A crise da Ucrânia, com a possibilidade cada vez maior de a Rússia invadir o país do leste europeu, dominou o noticiário na última semana — especialmente na sexta, quando a rede pública americana PBS News informou que o presidente Vladimir Putin decidiu invadir o país, comunicando as Forças Armadas russas. O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, alertou na sexta-feira (11) sobre a possibilidade de a invasão acontecer “a qualquer momento”. A tensão continua: Putin conversou neste sábado (12) com o presidente Joe Biden, que reforçou a ameaça de impor sanções comerciais caso a ação militar se concretize. A crise deve mobilizar as notícias nos próximos dias e afetar o mercado financeiro, numa semana que ainda terá número menor de anúncios de indicadores.
Mas outros temas estarão no radar de investidores. Um dos mais esperados é a Ata do Fomc (Comitê de Mercado Aberto, na sigla em inglês), do Federal Reserve (Fed). O banco central americano, que na última reunião sinalizou, como o mercado aguardava, o aumento das taxas de juros a partir de março, deve dar mais indicativos sobre os próximos passos da política monetária do país.
No cenário doméstico, aguarda-se para terça o TCU (Tribunal de Contas da União) fará mais uma reunião para analisar o processo de privatização da Eletrobras (ELET3). A agenda da semana semana inclui ainda resultados trimestrais do quarto trimestre de 2021, com os balanços do Banco do Brasil (BBAS3), Cosan (CSAN3) e Itaúsa (ITSA4).
Veja a seguir os principais assuntos e eventos da semana:
1- Rússia e a iminente ação militar na Ucrânia
O acirramento das tensões no leste europeu aumentou na sexta (11), com a declaração do secretário de Estado Antony Blinken de que a invasão russa no território ucraniano deve ocorrer “a qualquer momento”. A crise derrubou bolsas, fez disparar os preços do petróleo e a cotação do dólar. Neste sábado (12), Biden conversou com Putin sobre a crise. Reforçou que os EUA e aliados estão prontos para impor sanções “imediatas e severas”, caso a incursão militar tenha início.
Os dois líderes falaram sobre a concentração de tropas russas perto da fronteira ucraniana, com Washington dizendo na sexta-feira (11) que Moscou pode invadir o país qualquer momento. A Rússia negou que planeje invadir a Ucrânia.
Putin negou novamente a ação das tropas do país em telefonema ao presidente francês Emmanuel Macron, com quem se encontrou presencialmente na semana passada. “Não vemos nenhuma indicação de que o presidente Putin vá partir para a ofensiva”, disse uma autoridade próxima a Macron a repórteres depois que o francê e Putin falaram ao telefone por quase 90 minutos. “No entanto, estamos extremamente vigilantes e alertas à postura russa (militar) para evitar o pior”, acrescentou.
Uma autoridade americana afirmou, no entanto, à agência Associated Press que Moscou estaria cogitando a próxima quarta (16) como a primeira data para uma invasão. O cenário é incerto, conturbado, e os próximos dias devem ser decisivos para o desdobramento da crise.
Neste sábado, Macron também conversou com o chanceler alemão, Olaf Scholz, assim como falou com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, e deverá discutir o teme com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
As autoridades americanas ainda reiteraram que cidadãos do país devem deixar o território ucraniano o quanto antes. Alerta similar foi dado pelo governo do Reino Unido, em comunicado divulgado na tarde de hoje. As preocupações não parecem ser infundadas, já que um relatório das forças armadas ucranianas observou que quase toda a extensão da fronteira do país está cercada por forças hostis, segundo o The New York Times.
2- Ata do Fomc: mais indicativos sobre a alta de juros
Em meio à tensão na Ucrânia, autoridades do Fed debatem os próximos passos da política monetária no país. Com inflação alta, dirigentes do banco central americano discutem se e quando vão subir os patamares das taxas.
O Fed decidiu em 26 de janeiro manter a os juros básicos entre 0 e 0,25%, como o mercado esperava, e sinalizou para “breve” o aumento das taxas.
O consenso entre analistas do mercado é de que as taxas comecem a subir em março. A decisão de janeiro, unânime entre os dirigentes do Fed, não especifica quando aumentará os juros, mas o tom do comunicado indica que o aumento pode começar daqui a um mês: “É apropriado iniciar a alta dos juros em breve”.
O Fed argumenta no documento: “Os indicadores de atividade econômica e emprego continuaram a se fortalecer. Os setores mais afetados pela pandemia melhoraram nos últimos meses, mas estão sendo afetados pelo recente aumento acentuado dos casos de Covid-19.”
O documento complementa: “Com a inflação bem acima de 2% e um mercado de trabalho forte, o Comitê espera que em breve seja apropriado aumentar a meta para a taxa básica de juros. O Comitê decidiu continuar reduzindo o ritmo mensal de suas compras líquidas de ativos, encerrando-as no início de março.
Os mercados acionários de Nova York fecharam em queda robusta, nesta sexta-feira, 11, com os índices acentuando perdas após relatos de que o presidente russo, Vladimir Putin, já teria decidido invadir a Ucrânia. O mercado vinha ajustando posições ainda em reação ao salto do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, divulgado ontem, na expectativa pelo aperto monetário do Federal Reserve(Fed, o banco central americano).
Além da tensão geopolítica, o mercado segue aguardando mais sinalizações do Fed. Após CPI, o Goldman Sachs decidiu aumentar a previsão de altas de juros de cinco para sete elevações consecutivas de 25 pontos-base ao longo deste ano. Já o HSBC revisou suas projeções e,agora, espera que o Fed aumente a taxa básica de juros em 50 pontos-base em março. A ferramenta do CME Group mostra que, de ontem para hoje, a probabilidade de alta de 50 pontos-base pelo Fed na reunião de política monetária de março baixou de 93,8% para 48,2%, de forma que as apostas de aumento de 25 pontos-base voltaram a ser majoritárias.
