Vale (VALE3): o que pensam os analistas sobre o impacto da chuva em Minas Gerais?

As fortes chuvas em Minas Gerais vêm causando estragos em diversas cidades do Estado desde o fim do ano passado. Neste fim de semana, a situação se agravou e empresas com operações na região, principalmente de mineração e metalurgia, comunicaram a interrupção de suas atividades nesta segunda-feira (10), entre elas a Vale (VALE3), a Companhia Siderúrgica Nacional (CSNA3), a CSN Mineração (CMIN3) e a mineradora controlada da Usiminas (USIM5).

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De acordo com o último boletim da Defesa Civil do Estado, 145 municípios estão em situação de emergência e cerca de 17,1 mil pessoas estão desabrigadas ou desalojadas.

Na região de Brumadinho – palco da tragédia em que o desabamento de barragem matou mais de 260 pessoas há três anos -, um trecho próximo de rodovia foi interditado por causa da erosão que derrubou parte do acostamento e da faixa direita da via.

Com isso, até que as águas de março fechem o verão, o sinal de alerta estará ligado e as empresas mineradoras deverão tomar providências para mitigar os riscos aos funcionários, aos residentes dessas regiões e às suas próprias atividades.

A começar pela Vale, que já tem um histórico expressivo de problemas com desastres ambientais e contenção de danos.

Vale (VALE3) anunciou interrupção parcial dos Sistemas Sul e Sudeste e do escoamento da produção

Por causa das chuvas, a empresa de mineração anunciou que paralisou parcialmente atividades dos Sistemas Sudeste e Sul, responsável por um terço de produção da empresa, assim como a circulação de trens na Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), que escoa a produção deste sistema.

Em Minas Gerais, apenas as atividades do complexo Itabira, no leste mineiro, seguem em funcionamento.

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Ao Suno Notícias, a mineradora informou que “mantém um Centro de Operações Integradas, o que garante que eventuais restrições em alguns de seus sistemas operacionais (como ocorre agora no Sul e no Sudeste) possam ser compensadas pela produção em outros sistemas, de forma a priorizar a entrega aos clientes”.

Em fato relevante ao mercado nesta terça (11), a mineradora informou que, apesar da paralisação das atividades, o guidance de produção, de 320 a 335 mil toneladas de minério de ferro em 2022, está mantido.

De acordo com Gabriel Tinem, analista da Genial Investimentos, os acionistas da Vale devem ficar atentos aos desenlaces que as chuvas de Minas Gerais podem ter sobre a operação dos trechos. De um modo geral, o lado produtivo pode ser o mais afetado e, a depender do período de paralisação, acabar impactando as exportações da mineradora.

Por outro lado, Tinem destaca que os preços do minério de ferro estão cotados em níveis superiores a US$ 120/tonelada e, caso se mantenham nesses valores, o resultado ainda será positivo, com altas perspectivas de dividendos devido à maior geração de caixa.

Vale (VALE3): chuva, produção e logística. Fonte: Vale e Genial Analisa
Vale (VALE3): produção e logística. Fonte: Vale e Genial Analisa

Após as notícias de interrupção, as ações da mineradora se desvalorizaram 1,19% durante o pregão de segunda (10). Já ontem (11), os papéis recuperaram a perda e mais um tanto: fecharam o dia com valorização de 1,71%, valendo R$ 84,42.

Para Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos, a reação inicial do mercado foi negativa para as empresas que atuam exclusivamente no ramo de mineração, caso da Vale. Por outro lado, os papéis da siderurgia acompanharam a cotação favorável do minério de ferro e o câmbio.

Entretanto, segundo o analista, no cenário global a incerteza do fornecimento de minério de ferro ainda é alta.

“Uma interrupção potencialmente maior do que o normal esperado para o período acaba desinchando os estoques nos portos chineses, que têm um volume significativo do minério de ferro brasileiro”, disse ao Suno Notícias.

“Então acaba tirando parte do balanço do mercado, o que pode acabar no médio prazo compensando uma entrega de volume menor tanto pela Vale quanto pela CSN Mineração, fazendo com que o preço médio do minério de ferro para o ano acabe um pouco superior ao que era previsto pelo mercado”, completou.

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Bruno Madruga, head de renda variável da Monte Bravo Investimentos, afirma que o mercado operou normalmente na segunda sem refletir os dados de paralisação e chuvas em Minas. Isso porque, segundo Madruga, as chuvas são sazonais e os investidores já estão cientes dos problemas desta época do ano.

