Acionistas de referência da Vale (VALE3) avaliam processar o ex-conselheiro da mineradora, José Luciano Duarte Penido, mesmo após ele ter recuado na afirmação de que o processo sucessório da companhia estava sendo manipulado, segundo fontes disseram ao jornal Valor Econômico.
Ainda de acordo com a publicação, existem três processos administrativos sobre a sucessão na Vale na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), incluindo a renúncia de Penido.
Um eventual processo contra o ex-conselheiro vem sendo estudado, mas não há decisão tomada até o momento, disse o Valor. Os acionistas consideram que o posicionamento dele à época foi prejudicial à companhia.
Segundo a Vale (VALE3) em comunicado ao mercado na sexta-feira (19), Penido disse que sua carta de renúncia não tinha por objetivo apontar irregularidades no processo de definição do presidente da companhia – o qual, para ele, vem sendo conduzido pelo conselho de administração em conformidade com a lei, o estatuto social, o regime interno e as políticas corporativas da empresa. “A intenção era expor as razões pessoais que motivaram a minha renúncia”, afima Penido.
O ex-conselheiro, de acordo com a mineradora, relata que discordou da decisão do conselho de administração da Vale de abrir o processo de sucessão do presidente da companhia em uma reunião em 8 de março. Apesar de respeitar as decisões colegiadas do conselho, Penido expressou sua insatisfação com a decisão e apresentou sua renúncia.
“Ao mencionar, em minha carta, a existência de vazamentos, manipulações, influências políticas e conflitos, estava me referindo ao que tomei conhecimento por meio das notícias veiculadas nos principais meios de comunicação do país a respeito do processo de definição do presidente da companhia. Não disponho de elementos comprobatórios do que a imprensa vem publicando”, diz Penido.
A Vale informou que as declarações do ex-conselheiro estão sendo examinadas no âmbito da apuração conduzida pelo chief compliance officer da empresa.
Relembre o conflito entre José Penido e a Vale
O conselheiro de administração da Vale, José Penido, renunciou ao cargo no dia 11 de março devido a discordâncias em relação ao processo de sucessão do atual presidente da companhia, Eduardo Bartolomeo.
Em uma carta dirigida ao presidente do conselho de administração, Daniel Stieler, Penido expressou sua preocupação com o que considera ser uma manipulação no processo de sucessão e a influência política negativa sobre ele.
“Apesar de respeitar decisões colegiadas, em minha opinião, o atual processo sucessório do CEO da Vale vem sendo conduzido de forma manipulada, não atende ao melhor interesse da empresa e sofre evidente e nefasta influência política”, escreveu na carta de renúncia.
Penido também expressou sua falta de confiança na “honestidade de princípios de acionistas relevantes” da empresa em relação ao objetivo de elevar a governança da Vale ao nível de uma corporação.
Segundo ele, o conselho foi dominado por uma maioria motivada por interesses específicos de alguns acionistas, com agendas pessoais ou conflitos de interesse evidentes. Ele também apontou vazamentos frequentes e tendenciosos para a imprensa sobre o processo, violando a confidencialidade necessária.
Diante desses problemas, Penido considerou sua permanência no conselho como ineficaz, desagradável e frustrante.
Em resposta, a Vale afirmou em um comunicado ao mercado que o processo de escolha de seu presidente está em conformidade com o estatuto social, o regimento interno do órgão e políticas corporativas da empresa.