No relatório de resultados do primeiro trimestre de 2021 a Tesla (TSLA34) informou que vendeu 10% dos Bitcoin adquiridos entre entre janeiro e fevereiro, obtendo um lucro superior a US$ 100 milhões (cerca de R$ 560 milhões).
A decisão da Tesla de vender tantos Bitcoin dividiu a comunidade dos cripto-investidores.
A primeira reação nas redes sociais foi muito dura contra o diretor-presidente (CEO) e fundador da Tesla, Elon Musk, acusado de ter feito “pump and dump“ no preço da criptomoeda por meio de vários tweets e depois lucrado com isso.
No entanto, ao analisar as notícias com frieza e profundidade, verifica-se que as coisas não são exatamente nesses termos.
Entenda a operação da Tesla (TSLA34) com Bitcoin
No dia 8 de fevereiro de 2021 a Tesla havia anunciado a compra de US$ 1,5 bilhão de Bitcoin, cerca de 48.000 unidades da criptomoeda em um preço de US$ 31.250 dólares cada um.
No último trimestre, a Tesla anunciou que vendeu cerca de 10% de sua exposição em Bitcoin, algo em torno de 4.800 unidades, obtendo uma receita de US$ 272 milhões. O que significa que teria revendido a um preço médio de US$ 56.600, realizando um ganho de capital bruto de 81%.
Em termos nominais, a Tesla pode ter vendido Bitcoin a um preço médio de cerca de US$ 26.000 superior ao da compra, o que permitira chegar aos US$ 101 milhões de lucro líquido reportado no trimestre (em um total de US$ 438 milhões).
Na base desses números é possível chegar à conclusão de que Elon Musk queria especular sobre o preço do Bitcoin?
É inegável que seus tweets não deixaram indiferente a comunidade investidora, principalmente de criptomoedas.
Basta pensar no que acontece com a Dogecoin, uma criptomoeda nascida como uma piada que nos últimos dias atingiu mais de US$ 50 bilhões em capitalização, registrando fortes altas após os tweets do chefe da Tesla e da SpaceX.
Ao mesmo tempo, há pelo menos duas considerações que podem dissipar as acusações contra Musk.
Em primeiro lugar, o próprio Musk afirmou em um tweet que ele pessoalmente não vendeu seus Bitcoin, mas que uma pequena parte (10%) dos Bitcoin inscritos no balanço patrimonial da Tesla foram vendidos como parte de uma estratégia de diversificação de liquidez em relação ao componente em dólares.
Dessa forma, segundo Musk, foi enviada uma mensagem para outras empresas sobre como o Bitcoin pode representar um ativo válido a ser incluído no balanço patrimonial.
Cálculo simples
De fato, essa é uma dedução que qualquer investidor cuidadoso poderia fazer.
Quando a Tesla comprou o Bitcoin por US$ 1,5 bilhão, alocou 8% de sua liquidez (US$ 19 bilhões) na criptomoeda.
Dado que nesse período o preço do Bitcoin praticamente dobrou, se a Tesla não tivesse vendido uma parte não teria realizado o que os investidores chamam de “rebalanceamento periódico da carteira“.
Se um ativo sobe muito em comparação com os outros que fazem parte da mesma carteira, e se o objetivo é manter as exposições percentuais iniciais inalteradas, a única forma de rebalancear a carteira (no caso específico da Tesla para manter a exposição em Bitcoin em 8%) é vender o que subiu ou aumentar as compras de outros ativos.
Nesses termos, o “take profit” da Tesla com o Bitcoin era quase obrigatório.
De fato, contas em mãos, ao preço atual do Bitcoin – por volta de US$ 55.000 – a Tesla deveria ter um valor equivalente de aproximadamente US$ 2,37 bilhões (já descontando o que foi vendido). Algo que representaria 13,5% do total de sua liquidez (que nesse meio termo caiu de US$ 19,3 bilhões para US$ 17,1 bilhões).
Portanto, se a Tesla quisesse implementar um rebalanceamento mais preciso, ou seja, trazer a exposição de volta para 8%, teria que vender ainda mais Bitcoin, obtendo um lucro ainda maior.
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