Nem Trump, nem Biden. Wall Street só quer uma coisa: mais liquidez

Donald Trump ou Joe Biden? Muitos analistas se perguntam quem seria o candidato preferido de Wall Street para a Presidência dos Estados Unidos. E em quem, há menos de um mês das eleições, os investidores estão apostando ser o novo inquilino da Casa Branca?

A nova alta da Bolsa de Valores de Nova York (NYSE), que começou no dia 23 de setembro, mostra que Wall Street está confiante. O índice S&P 500 já ganhou 8,5% e está apenas em 2,5% de sua máxima histórica de 3.592 pontos registrada no dia 2 de setembro.

Mesma coisa no caso do Nasdaq, que em 13 pregões subiu 11%, voltando a ultrapassar a marca dos 12 mil pontos no dia 12 de outubro.

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Mas independentemente de quem ganhar a eleição presidencial americana, os mercados financeiros estão olhando somente em uma coisa: a manutenção da gigantesca liquidez que foi injetada a partir de março desse ano. E que contribuiu sensivelmente para os resultados dos mercados de capitais.

Em meados de outubro a liquidez global, em grande parte impulsionada pelas políticas monetárias e fiscal expansionistas decididas por Washington, chegou em sua nova máxima, de mais de US$ 91 trilhões (cerca de R$ 510 trilhões).

Isso no mesmo momento em que a capitalização das bolsas globais se aproximou da marca de US$ 92 trilhões pela primeira vez na história (US$ 30 trilhões a mais que o ponto de mínima registrado em março passado).

Para ter uma ideia da quantia gigantesca de liquidez em circulação, é suficiente pensar que o Produto Interno Bruto (PIB) global deve ficar em torno de US$ 80 bilhões no final desse ano.

Ou seja, as Bolsas de Valores e a liquidez global valem mais do que o PIB do mundo. Algo que, de acordo com Warren Buffett, seria um indicador preocupante, ou pelo menos, como diz o “oráculo de Omaha”, contrarian.

Retomada de Wall Street surfou na onda de liquidez

A recuperação em “V” de Wall Street do ponto mais baixo registrado em março é acompanhada por um aumento sem precedentes na liquidez global.

Desde então, o Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos EUA, expandiu seu balanço de US$ 4 trilhões para US$ 7 trilhões.

Ao mesmo tempo, o Banco Central Europeu (BCE) comprou títulos por mais de 2,5 trilhões de euros, elevando os ativos em sua carteira de 5 trilhões de euros em fevereiro para os atuais 7,6 trilhões de euros. Um valor até superior, em termos nominais, ao do Fed, e que aumentou ainda mais a liquidez global.

E parece que essa onda de liquidez ainda não acabou, já que os investidores acreditam que os estímulos continuarão. E, não por acaso, a rentabilidade dos títulos públicos internacionais continua muito baixa.

Políticas expansionistas iniciaram antes do coronavírus

As políticas expansionistas dos bancos centrais não iniciaram com a pandemia do novo coronavírus (covid-19), mas começaram desde 2009, após a crise dos subprime. As instituições monetárias expandiram seus balanços como nunca antes com a compra de ativos financeiros.

Essa abundante liquidez injetada no sistema acabou sendo depositada nos bancos, que, por sua vez, deveriam fornecer crédito aos operadores econômicos. Esse últimos, em seguida, deveriam depositar novamente parte do dinheiro obtido em outros bancos. Gerando assim um processo denominado de “multiplicação monetária”.

Esta liquidez é chamada tecnicamente de M2 e é composta não só por notas em circulação mas também por depósitos bancários com uma duração inferior a dois anos e depósitos reembolsáveis ​​com pré-aviso até três meses. Na base monetária encontram-se tanto as contas de pessoas físicas como também as de pessoas jurídicas.

Mas se as pessoas físicas estão aumentando os valores depositados em suas contas correntes por causa do medo e da incerteza provocados pela pandemia, no caso das empresas esse aumento da liquidez disponível tem outras razões.

Isso pois quando uma empresa emite um título, como por exemplo uma debênture, no momento em que deposita o valor que recebe do comprador, ocorre um aumento na base monetária.

Graças às taxas baixas de juros internacionais, muitas empresas – principalmente nos Estados Unidos – acabam emitindo títulos da dívida para comprar suas próprias ações, por meio das chamadas buyback. Ou, em alternativa, distribuem dividendos que são parcialmente reinvestidos em ações da empresa.

Essas recompras chegaram a cerca de US$ 800 bilhões por ano desde 2018 somente nas empresas do S&P 500. E são filhas do tsunami de liquidez recorde em que as Bolsas de Valores estão boiando.

Trump o Biden não importa

E tudo o que Wall Street quer é que essa situação seja mantida pelo tempo mais longo possível. Isso pois um “tapering”, como é definida uma redução da política monetária, poderia provocar consequências imprevisíveis nos mercados.

Por isso, que ganhe Trump ou ganhe Biden para os investidores pouco importa. O que é fundamental é saber se essa onda de liquidez continuará no futuro.

Entretanto, o ponto principal de toda essa situação é saber se chegará o dia em que os mercados financeiros retornarão a ter vida própria. Ou seja, voltarão a ser capazes de se manter sem essa enorme massa de “inflação financeira”. Algo que antes inflou as avaliações dos títulos da dívida soberana, reduzindo a rentabilidade, e agora está passando para o mercado de ações.

As impressoras dos Banco Centrais criaram dinheiro em ritmo continuo nos últimos 10 anos. E independentemente de quem ganhar a eleição dos EUA, um dia tudo isso vai ter que acabar. A pergunta é: quando o dia da verdade chegar, e o tsunami de liquidez terminar, Wall Street será capaz de segurar a onda?

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Carlo Cauti

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