Tesla começa bem 2020: ações em nível recorde e pedidos que dobraram
A produtora de carros elétricos Tesla (TSLA) começou 2020 em grande estilo. As ações da empresa fundada por Elon Musk registraram um recorde: a cotação atingiu US$ 433 na última sexta-feira (3), após subir 3% na sessão.
O valor dos papeis da Tesla mais do que duplicou em comparação aos US$ 178 em que se encontrava há seis meses, quando tinha atingido o ponto mais baixo de 2019. Além disso, a montadora anunciou que registrou um crescimento das ordens globais de 50% em 2019: um total de 367 mil unidades.
Após ter registrado um prejuízo de US$ 1,1 bilhão no primeiro semestre de 2019, Tesla alcançou US$ 143 milhões em lucros no terceiro trimestre do ano passado. Uma reviravolta contável que gerou a expectativa de que a empresa, que também produz baterias e painéis solares, finalmente se torne lucrativa em 2020.
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Um resultado positivo que iniciou no terceiro trimestre, quando foi registrado um dividendo de US$ 1.86 por ação, contra as previsões de um prejuízo de US$ 0,42 por papel previsto pelos analistas. A aposta para 2019 é de cerca de US$ 6,7 bilhões em vendas. Mas os resultados do ano passado, que serão divulgados ao longo do primeiro trimestre de 2020, poderiam ser muito melhores. Nada mal por um ano que começou com um primeiro trimestre de resultados abaixo das previsões.
Nova planta alemã da Tesla
Entre os fatores que convenceram os mercados sobre o desempenho da Tesla em 2020 estaria a mudança de rumo estabelecida por Musk. Nos últimos meses o fundador da empresa enfrentou os gargalos que geraram ineficiências para as plantas do grupo. Entre eles, o excesso de pedidos, o pouco tempo a disposição para satisfaze-los. Resultado: entregas atrasadas, clientes e acionistas desapontados.
A mudança de rumo foi ditada principalmente pela chegada na produção do Modelo 3, o sedan projetado para um público mais amplo. O objetivo é deixar os carros da Tesla ao alcance de todos (ou quase).
E, de fato, foram registrados novas encomendas do veículo. Somente na Europa, o Modelo 3 registrou 17.500 unidades comercializadas entre julho e setembro de 2019, tornando-se o carro elétrico mais vendido no Velho Continente. Um resultado importante para a Tesla.
Por isso, a empresa de Palo Alto (EUA) decidiu começar a produzir também na Europa, construindo uma planta na Alemanha, no interior da região de Berlim. No final de 2019, Musk e o governo do estado alemão (Land) do Brandenburgo alcançaram um acordo para a compra e venda do terreno em que a fábrica será construída.
O valor do investimento dos norte-americanos não foi divulgado. Entretanto, não é segredo nenhum que a Tesla quer produzir o Modelo 3 e o Suv Modelo Y o quanto antes na nova planta, junto com as baterias elétricas. A construção da planta deveria começar em 2020, se tornado operacional em 2021.
Mas foi justamente uma pesquisa alemã que informou que um Modelo 3 emite mais Co2 que um Mercedes turbodiesel. Não é exatamente um detalhe: se esses valores fossem confirmados, um dos pilares do negócio de Musk – a sustentabilidade – se tornaria um mito e não mais uma realidade.
A figura é extremamente secreta, o desejo de Musk de começar a produzir o Modelo 3, o SUV Modelo Y e as baterias elétricas na nova planta maxi alemã não é igualmente extremamente secreto. Curiosidade: um estudo alemão afirmou que um Modelo 3 emite mais Co2 que um Mercedes turbodiesel. Não é exatamente um detalhe: se os valores fossem confirmados, um dos pilares dos negócios de Musk, a sustentabilidade, falharia. No entanto, o trabalho deve começar em 2020 para que a fábrica esteja operacional até 2021.
Negócio da China
Do outro lado do mundo, em Xangai, a Tesla construiu a Giga-factory 3, a primeira planta realizada fora do território dos Estados Unidos, em cerca de 10 meses. O objetivo é produzir cerca de 150.000 unidades do Modelo 3 por ano para o mercado chinês.
