O que era esperado pelo mercado realmente aconteceu: os principais indicadores financeiros da Vale (VALE3) caíram — até mais do que as projeções. Após resultados recordes nos últimos dois anos, a mineradora viu o seu lucro líquido encolher quase 59%. Mas, se a queda já era prevista, os resultados realmente foram tão ruins assim?
Não foi apenas o lucro que caiu. O Ebtida ajustado da Vale (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) marcou US$ 3,576 bilhões, recuo de 43,5% em relação aos US$ 6,214 bilhões obtidos no mesmo intervalo de 2022.
Os analistas do Santander (SANB11) reforçam que a queda dos indicadores já eram previstas pelo mercado e observam quais foram os principais pontos negativos da Vale no 1T23:
- os preços realizados abaixo do esperado, com a participação dos produtos premium caindo para 76% no 1T23 (vs. 83% no 4T22),
- volumes de vendas de minério de ferro mais fracos do que o esperado, atribuídos principalmente a restrições relacionadas ao clima no Terminal de Ponta da Madeira e aumento de estoque
- enquanto o custo caixa C1 da Vale [custo de produção da mina ao porto] veio em linha as expectativas do banco, em US$ 24 a tonelada (aumento de 26% no trimestre), o breakeven [quando há dinheiro suficiente para cobrir os custos] do minério de ferro e pelotas aumentou para cerca de US$ 68 por tonelada (vs. US$ 57/t no 4T22).
Pelo viés positivo dos resultados da mineradora, os analistas do Santander destacam o desempenho do fluxo de caixa livre (ou Free Cash Flow) da Vale.
“O FCF da Vale foi sólido, que ficou em US$ 2,3 bilhões. Isso representa uma conversão de EBITDA em caixa de 62% versus 19% no 1T22, explicada principalmente pela arrecadação de caixa referente às vendas do 4T22 e impostos pagos sazonalmente maiores no 1T22”, afirmam.
Embora mantenham a recomendação outperform para a Vale, com preço-alvo a R$ 95, os analistas do Santander pontuam que ainda preferem outra mineradora na América Latina, a Southern Copper Corporation (SCCO), que também é uma das maiores produtoras de cobre no mundo.
BBA: volume de vendas afetou
Os analistas do Itaú BBA lembram que os volumes de vendas do minério de ferro da Vale diminuíram 39% na comparação anual, indo para 56 milhões de toneladas. “Isso ocorreu principalmente com as restrições de carregamento nos portos e um reequilíbrio da cadeia de suprimentos, após as fortes vendas no 4T22”, pontuam.
Olhando para os próximos meses, os analistas dizem que a própria Vale espera que o impacto de menores embarques no 1T23 seja compensado por volumes mais fortes no segundo semestre.
Além disso, o prêmio de minério de qualidade caiu para US$ 2,1 a tonelada no 1T23 (de US$ 5,4/ton no 4T22). Segundo eles, isso se deve a:
- maior participação de produtos com alto teor de sílica no mix de vendas;
- menor participação de IOCJ [minério de ferro extraído do complexo de Carajás] e BRBF [Brazilian Blend Fines] no mix de vendas;
- um menor prêmio de pelotas de mercado.
Apesar dos resultados reportados, o Itaú também mantém a recomendação outperform para a Vale, com preço-alvo de US$ 18 o ADR.
BTG: balanço saudável ainda em vigor
Por fim, os analistas do BTG Pactual destacaram que a dívida líquida reportada pela Vale (US$ 14 bilhões) ficou em linha com as projeções dos analistas do banco — e praticamente inalterada em relação ao trimestre anterior.
“Isso coloca a empresa em índices de alavancagem confortavelmente abaixo de 1x e dentro de suas metas de alavancagem entre US$ 10-20 bilhões”, afirmam.
O banco ainda pontua que a Vale continua sendo um dos seus nomes preferidos para exposição à reabertura da economia chinesa. Mesmo com resultados pouco atraentes, mas ainda em linha com as projeções, a recomendação é de compra, com preço-alvo a US$ 23 o ADR.
Notícias Relacionadas