valuation da ação é considerado adequado, com um rendimento esperado de fluxo de caixa livre de 11% para 2024, com o preço do minério de ferro a US$ 120 por tonelada.
Desempenho anual das ações da Vale
Cotação VALE3