Depois de se beneficiar da maior demanda por cerveja em 2020, em meio ao pagamento de auxílio emergencial, a Ambev (ABEV3) enfrenta em 2021 um cenário bem mais incerto. Além de um novo auxílio menor – prestes a ser anunciado -, a cervejaria enfrenta o cancelamento de festas e blocos de carnaval e novas medidas de restrições.
Neste contexto, será que a Ambev permanece atrativa para os investidores? Com diversas movimentações que parecem ser desfavoráveis à cervejaria líder no mercado brasileiro e dona das marcas Brahma e Skol, o SUNO Notícias conversou com especialistas que trouxeram suas perspectivas se vale a pena investir na Ambev.
Carnaval é importante, mas deixou de ser o foco da Ambev
O Carnaval é uma data relevante para a fabricante de bebidas, mas os especialistas destacam que já faz algum tempo que vem deixando de ser o principal foco da empresa.
No segundo trimestre de 2020, ponto alto da pandemia, a Ambev seguiu uma estratégia de reposicionamento de suas vendas, direcionando seu foco para supermercados a canais digitais.
Nesta estratégia, a empresa contou com seus aplicativos Zé Delivery e BEES. O BEES é uma plataforma destinada ao fornecedor. Já o Zé Delivery tem como público o cliente final.
Com o reposicionamento, as vendas de cerveja por meio da BEES correspondem hoje a cerca de 20% das vendas totais no Brasil, conforme apontou o relatório do Credit Suisse.
Na análise do especialista da SUNO Research, Felipe Tadewald, o impacto devido ao cancelamento das festas de carnaval irá ocorrer, entretanto, não será muito relevante. “No longo prazo os preços convergem para os fundamentos das companhias. E gostamos da Ambev para o investimento no longo prazo”.
No ano passado, a data festiva ajudou a aumentar a receita líquida do período de janeiro a março em 15,4%, em comparação com o primeiro trimestre de 2019. A receita líquida total em 2020 foi de R $12,602 bilhões.
De acordo com o analista de Alimentos e Bebidas da XP Investimentos, Leonardo Alencar, na comparação de base anual, o primeiro trimestre de 2021 apresentará perdas, porém essas perdas já foram computadas nas premissas para 2021 deste ano.
“A base de comparação, primeiro trimestre de 2021 e primeiro trimestre 2020, também foi impactada, uma vez que a pandemia começou em março e portanto os dados de vendas foram menores que o previsto”, explica. Segundo ele, a perspectiva é de vendas ainda menores nesse trimestre, mas isso já está no preço das ações.
Consumo de bebidas e auxílio emergencial
Além do carnaval, as definições sobre o auxílio emergencial também podem impactar a Ambev. No ano passado, as vendas de cerveja foram impulsionadas com o pagamento do benefício. Para se ter ideia, o volume de vendas de cerveja chegou a crescer mais de 25% no terceiro trimestre do ano passado em comparação com o mesmo período de 2019.
Esse resultado foi o dobro do esperado por analistas do mercado. A receita com as vendas cresceu 25,2%, para R$ 6,65 bilhões.
“A cerveja no Brasil apresentou superfornecimento com crescimento de 25% no volume, bem à frente da indústria. A Ambev admitiu o impulso positivo fornecido pela ajuda financeira do governo”, analisou o BTG Pactual (BPAC11) em relatório.
O auxílio emergencial acabou em dezembro do ano passado, mas nas últimas semanas o presidente Jair Bolsonaro disse acreditar em uma prorrogação. Na sexta-feira (12), foi noticiado que o benefício terá o valor de R$ 250 em quatro parcelas.
Por esse motivo, visto que a prorrogação impacta no consumo de bebidas alcoólicas dos brasileiros, o mercado acompanha o desdobramento do assunto sobre o auxílio com cautela.
Projeção para consumo de bebidas em 2021
Diante das incertezas pela qual a Ambev passou em 2020, os especialistas divergem na projeção de consumo de bebidas para 2021.
Na análise do especialista da XP, este ano será favorável à cervejaria. “Ainda que o cenário seja desafiador, a simples manutenção dos níveis observados no segundo semestre de 2020 seria suficiente para que houvesse aumento no consumo em 2021″, afirma.
Para a XP, o consumo deve subir marginalmente no Brasil, e os ganhos de participação de mercado da Ambev devem favorecer a performance do papel.
Já para o especialista da SUNO, 2021 será incerto para a gigante de bebidas. Segundo Tadewald, o panorama em 2021 ainda é muito incerto, dependendo de fatores como a velocidade da imunização da população, além da possível continuação do auxílio emergencial.
“Algumas das principais cidades do país estão com restrições de funcionamento de bares e restaurantes, importantíssimos pontos de venda dos produtos da Ambev. Caso essas restrições continuem por muito tempo, a tendência no ano poderá ser negativa para a companhia”, explica.
Vale a pena investir na Ambev em 2021?
No período de um ano, os papéis da Ambev sofreram diversas oscilações.
Para base de comparação, no dia 3 de fevereiro de 2020, os papéis eram negociados a R$ 17,59. Já no mesmo período deste ano, a ação estava cotada a R$ 15,60.
Com isso, a XP acredita que as ações da fabricante de cerveja estão baratas. Com o preço-alvo de R$ 17,15, e a recomendação da corretora é de compra.
“A empresa tem feito uma mudança no seu modelo de negócio, saindo do perfil de maior volume e ganhos de escala para um perfil de portfólio de produtos mais amplo. Soma-se à inovação de produtos as iniciativas digitais, que ajudaram a sustentar as vendas durante a pandemia, mas que principalmente sinalizam o nível de integração que a Ambev possui com seus distribuidores e clientes comerciais”, apontou Alencar.
O BTG também analisa que a Ambev é uma empresa que enfrenta bem as crises, além de ser flexível para se adaptar às novas tendências. Porém, a postura de cautela permanece entre os analistas do banco e a recomendação é neutra com preço-alvo de R$ 13.
“Nos perguntamos se a recuperação do volume/participação de mercado vai durar ou apenas aparecer como difíceis’ daqui a um ano”, apontou o BTG.
Já a SUNO Research afirma gostar da Ambev para o investimento no longo prazo, entretanto, a postura, assim como o banco, é de cautela.
“Gostamos da Ambev para o investimento no longo prazo, entretanto, preferimos esperar um preço mais atrativo para indicarmos a compra. Uma maior margem de segurança implica em um menor risco no investimento, atualmente, acreditamos que por custo de oportunidade existem melhores alternativas na B3.”