Outra sinalização sobre a atividade econômica nos EUA será anunciada na terça (15)l, quando sai o índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês).
3- Eletrobras: privatização na pauta no TCU
O TCU (Tribunal de Contas da União) voltará a discutir nesta terça (15) o processo de privatização da Eletrobras (ELET3).
Haveria mais um mês para que o processo fosse apreciado pela corte. Porém, o ministro Jorge Oliveira pediu para que a análise fosse adiantada, e não houve resistência de outros envolvidos sobre o pedido.
A sessão foi marcada para as 16h, com a pauta única da privatização da Eletrobras. A análise já deveria ter sido realizada, com a data original em 15 de dezembro do ano passado. O ministro Vital do Rêgo pediu vistas, ou seja, um prazo maior de análise, e o acordo foi de 60 dias. O período de recesso de final de ano não entrava na conta.
Na época, o relator do processo, Aroldo Cedraz, afirmou que era necessário fazer diversos ajustes na modelagem do leilão da estatal.
Mas, com a intenção de não atrasar a venda das ações, os ministros fizeram um acordo para que o governo continuasse com os trâmites do processo, com a especificação de que seriam válidos apenas depois do aval da corte de contas.
Cedraz citou estas inconsistências dos estudos enviados pelo governo:
- Falta de informações para precificação da Eletrobras;
- Ausência de estudos sobre garantias físicas das usinas hidrelétricas pertencentes à Eletrobras;
- Falha na condução da audiência pública que colheu aprimoramentos para a desestatização da Eletrobras;
- Os R$ 23 bilhões arrecadados com a privatização da Eletrobras não causarão ônus aos consumidores com parcela de recursos destinados à CDE.
4- Petróleo e a crise na Ucrânia
Com a crise na Ucrânia, a commodity se mantém como ponto de atenção no mercado financeiro na semana.
O petróleo avançou mais de 3% nesta sexta-feira (11). A commodity operou em alta durante quase todo o dia, e ganhou forte impulso após relatos na imprensa dos EUA de que autoridades do país esperam que a Rússia invada a Ucrânia nesta semana. Relatório da Agência Internacional de Energia (AIE) citou riscos à oferta global e puxou o óleo para território positivo no mercado futuro.
Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o barril do petróleo WTI com entrega prevista para março subiu 3,58% (US$ 3,22) hoje e 7,23% na semana, a US$ 93,10, enquanto o do Brent para abril avançou 3,31% (US$ 3,03) nesta sessão e 1,25% no acumulado dos últimos sete dias, a US$ 94,44, na Intercontinental Exchange (ICE).
Além da crise geopolítica, investidores ficaram atentos ao alerta da AIE de que dificuldades na oferta de grandes produtores de petróleo – entre eles os países membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) – podem provocar mais volatilidade nos contratos e impulsionar ainda mais os preços.
A AIE ressalta que a falha por integrantes da Opep+ – formada pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e aliados – de cumprir promessas de ampliar a oferta ajudou a impulsionar os preços da commodity aos maiores níveis desde 2014.
Em janeiro, a produção da Opep+ ficou 900 mil barris por dia (bpd) abaixo de sua meta, e há sinais de que o déficit está se agravando, o que provavelmente intensificará o aperto no mercado, alerta a AIE.
No documento, a AIE prevê que a oferta global de petróleo crescerá 6,3 milhões de barris em 2022 se a Opep+ reverter totalmente os cortes que implementou anos atrás em sua produção. Em sua última reunião, na semana passada, a Opep+ manteve a estratégia de aumentar sua oferta em 400 mil bpd em março.
A Capital Economics, que em outras oportunidades disse esperar um recuo da commodity para a casa de US$ 70 até o fim do ano, diz que as questões levantadas quanto à oferta são “riscos chave” para a sua projeção. “Nossas projeções para os preços das commodities este ano estão sujeitas a uma incerteza maior do que o normal. Embora esperemos que o crescimento da demanda de energia diminua, ainda pode ser o caso de que a oferta permaneça restrita”, alerta a consultoria.
5- Temporada de balanços do 4T21 acelera esta semana
A safra de resultados trimestrais ganha impulso esta semana com uma agenda recheada.
O Banco do Brasil e a Itaúsa anunciam seus números nesta segunda (14), depois do fechamento do pregão.
O BB apurou lucro líquido ajustado de R$ 5,1 bilhões no terceiro trimestre de 2021, aumento de 47,6% frente ao mesmo período de 2020. O resultado do Banco do Brasil decorreu das menores despesas com provisões de crédito e das maiores receitas, com crescimento da margem financeira bruta e das rendas com prestação de serviços, explicou a companhia. O lucro contábil totalizou R$ 4,6 bilhões, com alta anualizada de 49,4%.
O lucro líquido da Itaúsa alcançou R$ 2,7 bilhões no 3T21, alta de 32%.
A semana pontuada pela crise na Ucrânia e a ata do Fomc, terá ainda os balanços trimestrais da Raízen (RAIZ4), também na segunda. Carrefour (CRFB3) e PetroRio (PRIO3) apresentam seu desempenho financeiro na terça. Na quarta é a vez do BTG Pactual ((BPAC11), Weg (WEGE3) e EDP Brasil (ENBR3). Na quinta saem os resultados da Br Properties (BRPR3), Rumo (RAIL3), Vamos (VAMO3) e Neonergia (NEOE3), E, na sexta, os da Cosan (CSAN3) e Taesa (TAEE11).