Segundo os analistas, a abertura do mercado chinês é “uma parte crucial para o crescimento da Tesla em 2020”. Uma opinião divulgada antes dos boatos sobre um mega-empréstimo de cerca de US$ 1,5 bilhão de dólares fornecido para a empresa norte-americana por importantes bancos locais.
Além das novas plantas, em 2020 a Tesla deveria lançar um serviço de táxi-robôs: carros autônomos sem motorista humano. Algo que também agradou o mercado.
Personalidade complicada de Musk
Claro, todos esses feitos poderão ter problemas com o próximo tweet inadequado de Musk. Ou com a próxima gafe ou erro de comunicação da empresa. Como o caso do vidro inquebrável da picape elétrica futurista Cybertruck, que acabou despedaçado no evento de apresentação, transmitido em streaming mundial.
Ou como o caso do tweet escrito em agosto de 2018, no qual Musk anunciou a possibilidade de retirar a Tesla do Nasdaq. Outro episódio ocorreu quando o CEO anunciou ter obtido um empréstimo que teria valorizado as ações de US$ 420 cada uma. Um valor bem acima do preço de mercado. Pena que Musk negou tudo depois de alguns dias. Naquela ocasião até os investidores mais leais vacilaram sob os golpes da SEC, que em outubro sancionou o executivo sul-africano com uma multa de US$ 20 milhões.
Ou no caso que beirou o grotesco, quando Musk fumou maconha ao vivo durante uma entrevista, acompanhado de um copo de uísque. Obviamente, nas 24 horas seguintes as ações caíram 6% na Bolsa tecnológica dos EUA, queimando US$ 3,1 bilhões de dólares de valor de mercado da empresa.
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No entanto, a força de Musk pode ser resumida em uma só palavra: resiliência. Ele não somente conseguiu sobreviver a sócios e acionistas, mas parece ter dado volta por cima. Graças a ao bom resultado trimestral do final de 2019 e a produção que parece ter engatilhado, o título da Tesla alcançou e superou os US$ 420, chegando na véspera de Natal a US$ 422 por papel. Musk anunciou no dia seguinte uma “atualização” no carro elétrico: o veículo não terá apenas a direção autônoma, mas será também equipado com videogames. E assim as ações da empresa continuaram subindo.
Mercado confiante
No final das contas, o mercado parece continuar confiando em Musk, apesar de tudo. Até porque a Tesla recebeu mais de 200 mil encomendas para o Cybertruck, mesmo após a desastrada apresentação.
E o próprio Musk parece confiar bastante em suas capacidades. Seja quando fala de carros elétricos, que quando fala de operações no espaço.
No caso da SpaceX, a empresa aeroespacial criada para levar turistas ao espaço e, no longo prazo, colonizar Marte, o próprio Musk admitiu: “vai levar pelo menos 20 anos”. Por enquanto, o roteiro espacial já prevê em 2020 a primeira viagem espacial ao redor da lua do turista bilionário Yusaku Maezawa. A primeira aterrissagem no único satélite natural da Terra está prevista para 2024. A conquista de Marte sem previsão.
Também porque nos primeiros testes de lançamento, o foguete Starship não passou na fase de lançamento, explodindo no céu acima de Boca Chica, no Texas. Obviamente, o resultado malsucedido da tentativa número um – “não totalmente inesperado”, segundo a SpaceX – poderia retardar os projetos ambiciosos de Musk. Mas, para o exevutivo, “não é um revés grave”.
No momento, o negócio mais rentável da SpaceX é o lançamento de satélites Starlink para tornar a Internet acessível a todos. O objetivo é colocar 1.440 unidades em órbita.
Grandes projetos à beira da ficção científica que, no entanto, trazem pouco dinheiro aos bolsos de Musk. O executivo possui ativos de cerca de US$ 20 bilhões, 99% dos quais são ações da Tesla e da SpaceX e 500 milhões em dívidas. Pouca liquidez, mas muitas idéias. Como o projeto de trens super-sônicos ou o projeto Neuralink que, através de sensores implantados no cérebro, deveria permitir o controle de smartphones e computadores.