O mercado de carros elétricos vem crescendo exponencialmente no Brasil, especialmente após a chegada das montadoras chinesas BYD e GWM ao País. Somente no primeiro trimestre de 2024, houve um avanço de 39% nas vendas deste segmento em comparação ao mesmo período do ano anterior, de acordo com a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).
Os veículos elétricos ganharam destaque nos noticiários nas últimas semanas em meio à inclusão dos carros elétricos no “imposto do pecado”, como é chamado o Imposto Seletivo, no primeiro texto da regulamentação da reforma tributária entregue à Câmara dos Deputados no início deste mês. Caso a proposta seja aprovada, esses veículos podem sofrer impactos em seus valores finais.
Além disso, em meio ao cenário, diversas discussões envolvendo estes automóveis também estão se tornando cada vez mais comuns, como as preocupações com infraestrutura para o carregamento dos veículos, os custos com energia e até mesmo a dúvida de se, de fato, vale a pena comprar um carro elétrico no Brasil.
Quanto custa ter um carro elétrico no Brasil?
Antes de pensar exclusivamente nos custos de adquirir um carro 100% elétrico no Brasil, é necessário comparar estes automóveis com outros veículos, como os híbridos ou os tradicionais carros a combustão.
“Comparar o preço do veículo, do seguro, dos impostos (em alguns Estados da Federação o IPVA é isento, por exemplo) e, se possível, das revisões programadas. Com estas informações nas mãos o consumidor passa a ter um cenário mais claro dos custos do veículo”, explica Milad Neto, consultor de mercado automotivo e membro do conselho do Instituto PARAR.
Dentro deste contexto, um dos principais fatores que os compradores devem levar em conta é a relação entre os preços dos combustíveis e da energia elétrica. Além disso, é necessário entender ainda qual fonte energética seria utilizada para o carregamento do veículo. Em casos de utilização de energia solar, por exemplo, o custo-benefício pode ser bastante atrativo.
“Os combustíveis no Brasil tem apenas uma realidade: eles só ficam mais caros. É uma tendência histórica. Além de ser também um combustível extremamente adulterado, o que gera um efeito de manutenção, troca de filtros, óleo, correias e coisas do tipo. Então, de repente o seu vizinho compra um carro elétrico e carrega na tomada 220v. Isso é muito atrativo”, avalia Clemente Gauer, diretor de infraestrutura e coordenador do Grupo de Trabalho sobre Segurança da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).
Além dos custos com energia, Gauer ressalta que é importante lembrar ainda dos custos com a instalação de recarga. Segundo ele, a maior parte dos veículos já acompanha essa estrutura. No entanto, o processo de instalação pode custar entre R$ 2 mil a R$ 6 mil, visto que é necessário contratar um profissional para fazer o projeto elétrico e solicitar também uma anotação técnica para comprovar a segurança do processo.
Por fim, é fundamental que o consumidor avalie também a vida útil das baterias dos carros elétricos. “A troca da bateria é onerosa. Existem baterias completas que custam mais do que o próprio veículo. Claro que elas podem ser trocadas em módulos e raramente são trocadas por inteiro, mas é um custo que assusta e precisa ser considerado”, ressalta Neto.
Apesar do custo elevado, os especialistas ressaltam que as baterias possuem boa duração e podem chegar a uma vida útil de mais de 16 anos. A maior complicação neste quesito aparece, contudo, na hora de vender esse tipo de veículo.
“O consumidor ainda que acostumado com todos os outros tipos de baterias nas nossas vidas, ele tem medo do carro elétrico usado. Então, a desvalorização de um veículo elétrico ainda é maior do que um veículo a combustão. Isso também tem que ser avaliado, uma depreciação maior desse veículo”, explica o diretor da ABVE.
Como a reforma tributária impacta os carros elétricos?
Ao olhar para os custos de aquisição dos carros elétricos, a chegada das montadoras chinesas ao Brasil, como GWM e BYD, fez com que estes automóveis se tornassem mais acessíveis para os bolsos dos brasileiros. Com isso, em alguns casos, adquirir um destes veículos poderia ser uma alternativa mais atrativa financeiramente quando comparado aos carros a combustão de outras fabricantes já populares no País.
No entanto, esses veículos podem agora sofrer um acréscimo nos preços, tornando-os menos atrativos. Isso porque os carros elétricos foram inseridos no chamado “imposto do pecado” da proposta de reforma tributária que está em tramitação no Congresso.
De modo geral, essa tributação visa reduzir o consumo de itens nocivos à saúde, como cigarros e bebidas alcoólicas, e também ao meio ambiente. No caso dos automóveis elétricos, a discussão envolve às preocupações com o descarte das baterias no fim da vida útil. Os parlamentares ressaltam que essas baterias não possuem ainda uma destinação final segura do ponto de vista ambiental.
Para o especialista da ABVE, há uma incoerência envolvendo a proposta, visto que as baterias dos carros a combustão possuem chumbo, que consiste em um metal pesado de alta contaminação. Além disso, Gauer destaca ainda um estudo produzido pelo Conselho Internacional de Transporte Limpo (ICCT), que constatou que os veículos elétricos emitem menos da metade dos gases de efeito estufa durante toda a sua vida útil, quando comparado aos carros convencionais.
“Se isso ocorrer, o veículo elétrico passa a ser atrativo somente quando você tem uma utilização bastante frequente do carro, porque brilha no seu custo operacional. Porém, se ele passa a ser impactado, vamos supor, com 50% de imposto, fica muito complicado de ser minimamente atrativo para o brasileiro”, explica Gauer.
Vale a pena comprar um carro elétrico?
Diante destes cenários, vale a pena considerar se um carro elétrico é a escolha certa para cada consumidor. Segundo Gauer, para usos urbanos ou deslocamentos regulares, onde há acesso a pontos de recarga, os veículos elétricos podem ser a escolha mais racional.
“A economia operacional e os benefícios ambientais compensam os custos adicionais, como a desvalorização maior e os investimentos em infraestrutura de recarga”, avalia o especialista.
Por outro lado, enquanto o mercado brasileiro se prepara para uma transição gradual para veículos eletrificados, Neto ressalta que os híbridos plug-in podem ser a melhor opção a curto prazo, combinando eficiência energética com a conveniência de um motor de combustão auxiliar.
No entanto, o especialista destaca ainda que nos próximos anos é possível esperar que os carros elétricos ganhem cada vez mais espaço no mercado brasileiro, com ênfase para os veículos híbridos.
Notícias Relacionadas