Diante do cenário recente, de juros elevados, a renda fixa passou a ficar mais atrativa entre os investidores. Uma das opções mais buscadas pelas pessoas são os títulos públicos do Tesouro Direto. Apesar disso, ainda há a dúvida se 2023 é um bom ano para investir nesses títulos de renda fixa.
Lançado em 2002, o Tesouro Direto é um programa do Tesouro Nacional, desenvolvido em parceria com a B3 para a venda de títulos públicos federais para pessoas físicas.
O Tesouro Direto foi criado com a proposta de democratizar o acesso a títulos públicos, possibilitando investimentos a partir de aproximadamente R$ 30.
Atualmente, existem 19 opções de títulos disponíveis na plataforma do Tesouro Direto. Alguns desses investimentos possuem datas de vencimento mais curtos, enquanto outros são mais longos.
Apesar dessa grande quantidade de títulos do Tesouro Direto, esses investimentos são separados, de modo geral, em três tipos:
- Prefixados: os títulos prefixados são aqueles que possuem taxa de juros fixa, ou seja, o investidor já conhece no momento da aplicação.
- Tesouro Selic: esses títulos são pós-fixados, com a rentabilidade atrelada à taxa básica de juros da economia, a Selic.
- Tesouro IPCA: a rentabilidade desse título está atrelada à inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Esses títulos proporcionam rendimento igual à variação da inflação mais uma taxa prefixada de juros. Desse modo, esses títulos são mistos, com remuneração híbrida.
Em entrevista ao Suno Notícias, Francis Wagner, CEO do App Renda Fixa, comenta que esses títulos do Tesouro Direto sofrem marcação a mercado. Ou seja, suas taxas e preços passarão por variações ao longo do tempo.
Apesar disso, “para o investidor que não pretende vender seus títulos antes do vencimento essa marcação a mercado não há importância, pois o Tesouro Nacional garante a taxa pactuada na compra”, complementa.
Francis também comenta que alguns títulos públicos contam com pagamento de juros semestrais. Isso pode ser interessante para os investidores que desejam receber um fluxo de pagamentos periodicamente.
2023 é um bom ano para investir no Tesouro Direto?
Ao Suno Notícias, Vinicius Romano, especialista em Renda Fixa na Suno Research, acredita que 2023 é um bom ano para realizar investimento no Tesouro Direto. Segundo ele, isso se deve, principalmente, por três razões.
O primeiro motivo citado é a “possibilidade de altos retornos”. O especialista afirma que “após a nossa taxa Selic sair de 2% para 13,75%, se abriu uma janela muito interessante para o investimento em renda fixa, permitindo que os investidores ‘travem’ um retorno que não víamos há anos no Brasil”.
O segundo fator citado por Vinicius é a “manutenção do poder de compra e possível cenário favorável para os próximos anos”.
Segundo ele, diante da melhora do cenário macroeconômico nos próximos anos, existe uma tendência de queda nas taxas de juros, “já que o controle da inflação e o avanço do PIB permitem esse movimento”.
“Considerando que essa melhora se concretize, poderemos observar uma marcação a mercado positiva no preço dos títulos de renda fixa, o que traria ganhos adicionais para os investidores”, complementa.
A terceira razão citada por Vinicius é a segurança. Ele explica que os títulos públicos são emitidos pelo governo, “emissor considerado como o mais seguro dentro do nosso país, por ser o detentor da moeda”.
Francis Wagner, do App Renda Fixa, também entende que 2023 é um bom ano para investir no Tesouro Direto.
Segundo ele, a aplicação em títulos públicos “é sempre muito interessante, principalmente quando se levam em consideração alguns fatores, como o perfil de investidor, a taxa de juros e os objetivos do investidor”.
“Por exemplo, um investidor mais conservador ou até mesmo moderado pode pensar em investir em títulos públicos como uma forma de diversificação de seu portfólio de ativos”, comenta,
“Já aquele investidor mais atento aos cenários do mercado pode se utilizar dos títulos públicos para fazer um certo tipo de especulação no Tesouro Direto, pois quando a taxa de juros está alta, os preços dos títulos ficam mais baixos e quando o movimento de queda de juros se inicia, o preço dos títulos do tesouro tende a aumentar. É que eles são inversamente proporcionais às taxas, fazendo com que o investidor consiga antecipar os juros a receber”, complementa.
