O texto-base do relatório da reforma administrativa, de autoria do deputado Arthur Maia (DEM-BA), foi aprovado nesta quinta (23) na comissão especial da Câmara dos Deputados, com 28 votos a favor e 18 contra. O texto trata da possibilidade de corte de jornadas e salários de servidores em até 25%, mas condiciona a medida a um “cenário de crise fiscal, como alternativa em relação à adoção de outra mais drástica, o desligamento de servidores efetivos”, como indica o relatório de Maia.
Deputados vão votar os 21 destaques – pedidos de alteração ao texto principal. Após essa fase, a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) vai ao plenário da Câmara, onde precisa do apoio de no mínimo 308 deputados em dois turnos para chegar ao Senado.
A PEC foi enviada ao Congresso pelo governo no ano passado prevê uma reformulação nos Recursos Humanos do Estado, com novas regras para contratar, promover e demitir funcionários públicos.
A reforma administrativa propõe, entre outras medidas, a possibilidade de parceria do setor privado nos serviços públicos, aposentadoria integral para policiais e contratos temporários com até 10 anos de duração.
A proposta foi criticada pela oposição, que tentou barrar a votação desde quarta-feira (22), quando a sessão se estendeu para perto da meia-noite e terminou sendo suspensa. Essa obstrução contrariou o relator, que acabou retomando pontos das versões anteriores, como o artigo 37-A, que permite parcerias entre governos e iniciativa privada para execução de serviços públicos.
O dispositivo define que União, Estados e municípios podem, “na forma da lei, firmar instrumentos de cooperação com órgãos e entidades, públicos e privados, para a execução de serviços públicos, inclusive com compartilhamento de estrutura física e a utilização de recursos humanos de particulares, com ou sem contrapartida financeira”.
As versões apresentadas pelo relator também foram motivos para críticas da esquerda. “Foi uma confusão danada, encerramos a reunião (de quarta-feira) e cá estamos novamente. Agora, há meia hora mais ou menos, um novo relatório. Um novo relatório que muda substancialmente o texto que até agora vínhamos apreciando. E não é possível, para fortalecimento da democracia, para transparência do que acontece nesta Comissão”, disse a líder do PSOL, Talíria Petrone (RJ), criticando a retomada do artigo 37-A.
O texto aprovado permite que União, Estados e municípios firmem contratos temporários, por meio de processo seletivo impessoal e simplificado, pelo tempo máximo de dez anos. Esse tipo de contratação é vetada às carreiras típicas de Estado. Esses cargos, sem paralelo na iniciativa privada, serão, de acordo com o texto, aqueles ligadas à manutenção da ordem tributária e financeira, à regulação, à fiscalização, à gestão governamental, à elaboração orçamentária, à inteligência de Estado, ao controle, à advocacia pública, à defensoria pública e à atuação institucional do Ministério Público e dos Poderes Legislativo e Judiciário.
Foi aprovado também o fim de “penduricalhos“, como férias superiores a 30 dias para novos entrantes, membros dos Tribunais e Conselhos de Contas e aos titulares de empregos ou de funções públicas da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios e também aos dirigentes dos órgãos e das entidades integrantes da respectiva estrutura. Juízes e a cúpula do Ministério Público ficaram de fora dessa regra e poderão manter, por exemplo, férias de 60 dias.
Essa inclusão pode acontecer no plenário da Câmara, por meio de destaques, o relator disse, inclusive, que seu voto será a favor disso.
O texto estabelece ainda que, quando o servidor tem um desempenho insatisfatório, será avaliado por um colegiado. Duas avaliações insatisfatórias consecutivas ou três intercaladas serão suficientes para a abertura do processo administrativo. “Quem tem medo da avaliação de desempenho?”, questionou o relator. “Temos de avançar nesse sentido. A avaliação não é feita só para punir, mas também para avaliar o bom”.
Principais pontos da reforma administrativa:
- Permissão para União, Estados e municípios realizarem contratos temporários pelo prazo limite de 10 anos;
- Retomada de aposentadoria integral para policiais;
- Possibilidade de pareceria privada para execução de serviços públicos por Estados e municípios;
- Possibilidade de redução de 25% de jornada e salário de servidores em caso de crise econômica;
- Corte de “penduricalhos” para servidores da administração pública direta e indireta, ocupantes de cargos eletivos, membros dos Tribunais de Contas, do Ministério Público e da Defensoria Pública;
- Abertura de processo administrativo contra servidor após duas avaliações insatisfatórias consecutivas ou três intercaladas;
- Definição das carreiras típicas de Estado.
Alguns dos benefícios da reforma administrativa anulam parte das normas criadas pela reforma da Previdência aprovada em 2019, como a aposentadoria integral para os policiais e agentes penitenciários e socioeducativos, com os mesmos reajustes garantidos aos ativos, que tenham ingressado na carreira até novembro de 2019. O relator também estendeu para essas categorias as possibilidades para cônjuges ou companheiros receberem pensão por morte se o profissional morrer em serviço.
(Com informações da Agência Estado)