A Vale (VALE3) reinstalou nesta segunda-feira (3) sua Assembleia Geral Ordinária (AGO) após a sessão ter sido suspensa na semana passada com a reclamação de erro na contagem dos votos.
Na sexta-feira (30), os acionistas detentores de American Depositary Receipts (ADRs, recibos de ações negociados no mercado americano) notaram um possível erro no cômputo dos votos. Ao longo do fim de semana, o Citi, instituição depositária dos ADRs da Vale, realizou a recontagem dos votos.
A AGO vai eleger o conselho de administração que vai ditar os rumos da companhia no biênio 2021-2023.
A eleição é emblemática por ser a primeira após o fim do acordo de acionistas da mineradora, em novembro do ano passado. A migração da Vale para o modelo de “corporation”, empresa sem controle definido, está sendo observada pelo mercado. Com 16 candidatos para 12 vagas – além da cadeira dos empregados, já eleita em separado – o resultado ainda está em aberto e a disputa promete ser acirrada.
A principal divergência na reunião de sexta-feira, marcada por várias interrupções, se deu em torno do cômputo de votos do grupo Capital – acionista relevante da Vale, com 11,3% do capital – para o ex-presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, um dos quatro nomes alternativos à lista da companhia e indicados por fundos de investimento e gestoras como Geração Futuro, Argucia e RPS. Fundos com mais de 5% do capital com direito a voto da Vale solicitaram a adoção do voto múltiplo, mecanismo pelo qual cada ação passa a valer tantos votos quantos sejam os cargos a preencher e o acionista pode concentrá-los em um só candidato ou distribuí-los entre vários nomes.
Além de Castello Branco, os minoritários indicaram o advogado e conselheiro independente da Vale, Marcelo Gasparino, a conselheira do Grupo Soma e do Banco do Brasil, Rachel Maia, e Mauro Cunha, ex-conselheiro de Petrobras, Caixa e Eletrobras, que comandou por anos a Associação de Investidores no Mercado de Capitais (Amec).
A Vale indicou 12 nomes, sendo oito classificados por seu comitê de nomeação como independentes. Dos indicados, apenas cinco são estreantes, enquanto os demais já atuam no board da mineradora: José Luciano Penido (CEO da Samarco de 1992 a 2003); Fernando Buso, (diretor-presidente da Bradespar); Eduardo Rodrigues (sócio da CWH Consultoria e ex-diretor da Rio Tinto), José Maurício Coelho (presidente da Previ), Murilo Passos (chairman de São Martinho e Tegma), Roger Downey (ex-presidente da Vale Fertilizantes) e Sandra Guerra (consultora de governança corporativa).
Dos novos integrantes propostos pela Vale, quatro são estrangeiros. O australiano Clinton Dines, ex-CEO da BHP na China; a americana Elaine Dorward-King, ex-head de Saúde e Meio Ambiente da Rio Tinto; o japonês Ken Yasuhara, ex-diretor de Mitsui e Sumitomo; e o britânico Ollie Oliveira, que passou pelas mineradoras Anglo American e DeBeers. A brasileira Maria Fernanda Teixeira completa o grupo de estreantes, tendo ocupado altos cargos de direção e conselhos de empresas da indústria de tecnologia da informação.
A disputa vem sendo marcada por uma forte oposição entre minoritários e acionistas de referência. Previ, Bradespar e Mitsui, que até novembro faziam parte do bloco de controle da companhia, são donas de 21% do capital da Vale e apoiam os indicados pela empresa. A mineradora, entretanto, tem outros acionistas de referência de peso, como Capital e BlackRock (5,29%).
Além da eleição dos conselheiros, será escolhido na assembleia virtual desta segunda o presidente do board. Os indicados são Castello Branco e José Duarte Penido, ex-presidente da Samarco e já conselheiro da Vale desde 2019.
Também será definida a vice-presidência do conselho, que tem como indicados Buso, pela Vale, e Mauro Cunha, pelos minoritários.
Com Estadão Conteúdo