Taxa de administração de fundos ‘mono ação’ pode chegar a 3% ao ano
Na oferta da Eletrobras (ELET3), que marcou a privatização da companhia, 370 mil trabalhadores compraram ações utilizando parte do saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). A demanda foi tamanha que os investidores não conseguiram comprar todas as ações que desejaram. Para atrair esses recursos, bancos e corretoras lançaram mais de 20 fundos com o propósito único de comprar ações da empresa de energia na oferta.
A disputa pelos recursos do FGTS na oferta se tornou tão grande que o reflexo chegou às taxas de administração cobradas pelo mercado. Elas começaram, na média, em 1%, mas chegaram a cair de forma generalizada, chegando em algumas casas a 0,2% ao ano.
No entanto, essa não é a realidade de outros fundos no mercado que têm investimento em uma única ação listada na Bolsa. Levantamento realizado por Einar Rivero, por meio da plataforma Economatica/TC, mostra que há 66 fundos de investimento “mono ação”, a maioria com ações da Vale (VALE3) ou Petrobras (PETR4). O estudo não contabiliza fundos que foram lançados recentemente no âmbito da privatização da Eletrobras.
Desses fundos, 39 cobram mais do que 1% de taxa de administração, sendo que três cobram 3% anualmente, esses geridos pelo Itaú Unibanco (ITUB4). O fundo com maior número de cotistas é um administrado pelo Banco do Brasil (BBAS3), com 35 mil e um patrimônio na casa de R$ 1 bilhão, apenas com ações da Vale. A cobrança é de 2% aos cotistas. Isso significa que, sem esforço de gestão, o fundo rende à instituição financeira cerca de R$ 20 milhões anualmente. Procurados, Itaú e BB não comentaram.
A concentração em ações de Vale e Petrobras é explicada porque, assim como a Eletrobras, foi liberado antes o uso do FGTS do trabalhador para compra de ações dessas duas companhias, o que impulsionou o interesse do trabalhador. Além desses casos, também há fundos mono ação com papéis da Cielo (CIEL3), BB Seguridade (BBSE3) e Bradesco (BBDC4).
Função
A taxa de administração é cobrada para remunerar o gestor do fundo pelo trabalho de seleção dos ativos que irão compor a carteira. No entanto, em um fundo mono ação, esse trabalho não existe, já que ele foi constituído para comprar apenas uma ação, não podendo diversificar o portfólio com outros ativos.
“Fundos mono ação deveriam cobrar taxas de administração extremamente baixas, pois não há praticamente nenhum trabalho em gerir uma carteira com uma única ação. Basta comprar e vender a ação dessa única empresa conforme os saques e depósitos feitos no dia. E um bom algoritmo faz essa tarefa sem a necessidade de qualquer intervenção humana rotineira”, diz o professor da escola de economia da FGV Henrique Castro. Isso porque as taxas cobradas podem corroer grande parte do ganho do investidor – isso se as ações subirem, visto que a cobrança da taxa ocorre mesmo em um momento de desvalorização. Portanto, os investidores devem estar atentos a quanto estão pagando por este serviço.
Segundo a sócia-fundadora da Vtech, Ilana Bobrow, investidores entram nesses fundos mirando uma oportunidade de retorno e muitas vezes acabam não analisando quais são as taxas cobradas. “E a verdade é que a rentabilidade final vem descontada desse pedágio – justificado, sem dúvida, pelo trabalho da equipe de gestão, mas que, muitas vezes, pode ser abusivo, especialmente em fundos mono ativo”, afirma.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Com Estadão Conteúdo