“Desde o que aconteceu em Brumadinho, o mercado já sabe da sazonalidade do período na região e trabalham atentos. Na questão das mineradoras, o grande cuidado é com o rompimento das barragens, mas até o momento o que sabemos é a ocorrência de transbordamentos”.

No que se refere às barragens, a Vale informou que está acompanhando o cenário de chuvas em Minas Gerais e monitora continuamente as condições das barragens. Até agora, não houve alteração do nível de emergência em nenhuma das estruturas, ressalta a mineradora.

Para Madruga, os papéis da mineradora e de outras empresas do setor só seriam afetados caso houvesse um novo rompimento da barragem. Fora isso, um prolongamento das paralisações comprometeria a produção da empresa, diminuindo a oferta global de minério de ferro e, consequentemente, aumentando o preço da commodity.

Além da Vale, empresas mineradoras e siderúrgicas foram afetadas

A chuva forte em Minas Gerais também trouxe prejuízo à operação de outras empresas.

Ontem, o governo de Minas Gerais informou que multou a empresa Vallourec em R$ 288 milhões pelos danos ambientais causados pelo transbordamento do dique da Mina Pau Branco, em Nova Lima, região metropolitana de Belo Horizonte.

No sábado (8), uma barragem de rejeitos de minério do conglomerado francês de siderurgia transbordou e invadiu, entre outros pontos, a pista da BR-040,  que liga Belo Horizonte ao Rio de Janeiro. Nas redes sociais, moradores da região compartilharam imagens de veículos arrastados pela água e lama.

No início da semana, a CSN Mineração (CMIN3) e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSNA3) anunciaram a interrupção temporária das atividades na mina Casa de Pedra, próximo ao município de Congonhas (MG), por causa das “intensas chuvas registradas na região Sudeste do Brasil nos últimos dias”.

Segundo a companhia, a expectativa é de retomar as atividades “nos próximos dias”. “Ainda em razão das chuvas, [a CSN Mineração] informa também que a operação portuária de carregamento de minério no Terminal de Carvão (Tecar) no porto de Itaguaí (RJ) também está suspensa em virtude do alto grau de umidade verificado no local”, comunicou.

CMIN3: operação logística. Fonte: Genial/CSN Mineração
CMIN3: operação logística. Fonte: Genial/CSN Mineração

A Usiminas (USIM5) também foi atingida pelo grande volume de chuva. Na segunda-feira (10), a companhia anunciou a paralisação temporária de sua controlada Mineração Usiminas (Musa), na região de Itatiaiuçu (MG).

Em comunicado ao mercado, a empresa justifica que as chuvas estão em níveis “expressivamente superiores à média histórica” e diz que não há prazo definido para retomada.

Ao Suno Notícias, a Usiminas informou que não deve se pronunciar além do Fato Relevante divulgado nesta segunda-feira (10).

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Prefeituras mantêm alerta para barragem

Além da disrupção causada à atividade econômica, a chuva forte trouxe de volta o alerta para as barragens da região.

As autoridades em Pará de Minas (MG), Pitangui (MG), Onça de Pitangui (MG), São João de Cima (MG), Casquilho de Baixo (MG), Casquilho de Cima (MG) e Conceição do Pará (MG) estão orientando os moradores a deixarem imediatamente suas casas.

A avaliação da Defesa Civil é de que a Barragem do Carioca, no rio São João, tem “alto risco de rompimento”. A barragem pertence à Companhia Santanense de Tecidos, que, segundo o jornal O Globo, é controlada pela Coteminas, empresa do presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva.

Em vídeo que circula nas redes sociais, um dos agentes informa a população de que há “99% [de chance] de que a barragem pode romper”. “Se ela romper, vai [subir] na faixa mínima de 60 m de altura […]. Aqui, estamos na linha de fogo.”

BofA destaca impacto das chuvas para o suprimento global

Em relatório aos clientes, o Bank of America (BofA) reforça que, além das chuvas no Brasil, o fornecimento mundial de minério de ferro foi atingido também pela temporada de ciclones na Austrália.

Além do regime chuvoso, as condições impostas pela La Niña podem atrapalhar não só o fornecimento de minério de ferro, mas também o de carvão, principalmente de origem na Austrália e Indonésia.

Para o banco, além dos impactos diretos na produção do minério de ferro no Brasil, as chuvas podem afetar também o regime de produção elétrica no País, que tem impactos para o custo de produção siderúrgica e de alumínio.

O BofA disse manter cautela em relação às empresas brasileiras dependentes da mineração, como a Vale, em favor de nomes da siderurgia, uma vez que a expectativa de demanda de aço pela China deve se manter sólida.

(Colaborou o repórter Pedro Caramuru.)

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Monique Lima

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