A Technos (TECN3) colheu no segundo semestre de 2020 alguns frutos da reestruturação operacional e da preservação de caixa do plano de turnaroud. Agora, em 2021, a fabricante de relógios brasileira planeja ir atrás do que não capturou no ano passado, mirando a aceleração do digital e do segmento de smartwatches.
Desde de 2013, a Technos — antes controlada por um grupo de private equity compostos por gestoras como Dynamo, Gávea e Victoria — encolheu ano após ano depois de uma recessões das piores já conhecidas pelo Brasil e uma série de decisões equivocadas no que tange à diversificação do portfólio. A cereja do bolo foi a saída do CEO, Joaquim Ribeiro, em 2014.
“Um dos principais erros foi culparmos o cenário macro. Isso ofuscou ineficiências internas. Focamos muito nos últimos anos em diversificação, de canal e de produto, o que consumiu muita atenção do core“, explicou Daniela Pires, diretora financeira do Grupo Technos. “Entendemos mais recentemente que tinha muita coisa interna na companhia que havia desandado.”
Esse foi o clique: “precisamos deixar a companhia redonda, isto é, focar no core e recuperar rentabilidade para que a diversificação seja um adicional”, relembrou a executiva.
O turnaround
O estopim levou a uma mudança em 2019, a qual trouxe de volta o Joaquim Ribeiro à fabricante de relógios e instaurou uma agenda forte de tornaround, de revisão da estratégia da companhia e de recuperação de margem e rentabilidade.
A empresa começou então a implementar mudanças visando recuperação de Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) e de margem bruta. A retomada de margem, por exemplo, veio através do desenvolvimento e valorização de produto, o que possibilitou a cobrança de um price premium em cima da concorrência.
A Technos iniciou o ano de 2020 com o objetivo de continuar a implementação do planejamento de turnaround e melhorar a performance. A partir de março, entretanto, a evolução da pandemia impactou negativamente a venda de produtos e serviços da companhia.
“Estávamos em um cenário de incerteza muito grande. Não sabíamos quanto tempo levaria, quanto tempo o mercado ficaria fechado. O impacto foi muito grande na receita”, lembrou Daniela Pires, CFO da empresa.
No final de março, o grupo realizou antecipou um desligamento de cerca de 30% a 35%, uma medida já prevista no plano de turnaround.
A fabricante também estabeleceu uma agenda com os fornecedores, segurando compras e embarques, com um realinhamento do planejamento de pagamento.
Soma-se a isso a reestruturação da assistência técnica. O modelo anterior da Technos era baseado em uma custosa rede de filiais próprias em todo o Brasil, com direito a estoques, atendentes, relojoeiros e aluguel de espaço físico. Enquanto isso, outros players, tanto no segmento de relógios quanto fora, trabalham com assistência técnica terceirizada. Com o baixo fluxo de clientes em meio à pandemia, a empresa decidiu fechar as unidades próprias e terminou dezembro com quase nenhuma aberta.
Mas mais importante foi a renegociação da dívida financeira. A Technos sentou em uma mesa com seis bancos e firmou uma grande renegociação, a qual possibilitou à fabricante tirar aproximadamente R$ 100 milhões de curto prazo e levar para um prazo médio de 4,3 anos.
Os Frutos
Como consequência, a Technos demonstrou no segundo semestre uma recuperação de performance. A receita líquida do período cresceu 4,0%, enquanto que o lucro bruto aumentou 12,3%, com expansão de 3,7 pontos percentuais de margem bruta.
Quanto ao operacional, o Ebitda ajustado mais que dobrou no segundo semestre, atingindo R$ 34,8 milhões, o melhor desde 2015.
O resultado foi reflexo da mudança estrutural, a qual trouxe ganho de eficiência e redução de SG&A, acompanhados de recuperação de mercado.
Ao mesmo tempo, o alongamento da dívida “adequou bastante a estrutura de capital da companhia e a necessidade de caixa de curto prazo”, ressaltou Luís Ricardo, gerente de relações com investidores. “Adicionalmente, quando olhamos para o capital de giro temos uma redução de prazo concedido para cliente, o que diminui a pressão de contas a receber”.
Os próximos passos
De acordo com Daniela Pires, os próximos passos para a fabricante de relógios são acelerar o digital, via e-commerce, e focar no segmento de smartwatches.
“Quando olhamos muitas empresas, como Hering (HGTX3) e Arezzo (ARZZ3), o foco em 2020 foi o digital. Estávamos um passo atrás”, disse a diretora. “2021 é um ano para capturarmos o que não fizemos em 2020”.
A Technos ainda trouxe Aymeric Chaumet, conselheiro da europeia de joias Morellato, para seu próprio conselho de administração. O francês é parceiro de longa data e um dos maiores acionistas da fabricante brasileira, com uma participação de 10%. O executivo foi eleito na última sexta-feira (30), em assembleia geral ordinária (AGO).
Fica para este ano também o reabastecimento do estoque. Após congelar compras com fornecedores, a Technos terá de se esforçar para recompor o volume.