Após Elon Musk, CEO da Tesla (TSLA34), comprar do Twitter (TWTR34) na última segunda-feira (25), o mercado permaneceu repercutindo a notícia – parte dele preocupada com os rumos da gestão da rede social, detalhes obscuros e intrigantes sobre a negociação e até uma queda bilionária do valor de mercado da Tesla (TSLA34). A aquisição do Twiter pelo bilionário envolveu uma transação avaliada em US$ 44 bilhões, cerca de R$ 215 bilhões.
Usuários podem esperar mudanças na plataforma, assim como o mercado pode aguardar por uma nova gestão. Musk já deixou claro que é a favor do fechamento do capital do Twitter.
Já em relação ao mecanismo do dia a dia para os usuários da rede, esperam-se tweets com maior número de caracteres e uma medida controversa: sob Musk, a companhia promete não deletar ou moderar posts considerados ofensivos ou agressivos. O bilionário defende que essas mensagens se enquadram em sua noção de “liberdade de expressão na rede social”.
“A liberdade de expressão é o alicerce de uma democracia funcional, e o Twitter é a praça digital em que problemas vitais para o futuro da humanidade são discutidos”, explicou o empresário em uma entrevista após o negócio da compra do Twitter ser fechado.
Depois de receber um alerta de reguladores europeus sobre posts ofensivos, Musk tentou se defender mais uma vez, usando o próprio Twitter: “Por ‘liberdade de expressão, me refiro simplesmente àquilo que está de acordo com a lei.” E reforçou: “Sou contra a censura que vai além da lei.”
Para João Beck, economista e sócio da BRA, restam muitas dúvidas sobre como será a gestão de Musk. “Declarações recentes mostram que existem intenções de se criar uma plataforma realmente livre e democrática. Mas é difícil saber o que isso significa para os acionistas. As ações sobem quase 10% em reação à aquisição, mas, para atingir o objetivo de Musk, a monetização maior da plataforma deve ficar em segundo plano”, explica Beck.
Alta de 38% no valor por ação pago por Elon Musk
Outro fator que tem intrigado investidores foi a oferta pela empresa ter subido tanto em menos de um mês. O preço avançou 38% em relação ao início do mês: é superior à cotação das ações do Twitter em bolsa, considerando que o empresário pagou US$ 54,20 por ação ante atuais US$ 50,72.
“O preço de compra foi de US$ 54,20 por ação, o que representa um prêmio de 38% em relação à cotação do dia 1º de abril, um dia antes dele demonstrar o interesse de comprar a rede social”, afirma Rafael Marques, CEO da Philos Invest.
“O conselho conduziu um processo cuidadoso e abrangente para analisar a proposta de Elon Musk. A transação proposta proporcionará um prêmio em dinheiro substancial, e acreditamos que é o melhor caminho a seguir para os acionistas do Twitter”, afirmou o presidente do conselho do Twitter, Bret Taylor.
Na compra, o bilionário entregou cartas de compromisso que somam US$ 25,5 bilhões em dívidas, das quais US$ 12,5 bilhões têm sua posição na Tesla como garantia para o empréstimo.
Posição como acionista do Twitter
Inicialmente, Elon Musk detinha aproximadamente 10% das ações do Twitter, sendo então o maior acionista da empresa. “O Twitter ofereceu um assento no Conselho de Diretores. O mercado acreditava que ele fosse aceitar. Acabou rejeitando e logo em seguida anunciou a oferta completa de compra da empresa”, explica Andrey Nousi, CFA e fundador da Nousi Finance.
De acordo com Nousi, de um ponto de vista econômico, a compra ainda não faz tanto sentido para o mercado. “O mercado está ruim. Existe apreensão com o aumento das taxas de juros e o Twitter em si não é uma plataforma que dá lucros há muitos anos, embora os diretores e CEOs tentem reverter isso”, afirma Nousi.
Tesla: prejuízo nas alturas
Os acionistas da Tesla também não estão felizes: as ações da companhia caíram 12,18% no fechamento desta terça (26) em Nova York. A preocupação é de que Musk venda os seus próprios papéis para pagar a compra da rede social. A Tesla está entre as empresas de capital aberto mais valiosas do mundo, avaliada em US$ 922, 4 bilhões.
A decisão de comprar o Twitter está gerando um prejuízo bilionário para Elon Musk. Desde que o empresário demonstrou interesse pela rede social do passarinho azul, no início de abril, a Tesla já perdeu US$ 275 bilhões, o equivalente a R$ 1 tri, em valor de mercado. Com o anúncio da compra, o valor da companhia encolheu US$ 126 bilhões, com suas ações caindo 12% na bolsa dos EUA.
Segundo o site CNBC, os investidores da Tesla também estão aflitos com a possibilidade de o Twitter se tornar uma distração para Elon Musk e prejudicar sua participação nos negócios da montadora. Musk indicou que tem muitos planos para a plataforma de mídia social, o que pode tomar muito do seu tempo.
A queda bilionária de valor da companhia foi responsável por garantir à Tesla o pior desempenho entre os nomes listados no S&P 500, que teve queda de 2,34% nesta terça-feira. O encolhimento no preço da montadora já representa o valor de quase sete operações do Twitter.
Para o sócio da Catarina Capital, Natan Epstein, a falta de foco do presidente da empresa de carros elétricos em relação aos seus negócios tem gerado incertezas no mercado e ocasionado a depreciação do valor das ações da Tesla. “O volume dessa queda é surpreendente, principalmente em um dia em que o mercado caiu entre 3% e 4%”, avalia. Ainda segundo Epstein, a preocupação dos investidores da montadora é de que Musk use sua reserva acionária e derrube ainda mais o preço dos papéis negociados na bolsa americana.
O especialista ressalta ainda que, além da crise gerada pela negociação do Twitter, a queda nas ações da Tesla (hoje de 12%) também acompanhou os resultados negativos do setor de tecnologia, que fechou em baixa no dia.
Cotação do Twitter
No fechamento de hoje, as ações do Twitter em Nova York caíram 3,89%, a US$ 49,68. Já o BDR da empresa caiu 1,70%, a R$ 124,06.
(Com informações do Estadão Conteúdo)