Vale (VALE3) tem fim de acordo de acionistas, mas mercado é cético sobre mudanças
O acordo de acionistas da Vale (VALE3), que mantém a mineradora sob controle de um grupo de grandes investidores institucionais, expira nesta segunda-feira (9) e pode abrir caminho para que a companhia tenha um controle difuso a partir de agora, o que levaria a Vale a um seleto grupo de empresas sem controladores da Bolsa de Valores de São Paulo (B3).
Com o fim do acordo de acionistas, a Vale pode ter até 20,25% do capital vendido ao mercado – percentual que corresponde à fatia do grupo controlador, que detém cerca de R$ 67 bilhões, conforme informou o jornal “O Globo” e se transformar em uma empresa sem grupo de controle acionário definido.
Por enquanto, o grupo de controladores é formado por Litel/Litela, holding que reúne os fundos de pensão de estatais como Previ (Banco do Brasil), Funcef (Caixa), Petros (Petrobras) e Vivest (da antiga Cesp), além de Bradespar, Mitsui&Co e o braço de participações acionárias do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) , o BNDESPar.
Essas empresas controlam a Vale por meio de uma atuação conjunta, acordada em contrato que vence nesta segunda-feira, na qual conseguem eleger grande parte do conselho de administração da mineradora, influenciando os rumos da companhia.
Dessa forma, para que a Vale entre para o grupo de companhias com controle difuso, alguma dessas companhias citadas acima precisa se desfazer da participação.
O grupo de empresas sem controladores na B3 conta apenas com Renner (LREN3), Embraer (EMBR3), Hering (HGTX3), BR Malls (BRML3), Totvs (TOTS3) e Linx (LINX3), dentre mais de 350 companhias com capital aberto no País.
De acordo com especialistas, o controle difuso poderia reduzir as chances de intervenção estatal na Vale, dado que boa parte dos fundos de pensão e o BNDESPar são controlados por gestores indicados por grupos políticos.
Mas, para que essa melhora na gestão ocorra, esses grupos precisam se desfazer da participação referente. Atualmente, de acordo com a B3, Litel/Litela possui cerca de 9,8% da companhia, Mitsui&Co possui 5,4% e Previ possui 4,9% da Vale.
Mudanças na Vale? Mercado é cético
Especialistas consultados pelo SUNO Notícias rejeitam, entretanto, uma mudança rápida no controle da mineradora e esperam, até mesmo, um novo acordo entre os controladores.
“A estrutura de capital está ótima, a demanda da China por minério de ferro não cessa e com isto a tendência de preços é de alta. Não vejo motivo para que o acordo não seja renovado”, disse Pedro Galdi, analista da Mirae.
Apesar de aventarem a possibilidade de venda por parte do BNDES, pouca coisa mudaria na gestão da empresa caso os demais acionistas relevantes permanecerem com suas participações.
Por isso, para o analista da Mirae, a companhia de minérios pode, inclusive, anunciar um novo acordo de acionistas nos próximos dias.
O analista Rodrigo Glatt, sócio da GTI, vai pelo mesmo caminho. De acordo com o analista, a maioria dos acionistas que fazem parte do acordo não devem se desfazer da participação da empresa neste momento, já que analistas afirmam que a Vale ainda tem um bom caminho para se valorizar no mercado.
“Não creio que eles vão vender. Ao longo do tempo, existem acionistas relevantes ligados ao governo, como BNDES, e fundos de pensão, que, dentro da filosofia atual do governo, eles poderiam se desfazer, mas sair de Vale não é uma decisão fácil de ser tomada em um curto espaço de tempo”, disse.
BNDES pode sair da Vale
Apesar de uma saída dos acionistas controladores não ser a aposta do mercado, alguns analistas veem a possibilidade de o BNDES vender a participação na mineradora, o que não alteraria a estrutura de controle.
Segundo o analista da GTI, a estratégia estaria dentro de uma política do atual governo federal de redução do braço de investimentos do banco de fomento, o BNDESPar, da participação de empresas privadas.
Em agosto, o BNDESPar levantou aproximadamente R$ 8 bilhões com a venda de papéis possuía na Vale, onde detinha cerca de 100 milhões de ações da mineradora.
“O fato de não ter um acordo de acionistas não quer dizer que eles vão vender. Basicamente, o contrato vence, só isso. Acho que o único que pode vender é o BNDES, que se enquadraria na política de venda. Mas só isso”, afirmou.
Portanto, para o acionista da Vale, pouca coisa deve mudar no curto prazo. “Por enquanto, nada muda. Ficamos no aguardo de um novo acordo desses acionistas controladores”, conclui Pedro Galdi.
Melhoria em ESG, mas desafio segue
A entrada da Vale nesse seleto grupo também poderia ajudar a companhia a melhoras as práticas de Environmental, Social and Corporate Governance (ESG) – muito valorizadas no mercado atualmente.
Para o analista Rodrigo Glatt, sócio da GTI, possuir um controle difuso é um ponto a mais no item governança do ESG. No entanto, os acidentes recentes da Vale em Minas Gerais, em Brumadinho e Mariana, ainda têm um peso maior nessa balança.
“Dentro dessa nova onda do ESG, em que as empresas são descontadas por seguir ou não essa política, os dois acidentes nos últimos cinco anos pesam mais. A Vale, como teve esses acidentes, ainda negocia em múltiplos com um desconto muito grande”, disse Glatt.