Vale (VALE3) atualiza projeções, mas decepciona investidores. Qual o motivo?

A Vale (VALE3) atualizou ontem suas projeções para 2023 durante evento com investidores na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) e viu suas ações despencarem. A queda decorreu tanto pela revisão das estimativas de produção quanto pelo desempenho do minério de ferro na China.

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Entre os números atualizados para o ano que vem, a Vale prevê uma produção de  310 milhões a 320 milhões de toneladas de minério de ferro. Em relação ao níquel, a produção passará de 180 milhões de toneladas para 160 a 175 milhões. Já o cobre, cuja produção atual é de 260 milhões de toneladas, subirá para entre 335 e 370 milhões.

Além disso, a mineradora atualizou a projeção de fluxo de caixa livre (FCF) para 2026, cujo valor poderá variar entre US$ 5,7 bilhões e US$ 12,4 bilhões. Porém os valores poderão variar a depender das cotações médias anuais de minério de ferro, níquel e cobre. 

Investidores cautelosos: é tudo culpa do minério de ferro?

Apesar do otimismo nas atualizações feitas no Vale Day, a mineradora figurou uma das maiores quedas do Ibovespa ontem (7), fechando o pregão com baixa de 3,56% e tendo seus papéis negociados a R$ 84,84. Nesta quinta (8), os papéis da Vale avançaram 1,19%, negociados a R$ 85,85.

A queda de ontem teve como motivos o minério de ferro e o cobre, que sofreram baixas no exterior. Em Cingapura (SGX), o minério de ferro caiu cerca de 2,4%, sendo comercializado por US$ 105,60 a tonelada. Já o cobre teve queda de mais de 1% em Londres (LSE), fechando ontem em US$ 8.334. 

Nesta quinta, o minério de ferro reverteram a tendência do dia anterior: os contratos futuros em Cingapura subiram 3,26%, a US$ 109,20 por tonelada. Na Bolsa de Dalian, o minério acelerou 1,41%, a US$ 13,26 a tonelada. O cobre fechou em alta de 0,53%, a US$ 8.540.

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Mas, conforme apontam Marcio Farid, Gabriel Simões e Henrique Marques, analistas do Goldman Sachs, essa não é a principal razão para os investidores estarem cautelosos com a Vale. Segundo eles, apesar da lenta recuperação da demanda da China, notícias sobre a reabertura e medidas imobiliárias podem apoiar o mercado e o desempenho do preço das ações.

Goldman Sachs reduz preço-alvo da Vale

Em relatório divulgado hoje, o banco reiterou a recomendação neutra e cortou o preço-alvo dos recibos de ação (ADRs) de US$ 12,50 para US$ 12 — apesar da queda, o valor representa alta de 25,8% sobre o fechamento de ontem.

“O guidance de 2023-24 sobre custos, produção e fluxo de caixa relacionado às despesas de Mariana/Brumadinho foi para nós (e para muitos investidores com quem conversamos), um dos principais impulsionadores do corte de 2 a 7% na nossa projeção de EBITDA [lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização] para o período”, afirmam.

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No documento, os analistas apontam que a administração da Vale havia subestimado os impactos do acidente de Brumadinho tanto na produção e licenças quanto sobre sua capacidade estrutural. Além disso, apenas em indenizações a mineradora prevê gastos em torno de US$ 3,9 bilhões no ano que vem e de US$ 2,9 bilhões em 2024, conforme divulgado durante o Vale Day.

“Destacamos que as despesas potenciais mais altas, relacionadas ao acidente de Mariana, podem se tornar realidade já que um acordo final está sendo alcançado com muitas das partes interessadas (governo, agências reguladoras, Ministério Público e etc).”

XP recomenda compra: mineradora é “melhor player do setor”

Por outro lado, com novas projeções para produtividade nos próximos anos, analistas da XP reiteraram seu otimismo com os papéis da Vale. Segundo a casa, o foco é manter a prioridade no valor em detrimento do volume.

“A empresa reconheceu que subestimou os desafios de recuperar a produção perdida após Brumadinho. A Vale agora visa 360Mt como orientação no longo prazo, mas com um teor de ferro mais alto”, diz a XP.

Considerando a inflação geral de custos, a empresa vê US$ 70 por tonelada de minério de ferro como uma hipótese inviável de preços de longo prazo para a commodity. Atualmente a mineradora usa a faixa de preço minério de Ferro 62% de US$ 90 a 119 por tonelada para avaliar o fluxo de caixa de 2026.

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Mineradora poderá vender até 10% de seu negócio de metais básicos

Ainda durante a Vale Day, a mineradora revelou que busca atrair um parceiro que ficará com fatia de até 10% de seu negócio de metais básicos e fechar a operação em meados de 2023. O cobre e o níquel são matérias-primas para a fabricação de baterias de carros elétricos e estão em meio a um movimento de eletrificação que visa a descarbonização.

Desta forma, segundo a mineradora, será possível trabalhar para aprimorar a gestão desses ativos e gerar mais valor. Além disso, a companhia projeta boas perspectivas para a demanda global por metais básicos.

Segundo a Vale, já há ofertas de potenciais sócios e a intenção é realmente separar o novo negócio — que será responsável pela produção de níquel e cobre — do restante da companhia. Porém, o plano é manter a Vale no controle acionário da nova empresa, que ainda não tem nome e nem sede, mas terá governança e gestão independentes.

De acordo com a apuração do jornalista Francisco Góes, do Valor Econômico, a mineradora projeta que a nova companhia possa vir a superar o próprio valor de mercado da Vale – avaliada em R$ 405 bilhões. Embora a Vale não precise do aporte de recursos do futuro sócio, a operação é importante considerando visão de médio e longo prazos.

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Janize Colaço

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