Previsto para ser divulgado nesta terça-feira (16), o relatório de produção e vendas da Vale (VALE3) no 1T24 pode refletir uma queda na demanda pelo minério de ferro, puxado por uma perspectiva mais pessimista de crescimento econômico na China, um dos maiores produtores mundiais do material. No entanto, analistas acreditam em um cenário positivo para os próximos meses.
Lucas Serra, analista da Toro Investimentos, observa que a Vale é muito dependente do preço do minério de ferro, que representa cerca de 85% da receita da mineradora e hoje se encontra em patamares baixos, rondando entre os US$ 100 e US$ 105 por tonelada.
“Acredito que tem espaço para o minério de ferro recuperar um pouco das suas quedas, mas não muito. Eu acho que para os próximos meses, a ação da Vale em função do preço do minério deve apresentar ou um movimento de lateralização ou até um movimento de leve alta, se o minério vier a se valorizar”, projeta.
Serra lembra ainda que a perspectiva de crescimento econômico da China vem ditando o preço do minério de ferro no mercado internacional. Para ele, a indústria deu sinais leves de recuperação, ao contrário do setor imobiliário, que ainda se encontra estagnado e sem perspectivas de melhora.
“A gente observa alguns anúncios sendo feitos a respeito de políticas, como um controle da produção de aço bruto, o que pode ter fomentado essa maior demanda por parte das indústrias chinesas pelo minério de ferro. Além disso, aparentemente, as margens de aço melhoraram, o que pode ajudar as siderúrgicas a conseguirem gerar um pouco mais de fluxo de caixa, até mesmo criando estoques de minério para conseguir superar os próximos meses”, acrescenta.
Neste sentido, para os próximos meses, Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, acredita que a China retome a demanda por minério de ferro, até por conta dos preços atuais que estão mais atrativos para os chineses.
“Além disso, há uma boa perspectiva de crescimento nas outras linhas de negócio da Vale, que são voltadas para a transição energética – no caso, o cobre e o níquel, que vem tendo alta demanda no mundo todo, principalmente o cobre. Portanto, a expectativa de melhora de resultados da mineradora nos próximos meses é boa”, projeta.
Como serão as vendas da Vale no 1T24, segundo analistas?
Em prévia de resultados da Vale, a Genial Investimentos lembra que no 1T23, a mineradora sofreu com uma grande dificuldade para embarcar a carga de minério de ferro vinda do sistema norte, uma vez que havia danificações causadas pelas fortes chuvas na estrutura do Terminal Ponta da Madeira (MA).
“O terminal ficou fechado por alguns dias para reestabelecimento da operação e interrompeu o fluxo de embarques, afetando drasticamente o volume de vendas e a qualidade do mix. Isso quer dizer que a base a/a, no que tange as vendas, é mais fraca e deve ser facilmente superada no 1T24, visto que esse trimestre parece ter passado ileso de grandes disrupções”, escrevem os analistas Igor Guedes, Lucas Bonventi e Rafael Chamadoira.
Para pelotas, a corretora considera que após comissionamento da barragem de Torto ter acontecido no início do 3T23, as operações na mina de Brucutu (MG) devem ajudar a trazer ramp-up da produção e um volume maior de vendas na base anual.
“Por outro lado, embora a Vale tenha performado muito bem na produção de minério de ferro fino no 4T23, ainda assim, há de se considerar o início do período de sazonalidade mais fraca, onde a temporada de chuvas já havia começado no trimestre passado”, descreve a casa.
Já para a divisão de metais básicos da Vale, a Genial acredita que será mais um trimestre desafiador para a precificação do Níquel, devido ao excesso de oferta vindo da Indonésia, que está empurrando o preço para baixo faz algum tempo.
“Porém, ao contrário dessa tendência, as operações de Cobre devem apurar uma alta a/a (tanto para receita, quanto para a EBITDA), em virtude de melhores dinâmicas de preço t/t e ramp-up de produção a/a”, acrescenta a corretora.
Em linhas gerais, a Genial espera uma produção da Vale com um acréscimo leve, “representando uma alta de +1% a/a para minério de ferro fino, apesar da desaceleração estimada de -24,5% t/t, em razão do efeito sazonal naturalmente ligado às chuvas”.
Outras empresas do setor de siderurgia e mineração podem se destacar?
