Taxação de bancos reflete “círculo vicioso” e afugenta investidores, dizem especialistas
Na tarde da última segunda-feira (1), os grandes bancos listados na Bolsa de Valores de São Paulo (B3), que seguiam seu caminho ao clube de altas do Ibovespa, viraram para baixo. A reviravolta veio após o jornal O Globo reportar que o governo federal planeja aumentar o imposto sobre setor bancário para zerar tributos sobre diesel e gás de cozinha (GLP). O mercado, disseram especialistas, não viu a compensação com bons olhos, enxergando nela mais uma interferência do presidente Jair Bolsonaro sobre a economia.
O governo decidiu elevar a tributação sobre bancos, além de limitar a isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de carros para pessoas com deficiência e acabar com renúncias tributárias para o setor petroquímico com o objetivo de zerar o PIS/Cofins sobre o diesel e o GLP.
Os investidores reagiram à notícia colocando os preços dos bancos brasileiros para baixo. Em questão de horas, as ações das principais instituições financeiras do País entortaram a curva e foram ao vermelho.
Os papéis preferências do Itaú Unibanco (ITUB4) fecharam o dia em queda de 3,00%, a R$ 24,77; enquanto os ordinárias recuaram 2,80%, para R$ 22,70. As ações ON e PN do Bradesco (BBDC4) despencaram 3,25%, a R$ 19,92, e 3,30%, a R$ 22,24. As units do Santander Brasil (SANB11) perderam 1,18% de seu valor, chegando a R$ 36,95.
Hoje, os bancos abriram no negativo, mas, por volta das 12h40, as ações dos grandes bancos dão a volta por cima, com os ativos preferenciais do Bradesco e do Itaú e os ordinários do Banco do Brasil (BBAS3) entre as maiores altas do Ibovespa.
Mesmo assim, os impactos da notícia ainda repercutem hoje nos mercados, com o dólar chegando perto dos R$ 5,70, em meio à maior incerteza sobre as instituições brasileiras.
Aumento de imposto já era esperado, mas desagrada
Apesar do susto da última segunda-feira, não é como se o mercado tenha sido pego puramente de surpresa. Os grandes bancos do Brasil são frequentemente eleitos os vilões por conta de seu poderia financeiro e da alta concentração do setor no País.
Além disso, “nós já tínhamos a expectiva de que o governo teria que tirar dinheiro [para zerar os impostos sobre o diesel e o GLP] de algum lugar”, declarou Jefferson Laatus, estrategista-chefe da Laatus. Ainda assim, “isso é péssimo”.
De acordo com o especialista, o aumento na tributação sobre o setor é bancário ruim por três aspectos:
- pela elevação de custos a bancos;
- pelo provável repasse desses valores aos clientes;
- e por ser essa mais uma ingerência do governo.
“Isso afugenta o investimento”, pontuou o estrategista. “É todo dia uma novidade. E uma novidade ruim. É um círculo vicioso que não se encerra.”
Na visão de Marcio Loréga, analista técnico da Ativa Investimentos, esse é o caso de mais uma ingerência do governo federal para compensar um outra interferência que fez anteriormente. “O mercado vai enxergar isso como uma medida de cunho populista”, disse.
Mudança não deve trazer grandes impactos para bancos
Em relatório divulgado nesta terça-feira (2), os analistas Marcel Campos e Paulo Gama, da XP Investimentos, destacaram que a nova alíquota da CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) só deve passar a valer a partir de julho, com um efeito limitado apenas para 2021. O Congresso Nacional, ressaltam ainda, tem de aprovar a medida do governo.
Na análise de André Pimentel, sócio da consultoria Performa Partners, embora pressionados pela pandemia de covid-19, os bancos mostraram em geral resultados sólidos nos últimos meses.
Enquanto isso, a decisão do governo se coloca muito mais como um tratamento “paliativo” para as questões de curto prazo, com as quais Bolsonaro buscava lidar, observou o especialista.
“Acho muito pouco provável que um impacto relevante vá ocorrer”, afirmou.