Francis afirma que outro fator de aplicação são os objetivos do investidor. Conforme ele, com os títulos, existe a possibilidade de ter mais previsibilidade para tornar os objetivos realidade, “sejam eles de curto, médio ou longo prazo, já que o Tesouro Direto possui títulos com diversos prazos e características”.
As vantagens de investir no Tesouro Direto
Francis cita que a grande vantagem dos títulos públicos é que eles contam com a garantia do Tesouro Nacional.
“Ou seja, pode-se considerar que são os ativos mais seguros do mercado, pois não há vantagens para o Tesouro não pagar aos investidores já que é possível rolar a dívida com novas emissões de títulos no mercado”, comenta.
Além da questão da segurança, o CEO do App Renda Fixa comenta que outro ponto favorável é que há títulos longos, “com 10 ou 20 anos mais ou menos até seu vencimento, o que pode ser muito interessante para aqueles investidores que buscam alternativas de longo prazo com mais segurança”.
Por fim, ele destaca como vantagem o fácil acesso relativo aos valores mínimos para o investimento no Tesouro Direto.
Por causa do baixo valor que se pode começar a aplicar em títulos públicos, o especialista alega que isso “é bastante interessante para o pequeno investidor ou aquele investidor que está acostumado com a poupança”.
Já no entendimento de Vinicius, como principais vantagens de investir no Tesouro Direto, estão a segurança, previsibilidade, diversificação e acessibilidade.
Um risco de investir no Tesouro Direto
Com relação aos riscos, Vinicius destaca que a marcação a mercado possa ser um aspecto negativo para os investidores que não conhecem muito bem o seu funcionamento.
O especialista explica que, para que a pessoa garanta a rentabilidade contratada, o ativo deve ser mantido até a data de vencimento indicada.
Caso contrário, esses investidores estarão sujeitos à marcação a mercado (para os títulos prefixados e IPCA+): “Isso porque os preços dos ativos variam conforme as condições de mercado mudam”.
Francis também destaca a marcação a mercado como um dos principais riscos, “pois um investidor desatento pode investir em períodos de taxas baixas, o que pode fazer com que ele fique receoso quando as taxas aumentarem e o preço de seus títulos abaixarem”.
“Um problema mais grave em função disso pode ocorrer caso o investidor precise vender os títulos antes do vencimento – nesse caso teria perda financeira”, complementa.
Os melhores títulos para cada objetivo da vida
Vinicius, da Suno Research, declara que os títulos prefixados são indicados para as pessoas que desejam garantir uma rentabilidade fixa, sendo bastante usado para metas de médio e longo prazo (viagem, compra de bens, entre outros).
No caso dos títulos pós-fixados, como o Tesouro Selic, o especialista em Renda Fixa comenta que são ideais para quem busca formar uma reserva financeira e/ou se expor às variações da taxa Selic.
Já com relação ao Tesouro IPCA+, ele comenta que tende a ser a melhor opção para quem visa se proteger da inflação, “configurando um dos investimentos ideais para o longo prazo (aposentadoria)”.
Na visão de Francis, do App Renda Fixa, os investidores mais conservadores podem optar pelo Tesouro Selic.
Ele comenta que essa opção não sofre tanto com a marcação a mercado, como os demais títulos, e também “serve bem como reserva para emergências devido a não ter tanta flutuação nas taxas e também por não ter taxa de custódia da B3 para valores inferiores a R$ 10 mil”.
O especialista comenta que os investidores mais arrojados podem optar pelo Tesouro Prefixado ou Tesouro IPCA+, já que ambos possuem marcação a mercado mais significativa, “o que pode fazer com que esses investidores se beneficiem disso”.
“Todos esses títulos podem servir para a realização de objetivos como aquisição de imóvel, carros, viagens, basta que o investidor alinhe os prazos de vencimentos com a realização desses objetivos”, complementa.
O novo título do Tesouro Direto para aposentadoria
Francis ainda comenta que, recentemente, o Tesouro Nacional criou o título RendA+. Este título público possui foco em aposentadoria e “funciona como uma previdência complementar”.
