Vale a pena investir na Vale (VALE3)? Confira as perspectivas para a empresa
A Vale (VALE3) foi uma das surpresas positivas da bolsa brasileira no final de 2020. A companhia conseguiu espantar a crise do coronavírus, zerando as suas perdas, e, mais do que isso, ter um forte crescimento, acumulando cerca de 60% de alta no ano.
Parte desta valorização é explicada pela movimentação do minério de ferro, que vem tendo um consistente avanço há alguns meses. A alta da commodity é motivada pelos bons resultados recentes da indústria e do consumo na China.
Em novembro, o setor industrial do país teve sua maior alta para um mês da última década. O Produto Interno Bruto (PIB) do país asiático, maior consumidor de minério do mundo, deve crescer em 2020, mesmo com a pandemia.
E não é só a indústria da China que vem mostrando crescimento. A demanda por aço nos Estados Unidos também avançou e as siderúrgicas do país já assumiram dificuldade em acompanhar a atual demanda das fábricas.
Minério surfa em menor estoque e corte de produção
No segundo trimestre, o minério de ferro, principal produto da Vale, viu a sua demanda cair, com as siderúrgicas desativando cerca de um terço de suas capacidades de produção e vendendo estoques em meio aos lockdowns impostos para conter o avanço do coronavírus.
No entanto, o setor se recuperou rapidamente, e a demanda chegou a superar os níveis pré-pandemia. Com isso, os estoques de minério de ferro caíram, levando o preço do insumo a subir.
A Vale é beneficiada também por problemas que atingem a Austrália, casa da BHP Billiton, sua principal concorrente e atual maior produtora de minério do mundo. O país da Oceania entra, nos próximos meses, em sua temporada de ciclones, o que aumenta a incerteza quanto a produção no país.
Além do problema natural, algumas falas do primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, criaram tensão com a China. Ele demandou a abertura de uma investigação internacional para entender o papel da China na pandemia do coronavírus. O país asiático já impôs tarifas sobre produtos como carne, algodão e cevada oriundos da Austrália. Até agora, porém, o minério ainda não foi alvo de taxações.
A própria Vale, na divulgação de suas projeções para 2021, diminuiu a estimativa de produção para 2020 e 2021, o que também acabou empurrando os preços da commodity. Antes, a companhia esperava produzir entre 375 e 395 milhões de toneladas de minério em 2021.
Na última projeção, ela afirmou esperar, agora, algo entre 315 milhões e 335 milhões. Em 2020, a mineradora reduziu sua produção de 310 a 330 milhões de toneladas para algo entre 300 e 305 milhões de toneladas. Um corte desse tamanho, vindo da segunda maior produtora do mundo, também eleva os preços.
Preço do minério não é única explicação para otimismo com a Vale
Além do preço da commodity, a Vale é beneficiada por algumas atitudes que partem dela mesma. Uma delas é o foco da empresa em melhorar sua produtividade. A companhia vem divulgando que, em breve, conseguirá reduzir seus custos de produção de US$ 13,6 por tonelada para algo entre US$ 10,5 e US$ 12, com destaque na redução de custos com frete, o que dá mais margem para lucros.
Também na mesma frente, a Vale está se esforçando para diminuir os riscos envolvendo a extração de minério, executando 29 obras. Até 2022, a empresa espera ter 86% da sua produção vinda de métodos de remoção que não envolvam barragens. Em 2015, esse tipo de infraestrutura representava 60% do total.
A medida visa evitar tragédias como a de Brumadinho, que trouxe enormes prejuízos para a mineradora. Quase dois anos após o acidente, a Vale ainda projeta gastar R$ 29,6 bilhões com o acidente. Anteriormente, porém, autoridades já pediram algo próximo a R$ 50 bilhões.
Acordo sobre Brumadinho gera expectativas
A resolução das negociações sobre o caso, porém, é um dos motivos apontados por analistas como positivos para a empresa. Segundo a diretoria da própria companhia, em fala no Vale Day, realizado no começo de dezembro, “o acordo nunca esteve tão próximo”. Uma definição quanto a Brumadinho cortaria possíveis surpresas e colocaria um ponto final no problema.
A resolução do montante que será desembolsado pela Vale para os acertos com as autoridades é ainda relevante pois será decisivo sobre a decisão do pagamento ou não de dividendos. O dinheiro distribuído aos acionistas é algo que também pode impulsionar os papéis.
Recentemente, porém, o repartimento foi interrompido por conta da necessidade de provisionar capital para reparar a tragédia. A companhia vem tentando reestabelecer a divisão, mas, enquanto não chegar a um acordo com a Justiça sobre o caso de Brumadinho, deve encontrar barreiras.
Em setembro, o Ministério Público Federal chegou a pedir a suspensão de um pagamento de Juros Sobre Capital próprio anunciado pela Vale.
Apesar do impasse, e de não estipular datas certas para isso, a Vale se compromete a pagar os benefícios. O banco Safra, em relatório, afirmou acreditar que o forte fluxo de caixa deve resultar em dividendos de cerca de 9% nos próximos 2 anos para os acionistas da empresa.
Principais riscos para a Vale
Mas, para os analistas do banco Safra, há também riscos a levar em conta quando se investe na mineradora. Entre os principais estão:
- A desaceleração do mercado chinês
- Maior volatilidade no preço das commodities
- Flutuações cambiais, com real valorizando ante pares
- Intervenções governamentais (o que pontuam como pouco provável)
O banco não citou riscos de novos acidentes envolvendo a companhia. Apesar de estar se movimentando para melhorar suas minas, a Vale ainda tem algumas barragens em níveis de emergência e outras em nível de ruptura.
No dia 18 de dezembro, um novo acidente em Brumadinho levou à morte de um funcionário e, consequentemente, a novas investigações. Com o temor de novas interrupções, as ações ordinárias da companhia caíram e o preço do minério chegou a avançar na China.
O ano de 2021, entretanto, é visto de forma majoritária como um ano de virada para mineradora. O BB Investimentos destaca que a companhia deve aumentar sua produção para os níveis pré-Brumadinho e que ela tem buscado reduzir sua alavancagem.
A meta é reduzir sua dívida dos atuais US$ 11 bilhões para US$ 6,8 bilhões em 2023. As iniciativas ESG, com uma meta de redução de carbono de 33% até 2030 e de zerar sua emissão até 2050 também são destaques.
Para o BTG Pactual (BPAC11), em relatório divulgado no dia 10 dezembro, as ações da companhia ainda estão “desvalorizadas” em relação à alta do minério, subindo 33% em dólares ante valorização de 65% do minério no ano.
Com tudo isso, sem maiores imprevistos, a Vale, na opinião da maior parte dos analistas, deve caminhar para um ano de bons resultados.