Para Andre Fernandes, da A7 Capital, empresas que não são tão dependentes da China acabaram performando melhor que a Vale nos últimos meses. Ele cita a Gerdau (GGBR4), por exemplo, já que boa parte da sua receita vem da América do Norte, apesar de um cenário local atualmente desafiador.
“Os resultados nos EUA, com a economia por lá bem aquecida, vem se mantendo forte. Outras empresas que estavam “esquecidas” na bolsa, como a Usiminas (USIM5) e CSN Mineração (CMIN3) também acabaram performando bem, pois estavam a preços muito descontados na visão de alguns agentes do mercado”, escreve.
Em relação à CSN Mineração em específico, Lucas Serra, da Toro Investimentos, avalia que apesar do operacional da companhia estar bem consolidado, em termos de prêmio de minério, a empresa não consegue negociar o seu material com prêmio no mercado internacional como a Vale consegue.
“A CSN Mineração explora principalmente teor de minério na casa de 62% e a Vale consegue explorar 65%. Na maior parte das vezes, esse minério é vendido com prêmio no mercado internacional, sobretudo se tem uma demanda mais alta por minério de alta qualidade”, explica.
Serra acrescenta inclusive que atualmente, a CSN (CSNA3) – controladora da CSN Mineração – vem apresentando uma alavancagem um tanto quanto elevada na comparação com seus pares diretos, como Gerdau (GGBR4) e a própria Usiminas.
“Meu receio é de que a CSN Mineração comece a distribuir dividendos para alimentar o caixa da CSN e, dessa forma, tentar reduzir o endividamento da própria CSN. Não que isso seja um problema iminente, mas significa que a CSN Mineração possivelmente estaria distribuindo dividendos e abrindo mão de reinvesti-lo em projetos que fossem mais rentáveis para os acionistas como um todo”, avalia.
Neste sentido, o analista da Toro Investimentos não enxerga um fluxo direto saindo da Vale e indo para CSN Mineração, por exemplo, justificando que a desvalorização do minério de ferro é um fenômeno que ocorre de forma internacional.
“Não é algo específico da Vale que o investidor apostando em CSN Mineração poderia ter alguma proteção adicional. Eu vejo que pode haver até um fluxo de Vale para BHP e Rio Tinto, por exemplo, mas pensando naquele investidor que não quer estar mais exposto ao risco Brasil”, acrescenta.
Vale pagará dividendos este ano? Veja a opinião do mercado
Em relatório, a Genial acredita que as premissas mais duras para as condicionantes do acordo de Mariana, bem como as das ferrovias, acabam reduzindo o nível de fluxo de caixa livre para a firma (FCFF) da Vale de tal forma que o pagamento de dividendos deverá ser menor do que a previsão anterior da casa.
“Lembrando que estamos penalizando propositalmente o valuation a companhia com 20% de upfront em ambos os casos. Essa situação afeta diretamente o nível de geração de caixa para 2024E”, pontuam os analistas.
Na avaliação de Lucas Serra, da Toro Investimentos, a cotação média do minério de ferro em patamares mais baixos pode, de alguma forma, comprometer a geração de caixa operacional por parte da Vale, acarretando em uma redução dos proventos distribuídos aos acionistas.
“Apesar disso, a empresa deve continuar lucrando bem, gerando bastante caixa e também distribuindo os proventos aos acionistas. Acredito que deva ser algo em uma menor magnitude, tenha algum impacto em relação a essa distribuição, mas a Vale deve continuar apresentando essa distribuição aos acionistas”, prevê.
André Fernandes, da A7 Capital, pontua que a Vale sempre foi uma empresa forte geradora de caixa, mesmo em tempos em que o minério de ferro não ajudou na cotação, e acredita em uma perspectiva positiva para a distribuição de proventos da mineradora.
“Caso a China volte a demonstrar apetite para commodities como o minério de ferro e volte a crescer, isso vai ajudar ainda mais na geração de caixa da Vale e aumentar o montante de proventos que ela pode vir a distribuir aos seus acionistas”, finaliza.
Desempenho das ações da Vale
No fechamento, as ações da Vale caíram 0,89%, cotadas a R$ 61,44. No mês, os papéis sobem 0,83%, enquanto no ano, a queda é da 16,98%.
Cotação VALE3