Por que Trump quer que o Fed corte mais as taxas de juros?

Na última semana o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se queixou mais uma vez que o Federal Reserve (Fed) não está dando sinais sobre possíveis futuros cortes de juros.

Essa é somente a última de uma longa serie de reclamações do mandatário norte-americano com o Fed. Mas a de Trump não é uma obsessão: o dólar está de fato ganhando muita força em relação a moedas do mundo todo. N’ao somente de moedas de países emergentes, como o Brasil, mas também de moedas de países ou blocos desenvolvidos, como o euro. E um cambio elevado demais poderia ser um fator prejudicial para a economia dos EUA.

Basta pensar no famoso “Big Mac Index”, um indicador realizado pela revista britânica “The Economist” que, a partir dos anos 1980, compara os preços de diferentes países para entender a taxa de câmbio real.

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Atualmente, nos EUA, o sanduíche do McDonald’s custa 5,74 dólares, na zona do euro 4,08 euros. Em apenas seis meses, a diferença aumentou 17%. Se as duas moedas fossem comparadas, o euro deveria ser negociado a mais de 1,40 dólar.

Entretanto, o câmbio atual é consideravelmente menor: 1,1 dólares  Isso significa que a moeda americana está significativamente supervalorizada em comparação com a moeda européia. Um problema para as empresas dos EUA.

Dólar forte é prejudicial

Um dólar forte penaliza as exportações e torna o sistema econômico pouco competitivo. A isso se acrescenta o fato de que, nos últimos anos – até o final de julho de 2019 – o Fed levou adiante um aumento constante das taxas de juros, enquanto o Banco Central Europeu (BCE) produziu uma série de estímulos monetários para incentivar a retomada econômica e tentar alcançar a meta de inflação, fixada por volta de 2% ao ano.

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Dessa forma, e também graças a uma economia norte-americana que continua registrando há mais de 121 meses resultados positivos, o dólar se reforçou e o euro se depreciou. Ao contrário, a União Europeia continua com um crescimento próximo do zero, ou até negativo, como o caso da Alemanha nos últimos trimestres.

A política monetária ultra acomodatícia do BCE levou Trump a declarar que, por cula do Fed, o dólar se tornou “forte demais”.

Em várias ocasiões, o presidente dos EUA, usando como sempre expressões coloridas, insistiu para que o Fed a atuasse reduzindo a taxa de juros para apoiar a moeda norte-americana e impedir sua excessiva apreciação.

Segundo alguns analistas, o presidente não está totalmente errado: assim que o Fed realizou o primeiro corte dos juros no final de julho, o BCE começou a dar sinais sobre uma ulterior flexibilização monetária e, em perspectiva, um novo Quantitative Easing.

Não é coincidência: se o euro se valorizasse em relação ao dólar, a economia do Velho Continente sofreria uma reação negativa. Isso pois a Europa não é tão economicamente sólida quanto os EUA.

O temor da política europeia é que um colapso nas exportações teria efeitos devastadores, levando para um período de estagnação total. E dessa vez nem mesmo a alavanca fiscal, que não pode ser usada pelos governos dos países membros da UE e praticamente não existe em nível central, poderia vir em socorro.

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Enquanto isso, Trump ameaça impor impostos alfandegários sobre mercadorias europeias, começando pelos carros. Dessa forma, o presidente dos EUA quer contornar o problema da taxa de câmbio euro-dólar.

Trump critica BCE e Fed

Além disso, ele não poupa críticas duras ao BCE. A culpa do Banco Central Europeu, para Trump, seria usar a política monetária para tornar a economia da zona do euro mais competitiva às custas dos Estados Unidos.

O corte de 0,25 pontos percentuais realizado pelo Fed no final de julho não foi suficiente para mudar esse cenário. Os analistas esperavam um corte de até 0,50 pontos percentuais, que teria levado o câmbio até 1,20 dólares no médio prazo.

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Eis mais críticas de Trump contra o presidente do Fed, Jerome Powell. Mesmo se foi o próprio presidente dos que indicou o banqueiro central no começo de seu mandato.

Em resumo, os próximos passos a que o Fed e o BCE tomará serão decisivos para o equilíbrio entre as duas moedas mais importantes do mundo.

Entretanto, alguns analistas já estão falando a esse respeito de uma “guerra secreta” entre os Bancos Centrais. Um conflito que tem como objetivo transformar as taxas de câmbio, e que, obviamente, se reflete também entre as duas maiores economias do planeta, EUA e União Europeia.

E os mercados não estão apenas observando: isso é demonstrado pelas últimas declarações então presidente do BCE, Mario Draghi, que expôs explicitamente a hipótese de uma nova injeção de liquidez no sistema monetário europeu. Frases que tiveram efeito imediato na taxa de câmbio euro/dólar.

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Além disso, guerra cambial a parte, uma intervenção do Fed com um corte nas nas taxas agora parece inevitável à luz da desaceleração da economia americana. Muitos analistas acredita que o banco central dos EUA, dada a mudança no contexto macroeconômico, deverá mudar de rumo e voltar a uma política monetária expansiva que inevitavelmente levará a uma desvalorização do dólar.

Carlo Cauti

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