Há meses os rumores de mercado apontam para uma possível venda da Tim (TIMS3) pela Telecom Italia, que detém 67% de participação acionária na companhia brasileira e é a sua controladora. A XP, em parecer recente sobre a Tim, destacou que a possibilidade dessa transação é praticamente nula no cenário atual.
Os analistas da corretora receberam os CEOs da Telecom Italia e da Tim. Os executivos destacaram que ‘não faria sentido vender a operação sem um prêmio significativo’.
Atualmente a Tim representa 25% do Ebitda AL (Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização after leases) da empresa e 35% do Ebitda AL-Capex.
“Com a mudança de governo na Itália, algumas notícias apontam para a possibilidade de um desinvestimento da TIM Brasil. Ficamos com a impressão de que o plano de reestruturação na Itália está sendo executado de forma adequada e até certo ponto de forma independente, o que não exigiria a venda do ativo no Brasil, mitigando o risco de overhang devido à ausência de um comprador óbvio para TIM Brasil”, afirmam os analistas Bernardo Guttmann e Marco Nardini, da XP.
“Atualmente, não há comprador óbvio para o ativo e, além disso, o plano de reestruturação na Itália não considera esse desinvestimento”, seguem.
Além disso, vender o excedente do controle da empresa e deixar a Telecom Italia com uma participação pouco acima de 50% ‘ não faria sentido e seria financeiramente irrelevante’, segundo a XP.
A operação também não endereçaria as necessidades de caixa da Telecom.
“Apesar de sua alta alavancagem, a Telecom Italia tem ampla liquidez para cobrir os vencimentos até 2024. Eles acabaram de fazer um empréstimo de 2 bilhões de euros com o governo italiano dando um bom alívio. A empresa não tem problemas com covenants e a taxa de juros é majoritariamente fixa. O desafio está no médio prazo, quando a empresa terá novos financiamentos a um custo maior”, explicam os analistas.
Na reunião com os executivos, também foi confirmado que não há dívida colaterizada tendo como garantia as ações e/ou ativos no Brasil.
“Apesar de todo o barulho sobre a possibilidade de venda da TIM, não há processo de venda em andamento e, em nossa percepção, a venda só ocorreria se um player se mostrasse disposto a comprar as operações pagando um bom prêmio”, conclui a XP.
‘Compre ações da Tim’
A XP, no mesmo parecer, destaca sua visão positiva para as ações da Tim. Para a casa, os papéis negociam em um valuation atrativo, dado os múltiplos de 3,4x EV/EBITDA estimado para 2023. Esse patamar mostra ‘um desconto relevante para pares globais’, segundo a XP.
“Além de um valuation atrativo, uma nova abordagem de dividendos e rápida desalavancagem após a aquisição da Oi Mobile nos fazem reiterar nossa recomendação de COMPRA, que também permanece como nossa Top Pick entre as grandes telcos brasileiras”, diz a casa.
O preço-alvo para os papéis TIMS3 é de R$ 22, ao passo que a cotação atual é de R$ 12,47 – conforme o preço de fechamento de quarta (19).
Sobre a gestão da Telecom Italia
No parecer sobre a companhia, após a reunião com os executivos, a XP aponta que o CEO da Telecom Italia, Pietro Labriola, se concentrou em executar seu plano de reestruturação ‘de forma industrial’.
“Nos primeiros meses de seu mandato na Itália, Pietro conduziu alguns impairments e profit warnings, suspendeu dividendos e mudou o guidance da empresa. Em seguida, Pietro apresentou um plano para reduzir a dívida (cerca de 19,3 bilhões de euros de dívida líquida) onde o caminho mais óbvio seria a venda da empresa de infraestrutura que gera cerca de 2 bilhões de euros, transferindo uma quantidade significativa de dívida a esta nova empresa”, explicam os analistas.
Além disso, a Telecom Italia possui uma negociação em aberto com a CDP Equity nesse sentido. Mas a transação bilionária pode ser estendida por conta da magnitude. Aliás, seria um negócio que precisaria de aprovação do governo italiano. Fundos de private equity também mostraram interesse no ativo.
Sobre a estrutura da dona da Tim, a XP aponta que se trata de uma ‘true corporation’ e a 5ª maior empresa da Itália. A composuição acionária inclui a Vivendi (23,75%) e Cassa Depositi e Prestiti (9,81%) com 2 e 1 membros no conselho de administração, respectivamente (de um total de 15 membros do conselho).
A controladora da Tim também soma 70 mil funcionários – e, justamente por conta disso, seu plano de reestruturação chama atenção do governo e do mercado.