Em revisão especial por causa das turbulências da semana anterior – que derrubaram o Ibovespa em mais de 7% -. o Itaú BBA projeta um ano de 2022 mais atribulado e com um cenário econômico mais preocupante. Os analistas revisaram o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,5% de crescimento para uma queda de 0,5%, além de projetarem uma Selic de 11,25% ante 9% anteriores.
“Notícias sobre o aumento dos gastos fiscais aumentaram as dúvidas sobre o futuro do arcabouço fiscal no Brasil, que desde 2016 tem sido baseado em um teto de gastos ajustável. Embora a discussão sobre dominância fiscal pareça exagerada no momento, é verdade que, sem uma âncora fiscal crível, a tarefa do Banco Central em manter a inflação na meta se torna mais difícil”, frisa Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú.
Segundo o relatório, o aumento da incerteza fiscal provocado pelos eventos da semana passada, que incluem o aumento do risco de um furo do teto de gastos com o Auxílio Brasil e um ‘vale-diesel’ para os caminhoneiros, eleva o Risco Brasil e é o principal driver para inflação mais alta – com 18,4% de IGP-M e 9% de IPCA ainda em 2021, aumento de 0,9 e 0,3 pontos percentuais, respectivamente.
Para o time de análise do banco, o Banco Central (BC) enfrenta os problemas de ter que acomodar choques sucessivos sem perder a credibilidade, o que exige um equilíbrio entre a sinalização do compromisso com as metas de inflação ao mesmo tempo que é necessário ‘cortar na própria carne’ para manobrar os juros a custos de crescimento econômico.
“Em nossa visão, elevar a taxa Selic em 1,0- 1,25 ponto percentual seria uma resposta inadequada, pois sinalizaria uma disposição excessiva para acomodar os riscos de inflação mais elevada, enquanto um movimento acima de 1,5 ponto percentual provavelmente levaria a uma taxa de juros terminal que colocaria a economia em recessão profunda. O meio-termo não evitará uma recessão, mas contribuirá para limitar o aumento das expectativas de inflação”, analisa o relatório.
Reformas devem ser contrapeso, diz Itaú BBA
A agenda de reformas, ainda ofuscada entre as prioridades do Planalto, pode ser um instrumento de redução do risco-país, segundo o time de análise.
A retomada de pautas como a reforma administrativa pode ser um sinalizador para uma maior ‘resiliência fiscal’, o que deve ajudar a aliviar a pressão sob o orçamento público e reduzir as incertezas do cenário econômico futuro.
“Nesse cenário, a maior confiança do consumidor e das empresas pode levar a um crescimento mais rápido no próximo ano. Mas as reformas precisam avançar”, frisa Mesquita, do Itaú BBA.
O que preocupa os analistas
Com eleições de 2022 já no radar, o governo federal planeja gastos mais dispendiosos – como é costumeiro em anos eleitorais -. o que pode gerar uma flexibilização do teto de gastos e colocar as contas públicas em xeque.
A manobra contábil do Planalto para alterar o teto é ‘respaldada’ pela necessidade de conceder um programa social de R$ 400 a cerca de 17 milhões de brasileiros, o que não cabe no orçamento atual com os limites firmados. Com a proposta de Auxílio, o dólar disparou a R$ 5,7 e puxou a alta das exportadoras – as únicas que subiam na bolsa ante quedas generalizadas que formaram a pior semana do ano para o Ibovespa.
A licença para furar o teto no caso do Auxílio, em valores concretos, seria de uma cifra de R$ 30 bilhões em 2022.
Somado a isso, notícias recentes apontam que o novo relatório da PEC dos precatórios também traz mudança no cálculo do teto de gastos, empurrando o limite para cima e abrindo espaço no orçamento de forma artificial.
A proposta – já aprovada na Comissão Especial e que ainda precisa passar pela Câmara e pelo Senado — prevê a possibilidade de o governo gastar R$ 83 bilhões a mais em 2022, deteriorando o cenário fiscal para 2022 e preocupando o mercado, como deixaram evidente no relatório os analistas do Itaú BBA.