O CEO do App Renda Fixa cita que esse título público oferece a possibilidade de investimentos para até 40 anos de acumulação e mais de 20 anos de fluxo de renda mensal.
Além disso, a nova opção no Tesouro Direto permite isenção da taxa de custódia da B3 para quem levar esse título até a data de vencimento e recebe até seis salários mínimos de renda mensal.
Quanto renderiam R$ 1 mil com os títulos do Tesouro Direto?
Para ter uma ideia de quanto rendem os títulos do Tesouro Direto, fizemos uma simulação de uma a aplicação inicial de R$ 1 mil. Essas simulações, realizadas por meio da ferramenta disponibilizada pelo próprio TD, não consideraram eventuais aportes mensais — mas apenas o valor inicial.
Estes são os rendimentos líquidos previstos nas respectivas datas de vencimento (para o Tesouro Prefixado, Tesouro Selic e Tesouro IPCA+), conforme a rentabilidade e condições indicadas na tarde do dia 31 de janeiro:
Título | Rendimento líquido previsto |
TESOURO PREFIXADO 2026 | R$ 1.352,58 |
TESOURO PREFIXADO 2029 | R$ 1.892,19 |
TESOURO PREFIXADO com juros semestrais 2033 | R$ 2.760,88 |
TESOURO SELIC 2026 | R$ 1.289,15 |
TESOURO SELIC 2029 | R$ 1.592,73 |
TESOURO IPCA+ 2029 | R$ 1.685,38 |
TESOURO IPCA+ 2035 | R$ 2.908,53 |
TESOURO IPCA+ 2045 | R$ 7.367,83 |
TESOURO IPCA+ com juros semestrais 2032 | R$ 2.157,16 |
TESOURO IPCA+ com juros semestrais 2040 | R$ 4.195,76 |
TESOURO IPCA+ com juros semestrais 2055 | R$ 14.151,89 |
Quanto da renda pessoal destinar para os investimentos?
No entendimento de Vinicius, da Suno Research, “normalmente, é interessante destinar, pelo menos, 10% da renda mensal para os investimentos.
Segundo ele, a partir disso, os aportes podem ser direcionados entre títulos de renda fixa, ações, fundos imobiliários, entre outros.
“Acredito que o mais importante é criar o hábito de poupar e destinar um % da sua renda para o seu ‘eu’ do futuro”, finaliza.
Impostos e taxas cobrados no Tesouro Direto
Ao aplicar no Tesouro Direto, são cobrados o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), para resgates do investimento em menos de 30 dias, e Imposto de Renda, com alíquota regressiva a depender do prazo da aplicação, do seguinte modo:
- 22,5%, em investimentos com prazo de até 180 dias;
- 20%, em investimentos com prazo de 181 dias até 360 dias;
- 17,5%, em investimentos com prazo de 361 dias até 720 dias;
- 15%, em investimentos com prazo acima de 720 dias.
Nas operações com o Tesouro Direto, ainda são cobrados dois tipos de taxas:
- Taxa de custódia: cobrada semestralmente pela B3
- Taxa de administração: pode ser cobrada pela Instituição Financeira (corretoras, bancos ou distribuidoras de valores), segundo que o valor pode variar entre elas.
Como investir no Tesouro Direto?
O investimento em títulos do Tesouro Direto pode ser realizado por pessoas que tenham Cadastro de Pessoa Física (CPF), residentes do Brasil ou não, e que sejam cadastradas em alguma das instituições financeiras (corretoras de valores, bancos ou distribuidoras de valores) habilitadas a operar no Tesouro Direto.
De modo geral, a aplicação pode ser realizada da seguinte forma:
- Escolha uma instituição financeira habilitada;
- Após realizar o cadastro na instituição de preferência, você receberá uma senha, via e-mail, que possibilita o acesso à área exclusiva de investimento do Tesouro Direto, que é o Portal do Investidor.
- A partir disso, você terá como investir nos títulos que preferir. Os investidores podem acompanhar o rendimento dos títulos públicos pelo site do Tesouro Direto ou pelas plataformas das instituições financeiras habilitadas.
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