Tarifas de Trump: Brasil pode se beneficiar de guerra comercial, avaliam XP e BTG
As tarifas anunciadas por Donald Trump tiveram um efeito inicial menos severo do que o esperado para o Brasil. Veja quais empresas e setores se beneficiam.
As novas tarifas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para a importação de produtos, tiveram um efeito inicial menos severo do que o esperado para o Brasil, segundo economistas da XP Investimentos.

No dia 2 de abril, conhecido como “Dia da Libertação”, o governo americano divulgou que produtos brasileiros enfrentarão uma tarifa base adicional de 10%. No entanto, setores já afetados anteriormente, como alumínio e aço, continuarão sujeitos às alíquotas atuais.
Apesar do anúncio, a reação do mercado no Brasil, inicialmente, foi moderada. No dia, o dólar, por exemplo, encerrou a R$ 5,66, ante R$ 5,70 do discurso de Trump, refletindo um certo alívio. Apenas na sexta-feira (4), com a resposta da China à tarifa de 34% o dólar votou a subir acima de R$ 5,80 e o Ibovespa caiu ao menor nível das últimas semanas, abaixo de 127 mil pontos.
Segundo a XP, é provável que as exportações brasileiras aos Estados Unidos diminuam em termos absolutos, especialmente em segmentos nos quais a produção local americana possa substituir os produtos importados. Ainda assim, o impacto macroeconômico deve ser limitado.
“A magnitude desse processo de substituição dependerá da capacidade de oferta norte-americana, algo que deve ser avaliado produto por produto, segmento por segmento”, destaca o banco.
Tarifas: efeitos indiretos e oportunidades
A XP Investimentos também aponta possíveis efeitos indiretos das tarifas sobre a economia brasileira, especialmente no contexto de uma guerra comercial, com retaliações de outros países.
O Brasil recebeu a menor tarifa, enquanto regiões como Ásia e até União Europeia, entre outras, foram submetidas a tarifas mais altas, o que poderia levar a um desvio de comércio em favor da economia brasileira a longo prazo. Nesse cenário, o Brasil pode se beneficiar ganhando espaço em mercados que buscam alternativas aos produtos americanos.
“Sob uma ótica diferente, se a guerra comercial se intensificar especialmente com a China, alguns setores em que Brasil e EUA competem podem se beneficiar relativamente”, afirmam analistas do BTG Pactual.
Alimentos e agronegócio
Os Estados Unidos se tornaram um destino relevante para a carne bovina brasileira, com 189 mil toneladas exportadas em 2024 — o equivalente a 7% do total exportado. Para o BTG, o impacto sobre os embarques tende a ser limitado por dois fatores: o ciclo de baixa do rebanho bovino americano, que está no menor nível em 70 anos, o que obrigará os EUA a continuarem dependendo de importações para suprir o consumo interno.
Além disso, as exportações brasileiras de carne bovina para os EUA já enfrentam tarifas superiores a 10%, especificamente de 26%. Portanto, o tratamento da cota de isenção tarifária permanece incerto.
“O Brasil pode se beneficiar da demanda de outros países, caso esses adotem medidas de retaliação. A oportunidade é particularmente relevante em mercados asiáticos como China, Japão e Vietnã — sendo os dois últimos mercados que o Brasil busca abrir para exportações de carne bovina ainda este ano. A Minerva (BEEF3) deve emergir como uma das principais beneficiárias nesse processo”, avalia o BTG.
No setor avícola, o cenário é semelhante ao da carne bovina, com oportunidades para os exportadores brasileiros em caso de retaliações, mas com uma preocupação adicional: o possível aumento dos preços internos dos grãos, que impactaria a rentabilidade das empresas do segmento.
Vale lembrar que, nesta sexta-feira (4), a China anunciou retaliações aos EUA com tarifas de 34%, o que pode gerar efeitos indiretos ao Brasil no comércio internacional.
Tarifas Donald Trump: empresas afetadas
Os analistas do BTG ressaltam que, para a Embraer (EMBR3), a tarifa adicional de 10% sobre o Brasil é uma notícia negativa, já que os Estados Unidos são um mercado relevante para a empresa em dois segmentos: aviação executiva e comercial. Ainda assim, o impacto foi mais brando do que o imposto a fabricantes europeus, como Airbus e Dassault.
No caso da Tupy (TUPY3), que também tem uma forte exposição aos EUA, o risco tarifário parece limitado, segundo o BTG. Cerca de 25% das vendas da companhia estão diretamente ligadas ao mercado norte-americano. A empresa exporta tanto a partir do México (11% das vendas totais) quanto do Brasil (12-15%), e esses volumes estão sujeitos às tarifas.
No entanto, a Tupy é a única do seu segmento no mercado americano e seus contratos preveem repasses automáticos. O maior risco, segundo o BTG, seria uma eventual queda na demanda por veículos nos EUA, o que afetaria as montadoras e, indiretamente, a empresa.
Outra companhia que temia ser atingida pelas tarifas de Donald Trump é a WEG (WEGE3), já que uma parcela relevante do que a empresa vende nos EUA é produzida em suas unidades mexicanas, e tarifas mais altas seriam um problema. No entanto, até o momento, o México não foi incluído na lista de países afetados pelas tarifas recíprocas, o que reduz o risco imediato para a operação.